Há pouco mais de uma década, Daniel Kaluuya era um entre muitos rostos desconhecidos que faziam parte do elenco de “Skins”, série britânica que acompanhava um grupo de adolescentes de Bristol. Poderia ser só mais uma série sobre adolescentes, mas “Skins” carregava uma dose de irreverência que causava desconforto. Banalizava comportamentos e vulgarizava muitas atitudes: tornava a adolescência bem real. De “Skins” (sobretudo da primeira geração da série, ou seja, as duas primeiras temporadas) saíram uma série de atores britânicos que ganharam alguma relevância ao longo da última década, como Nicholas Hoult, Joe Dempsie, Dev Patel, Hannah Murray, Freya Mavor e Kaluuya.

Apesar do ator britânico (nascido em 1989) ter começado a dar nas vistas no teatro, “Skins” (2007-2009) foi a sua porta de lançamento. O contexto adolescente era o palco para brilhar. Além disso, a natureza da série permitiu-lhe explorar outro dos seus potenciais, o da escrita, colaborando no argumento de alguns dos episódios da série. Depois de “Skins”, seguiu-se, novamente em televisão, “Psychoville”, e em 2011 participou num dos episódios mais memoráveis de “Black Mirror” (“Fifteen Million Merits”). Era um nome da televisão. Faltava o salto para o cinema.

Em 2015, Denis Villeneuve dava-lhe um papel à sua altura em “Sicario” e dois anos depois a sua cara de pânico ficou registada na memória coletiva graças à sua prestação em “Foge”, de Jordan Peele. Não foi só a sua cara que ficou, mas também uma interpretação à medida de um filme que pretendia quebrar com géneros e abanar com os preconceitos em relação às estruturas e assunções dos filmes de terror. Kaluuya estava à altura do que Jordan Peele pretendia.

Foi um papel que lhe valeu algumas nomeações: Óscar, Globo de Ouro e BAFTA. Todas para Melhor Actor, em todas derrotado. Seguiu em frente, fez parte do elenco de “Black Panther”, entrando assim no magnânimo Universo Cinematográfico da Marvel. Teve uma participação discreta em “Viúvas”, de Steve McQueen. Estava  a guardar-se para outra Pantera Negra.

Em “Judas and the Black Messiah” – que continua sem data de estreia em Portugal nas salas, mas que pode ser visto em serviços de streaming como Apple+ ou o Google Play – interpreta Fred Hampton, o ativista que dirigia os Black Panthers em Chicago, e a sua história de traição. O filme de Shaka King deu a Daniel Kaluuya tudo aquilo que perdeu em 2018, com “Foge”. A sua prestação como Hampton valeu-lhe um Globo de Ouro, um BAFTA e agora um Óscar para Melhor Ator Secundário. Para trás, no mesmo filme, ficou LaKeith Stanfield – também nomeado para um Óscar na mesma categoria –, um dos grandes atores da sua geração. Mas esta noite era de Daniel. Desta vez, ganhou as três estatuetas que perdeu há três anos.

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