O ministro da Defesa moçambicano disse esta segunda-feira que o país tirará “todo o proveito possível” do acordo de cooperação militar assinado com Portugal para os próximos cinco anos, do qual o governante português destacou o investimento na formação.
O ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, e o seu homólogo moçambicano, Jaime Bessa Neto, fizeram esta manhã uma breve declaração à imprensa, que não teve direito a perguntas, após a assinatura do acordo-quadro que estabelece os termos da cooperação militar entre os dois países até 2026, numa cerimónia no Forte de S. Julião da Barra, em Oeiras.
Jaime Bessa Neto manifestou a sua “alegria” com a renovação deste programa-quadro que, acredita, “vai continuar a ajudar Moçambique na componente de formação e outros projetos que foram acrescentados neste novo programa”, sem especificar quais. “Vamos trabalhar no sentido de tirarmos todo o proveito possível, olhando para a situação atual do país”, sublinhou.
Já o ministro da Defesa português manifestou uma “grande satisfação” com a assinatura deste acordo, adiantando que “houve também ocasião para fazer a atualização do programa de cooperação de acordo com aquilo que são os desafios atuais”, tendo sido adicionado “um projeto importante de formação de militares moçambicanos, de forças especiais moçambicanas, em Catembe e Chimoio”.
“O resultado é que o programa-quadro terá uma quadruplicação do número de efetivos portugueses a trabalhar com as suas contrapartes em Moçambique”, vincou, referindo-se ao envio anunciado em fevereiro em entrevista à Lusa de 60 formadores de forças especiais, que irão juntar-se aos 21 já na região.
Gomes Cravinho sublinhou ainda que Portugal e Moçambique “são países irmãos” com uma “cooperação muito próxima no domínio militar há mais de 30 anos”.
É com grande satisfação que assinalamos este momento, coincidindo, aliás, com o dia em que em Catembe se iniciam as atividades de formação de fuzileiros, e é com muita expectativa que antevemos os próximos cinco anos de cooperação entre Portugal e Moçambique”, rematou o ministro português.
Lembrando que Moçambique “está a ser agredido por forças estrangeiras, terrorismo”, Jaime Bessa Neto adiantou que o país contabiliza cerca de duas mil mortes e 800 mil pessoas deslocadas. “É um sofrimento que nós achamos que a comunidade internacional de facto deve abraçar, para poder apoiar os esforços das forças de Defesa e segurança de Moçambique para contermos este mal”, sustentou.
No final de março, em declarações à agência Lusa, Gomes Cravinho revelou que além da formação e treino de forças especiais, fuzileiros e comandos, o programa inclui outras linhas de cooperação militar, nomeadamente as “componentes terra-ar” e informações.
“E acredito também que há muito a ganhar em trabalharmos com drones, que oferecem uma capacidade de recolha de informação que pode ser preciosa. E a nível de informações é outro domínio que vai ser trabalhado”, acrescentou à data o governante português.
A contribuição de Portugal para a formação e capacitação das forças moçambicanas prevê o treino de “sucessivas companhias” das forças armadas, em três a quatro meses, durante três anos, o que representa um “triplicar” do investimento português em projetos de cooperação com aquele país, que existe desde 1988.
Quanto aos locais de trabalho, está previsto que os militares portugueses estarão no sul do país, em Catembe, perto de Maputo, (fuzileiros) e no centro (comandos), disse Cravinho. Em meados de abril seguiram para Moçambique duas equipas-avançadas para prepararem, no terreno, as ações formativas.
Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e 714.000 deslocados, de acordo com o Governo moçambicano. O mais recente ataque ocorreu em 24 de março contra a vila de Palma, provocando dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.
As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás com início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.