Título: Grand Hotel Europa
Autor: Ilja Leonard Pfeijffer
Editora: Livros do Brasil

Chega-nos agora a Portugal, pela mão da Livros do Brasil, um grande romance de Ilja Leonard Pfeijffer. O autor holandês apresenta uma obra de grande envergadura onde, para além de tecer uma ação coesa entre as personagens, vai além do umbigo e questiona a identidade europeia. No cerne da ação, há um escritor que se aloja no Grand Hotel Europa, um misto entre luxuoso e decadente. Perante a visão dos seus destroços, também ele traz destroços, com o luto pela sua relação com Clio, com quem viveu uma história de amor no coração da Europa ao mesmo tempo que empreendia uma busca pela última pintura de Caravaggio. A partir daí, nascem as reflexões sobre o continente, assim como as apresentações dos países como coisas vivas, quase gente. Desolado pela perda de Clio, refugia-se na memória e deixa-se seduzir pelo charme do hotel, contemplando em simultâneo uma coisa acabada e uma que já não refulge.

O ponto alto do romance serão as visões inteligentes e mundividentes que extrapolam o mundinho das bolas individuais, fruto da capacidade rara de Pfeijffer de apanhar o zeitgeist. Para mais, focar-se no desenvolvimento dos países, ao invés de unicamente nas relações interpessoais, usando os cenários físicos como pano de fundo, permitiu-lhe dar outra camada ao romance, mostrando o peso da história e das heranças culturais. Assim, mais do que sobre um hotel ou um homem, Grand Hotel Europa é sobre o continente europeu.

Para além disso, a personagem principal estabelece um paralelismo entre o seu íntimo e a evolução da Europa. Se o amor da sua vida vive no passado, o melhor tempo já passou. Da mesma forma, parece-lhe que a Europa pouco mais pode esperar para o seu futuro do que viver no passado. No mesmo sentido, também o seu fascínio por quem vive no hotel parece advir da ideia de terem vindo de um passado auspicioso, de parecerem vir e ser de um tempo mais elegante.

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Quando há tanta história, e quando essa história parece tão completa e totalizante, o futuro transforma-se numa coisa à espera, e numa forma de estender o tempo para relembrar o que já houve. Se é certo que poderá ser teatral, a verdade é que a forma como Pfeijffer mostra a Europa já inclui um tom nostálgico e uma valorização das raízes, ao invés da ambição de fazer crescer uma floresta nova. Assim, o ponto principal da identidade dessa Europa será a nostalgia.

Por sua vez, também o hotel, ainda com as marcas da sua opulência, aparece como entidade viva com a marca das transformações do tempo. Também ali o luxo se transformou em decadência, também ali se vive à sombra do passado – e este existe para maquilhar o presente através de uma abordagem nostálgica e da devoção ao património.

O autor alcança, assim, um romance múltiplo, já que não se cinge a um só registo, que impressiona, informa e atrai, interligando histórias de forma aparentemente natural, usando todos os meios ao alcance de um escritor para prender o leitor.