Descomplicar o vestuário, torná-lo mais leve a aplicar padrões de conforto ao guarda-roupa de todos os dias tem sido, de grosso modo, o trabalho desempenhado por Maria Grazia Chiuri ao longo dos cinco anos ao leme da Christian Dior. Com nuances mais ou menos surpreendentes, tem sido esta a sua fórmula de sucesso, sem perder de vista a assinatura de uma das maisons mais carismáticas do mundo.
Na noite da última quinta-feira, inspirada pela forma como o exercício físico se transformou numa poderosa experiência de liberdade durante os dias de confinamento, a criadora italiana levou a coleção cruise 2022 para a Grécia, em particular para um dos locais que viram nascer o desporto e onde os Jogos Olímpicos foram retomados em 1896 — o Estádio Panatenaico, em Atenas.
Este colosso em mármore, originalmente erguido em 566 a.C., ofereceu 185 metros de passerelle, uma maratona a que o mundo assistiu à distância, consequência das ainda apertadas restrições a viagens e deslocações. Reduzida, a primeira fila reuniu apenas imprensa local e alguns convidados especiais, entre eles a atriz Anya Taylor-Joy.
Fatos brancos, vestidos de influência helénica, detalhes importados do activewear, apropriações de silhuetas de fitness e running e ainda clássicos Dior reinterpretados à luz de um conforto só possível em vestuário com um toque desportivo. Chiuri não deixou de lado representações iconográficas da Grécia Antiga, nem os peitilhos rígidos em couro, a fazer lembrar as modalidades de combate de outros tempos.
Em solo grego, a diretora criativa da maison trabalhou em colaboração com costureiros de artesãos, um hábito que tem cultivado, sobretudo nas coleções cruise, onde inspiração e cenário levam a Dior a explorar outras paragens e culturas. Os bordados de Aristeidis Tzonevraki, as leggings e calções em seda confecionadas pela fábrica Silk Line e os bonés do Atelier Tsalavoutas foram os pontos altos do trabalho desenvolvido a quatro mãos.
Sob o céu noturno de Atenas, o desfile desenrolou-se com impacto, ao som da eletrónica mística de Ioanna Gika, artista americana de ascendência grega, acompanhada por uma orquestra naquele cenário privilegiado. No final, o fogo-de-artifício confirmou o clímax — qual equipa olímpica, as 90 manequins percorreram a pista sem pressa de cruzar a meta.
Numa altura em que grandes marcas moderam o investimento em eventos espetaculares para apresentarem as suas coleções cruise, a Dior inscreveu mais uma estação no seu best of de momentos (e cenários) épicos. No início de maio, a Chanel foi até uma pedreira, Sul de França, para desfilar numa envolvente imponente e minimal. Já a Louis Vuitton ficou-se, esta semana, pelos arredores de Paris, com a instalação “Axe Majeur”, do israelita Dani Karavan (uma espécie de passadiço, colorido de um vermelho intenso), a servir de passerelle.
Outro dos momentos mais aguardados deste mês chega já no dia 28, com o regresso de Marc Jacobs à passerelle, depois de duas estações sem apresentar coleção em desfile.
Na fotogaleria, veja as imagens do desfile da Christian Dior em Atenas.