Aos 76 anos, Fernando Sequeira é considerado um caso de recuperação surpreendente da doença da Covid-19. Passou quase um mês em coma e a seguir sofreu um enfarte, situações que não lhe tiraram a força de querer voltar à vida que tinha antes da doença.

No início de dezembro, Fernando Sequeira não se sentia bem e após fazer o teste ao vírus SARS-CoV-2, o resultado foi positivo. Aparentemente estável, a 21 de dezembro começou a apresentar febre, dirigindo-se ao hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, onde lhe foi diagnosticada uma pneumonia.

Regressou a casa com medicação prescrita, mas como a febre continuava a aumentar, no dia de Natal voltou ao hospital, desta vez sem previsão de saída.

“É uma coisa horrível. Quando fui levá-lo ao hospital, ele entrou e eu nunca mais o vi”, lembrou à agência Lusa a mulher, Maria Manuela Sequeira, sobre esses longos dias em que perdeu o contacto com o marido.

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Casados há 53 anos, Maria contou que, apesar de os médicos a prepararem para o pior, conseguiu manter a esperança em dias melhores.

As interrogações eram muitas, sobretudo não conseguia perceber como é que o marido tinha sido infetado, uma vez que tinham todos os cuidados considerados necessários.

“Com os cuidados todos que ele tinha, até diziam que ele era fundamentalista, não fazemos a mais pequena ideia, não imaginamos como é que foi. O ‘animal’ está escondido atrás da porta”, disse Maria Manuela Sequeira.

Fernando Sequeira esteve 24 dias em coma induzido, período que, hoje, considera não ter existido na sua vida por não ter qualquer memória do que se passou.

Nos primeiros dias de regresso à enfermaria, Fernando passou por um período do qual também não tem memória, seguindo-se um estado de desorientação: “Só soube que tinha estado em coma e que tinha estado muito mal umas duas semanas depois de ter regressado a este mundo”.

“Nos primeiros tempos passei por um período de grande confusão”, recordou.

Para Fernando, o maior choque deu-se quando lhe pediram para se colocar de pé e não conseguiu. Estava debilitado e tinha perdido 25% da massa muscular.

Contudo, a permanência no hospital não estava terminada. No dia em que ia receber alta hospitalar, sofreu um enfarte do miocárdio, tendo que permanecer internado durante mais uma semana.

A 17 de fevereiro de 2021, Fernando Sequeira regressou a casa, e desde então a sua recuperação é considerada “espantosa”.

O fisioterapeuta Pedro Barroso desde janeiro que estava a par do quadro clínico de Fernando, para que pudesse começar a reabilitação assim que lhe fosse atribuída a alta. “O senhor Fernando pesava 60 quilos e tinha perdido cerca de 15, vinha muito fragilizado, fraco e com mobilidade reduzida”, recordou o terapeuta à Lusa.

Após três meses de fisioterapia, a recuperação é “surpreendente”. Ganhou mais de 10 quilos, tem os níveis de oxigénio saudáveis e encontra-se recuperado a 98%, já tendo retomado quase na totalidade as suas rotinas diárias.

Pedro Barroso referiu que o paciente iniciou “os exercícios de fortalecimento muscular sem qualquer tipo de peso e atualmente está a fazer exercícios com pesos de quatro quilos”, exemplificou, para explicar a evolução do paciente num curto espaço de tempo.

Fernando Sequeira relatou ainda que o seu estado era tão frágil que “não era capaz de escrever”.

“Tive de [re]adquirir os movimentos finos da mão, não era capaz de carregar nos botões do telemóvel”, disse.

Atualmente, já consegue fazer todas as suas atividades.

O fisioterapeuta apesar de estar “extremamente contente e orgulhoso” com a rápida recuperação, tem algum receio de possíveis sequelas que até ao momento não foram registadas, e acredita que um dos principais fatores é a sua motivação.

“Normalmente os doentes quando saem destas situações vêm sempre numa fase de negação, desmotivados e pouco colaborantes. O senhor Fernando veio sempre motivado, queria sempre fazer mais e mais, tinha de ser eu a travá-lo”, brincou Pedro Barroso.

Fernando Sequeira crê que o seu estilo de vida saudável e a prática regular de atividade física contribuíram para o sucesso da sua “recuperação espantosa”.