Uma manifestação pelo clima e contra a poluição provocada pelos aviões cortou durante a tarde deste sábado o trânsito na Rotunda do Relógio, perto do Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa. O protesto obrigou à intervenção da PSP e a várias detenções, confirmou o Observador junto do Comando Metropolitano de Lisboa. De acordo com os organizadores do protesto, pelo menos 25 pessoas terão sido detidas.
O protesto começou pelas 16h30 na zona das chegadas do Aeroporto de Lisboa. Os mais de 200 manifestantes, sempre vigiados pela PSP, seguiram depois a pé até à Praça do Aeroporto, conhecida como Rotunda do Relógio. Ali, acabaram por cortar o trânsito.
Diogo Silva, assessor do movimento Climáximo, que convocou a manifestação deste sábado, contou ao Observador que a rotunda foi cortada de forma pacífica em três pontos diferentes, nas entradas para as avenidas de Berlim, Almirante Gago Coutinho e Marechal Gomes da Costa, durante cerca de duas horas, até à intervenção da PSP, “porque a nossa casa está a arder”.
“Temos menos de dez anos para cortar três quartos das emissões nacionais e o plano do Governo é ligar o fogão em vez de apagar o fogo, mantendo a espansão da aviação”, declarou Diogo Silva, pedindo “menos aviões, mais ferrovia e uma transição justa para os trabalhadores”.
Segundo a RTP, os ativistas deitaram-se no chão, amarrados uns aos outros, de forma a impedir a circulação automóvel. As autoridades fizeram vários apelos, que foram ignorados pelos manifestantes, que queriam manter o protesto até às 22h. A PSP então foi obrigada a intervir pelas 18h, retirando à força quem estava a bloquear as vias de acesso à Rotunda do Relógio e fazendo várias detenções.
O Comando Metropolitano de Lisboa da PSP remeteu para mais tarde um balanço sobre a intervenção.
Manifestantes fazem vigília por detidos e prometem nova ação no outono
Segundo as contas do movimento, terão sido detidos cerca de 25 ativistas. Os restantes, perto de 200, deslocaram-se até à esquadra da PSP nos Olivais, onde se encontram os detidos. Pretendem realizar uma vigília até que estes sejam libertados. Já não se encontra qualquer manifestante junto à Rotunda do Relógio. De acordo com a Agência Lusa, o trânsito foi reaberto cerca pelas 19h.
Apesar do elevado número de detidos, Diogo Santos considerou a ação “uma grande vitória”, pela visibilidade e número de participantes. “Correu muito bem. Conseguimos ter 200 pessoas presentes”, apontou, adiantando que está a ser planeada um novo protesto para o outono, em local e data ainda a confirmar.
O movimento Climáximo é “um coletivo ativista pela justiça climática” que tem como palavras de ordem “mais ferrovias, menos aviões”. A ação deste sábado, intitulada “Em Chamas”, foi anunciada no dia 14 de maio, um dia após o grupo ter entregue no Ministério das Infraestruturas e Habitação um conjunto de oito reivindicações que, se fossem aceites “através de compromissos escritos oficiais”, o protesto seria desconvocado.
Num comunicado enviado nesse dia à comunicação social, o movimento explicou que na base das suas reivindicações está a luta “pelo decrescimento rápido da aviação, transição justa para trabalhadores e mais ferrovia”. “Ao mesmo tempo que a ciência e critérios de justiça social nos dizem que Portugal precisa de cortar as suas emissões de gases com efeito de estufa em 74% até 2030, o Governo mostra a sua hipocrisia ao prometer reduzir emissões aumentando-as, através da aviação”, afirmou Beatriz Rodrigues, porta-voz da ação, citada na mesma nota.
Entre as oito exigências feitas ao ministro Pedro Nuno Santos, contam-se “a proibição da construção de novos aeroportos; a garantia de rendimento, emprego e requalificação para o setor de mobilidade sustentável para todas as pessoas do setor da aviação; e um plano de eletrificação total e extensão da ferrovia em Portugal a todas as capitais de distrito nos próximos três anos”.