A estreia do novo documentário sobre saúde mental que junta Harry e Oprah Winfrey vem com novas afirmações polémicas. No primeiro episódio, citado pela Sky News, Harry acusa a família real britânica de ter negligenciado os Sussex e, em conversa com a conhecida apresentadora norte-americana, revela como se virou para o álcool e para as drogas, já enquanto adulto, para superar a morte da mãe, a princesa Diana.

Na nova entrevista, parte integrante da série documental “The Me You Can’t See” (“O que não vês de mim”, na tradução para português) da Apple TV+, o duque de Sussex detalha essa fase da sua vida: “Eu estava disposto a beber, disposto a consumir drogas, eu estava disposto a fazer as coisas que me faziam sentir menos o que estava a sentir”, diz, recordando que era capaz de beber o equivalente a uma semana num único dia, na sexta ou no sábado à noite. O período entre os 28 e os 32 anos foi “um inferno” e marcado por “ataques de pânico” e por uma “ansiedade severa”, com o príncipe a contar que ficava fora de si de cada vez que entrava num carro ou via uma câmara.

O príncipe afirma que a família não falava da morte de Diana, esperando, ao invés, que ele lidasse sozinho com a atenção mediática e com as consequências na saúde mental daí resultantes. Harry chega a acusar o pai de não lhe ter dado o conforto necessário: “O meu pai costumava dizer-me, quando eu era mais novo, ao William e a mim, ‘Bem, foi assim para mim e vai ser assim para vocês’. Isso não faz sentido. Só porque sofreste não significa que os teus filhos tenham de sofrer — na verdade, muito pelo contrário”.

William e Harry no funeral da mãe, em 1997 (ADAM BUTLER/AFP/Getty Images)

O desaparecimento de Diana quando este era ainda uma criança teve as suas consequências, com o príncipe a garantir que o clique e o flash das câmaras fazem o seu sangue “ferver”. “Deixa-me com raiva e leva-me de volta para o que aconteceu com a minha mãe e para a minha experiência enquanto criança”, continua, para depois recordar o dia do funeral que reuniu a atenção de milhões em todo o mundo. “Era como se eu estivesse fora do meu corpo e apenas a caminhar, a fazer o que era esperado de mim — mostrando um décimo da emoção que toda a gente estava a mostrar.”

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O duque de Sussex comenta ainda como ficou zangado com a morte de Diana, a 31 de agosto de 1997, e pelo facto de nada ter mudado. “As mesmas pessoas que a perseguiram no túnel são as que a fotografaram a morrer no banco de trás daquele carro.”

“Fomos fotografados, perseguidos e assediados”

Na entrevista, Harry também comenta de forma crítica a forma como ele a mulher foram “fotografados, perseguidos e assediados” nos dias seguintes a terem tornado a relação pública. Apesar disso, alega, os Sussex receberam pouco apoio do resto da família à medida que eram atacados nas redes sociais e também nos jornais.

“Senti-me completamente desamparado. Achei que a minha família iria ajudar, mas cada pedido, aviso, fosse o que fosse, era recebido com silêncio total ou abandono total”, comenta. “Passámos quatro anos a tentar que isto funcionasse. Fizemos tudo o que podíamos para ficar lá e continuar a fazer o papel e o trabalho.”

Os duques celebraram três anos de casamento no dia 19 de maio (Chris Jackson/Getty Images)

Os momentos que antecederam a polémica entrevista que os Sussex deram a Oprah Winfrey foram custosos devido ao “esforço conjunto da Firma e dos media para difamar” Meghan, diz Harry, recordando um episódio em particular: “Acordei a meio da noite com ela a chorar contra a almofada porque não me quer acordar, porque estou a carregar muitas coisas. Isto é de partir o coração. Conversámos. Ela chorou, chorou, chorou”.

Na entrevista, Harry volta a referir os pensamos suicidas de Meghan Markle, afirmando que o que a impediu de tomar medidas mais drásticas foi “o quão injusto seria para mim depois de tudo o que aconteceu com a minha mãe (…) perder outra mulher na minha vida, com um bebé dentro dela, o nosso bebé”, disse. O duque comentou ainda que, à data da confissão da mulher, não soube como agir. “Estou um pouco envergonhado pela forma como lidei com eles [com os pensamentos]”, afirmou, desta vez citado pelo Daily Mail.

“Agora estou mais confortável na minha própria pele”

Harry começou a fazer terapia há cerca de quatro anos, depois de ter sido encorajado por Meghan Markle na sequência de uma discussão. “Eu sabia que, se não fizesse terapia e me curasse, perderia aquela mulher com quem podia ver-me a passar o resto da minha vida”, conta.

O duque de Sussex diz que agora se sente mais confortável na sua própria pele e que já não sofre com ataques de pânico. Diz ainda que aprendeu mais sobre si próprio nos últimos quatro anos do que nos 32 anteriores.  E arrependimentos de ter ido para os EUA? Zero. A terapia, assegura, deu-lhe a habilidade de “enfrentar” o quer que seja.