O polo História, Territórios e Comunidades, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH), da Universidade Nova, vai “inventariar e estudar as coleções patrimoniais e a documentação histórica” do Teatro Nacional de São Carlos, anunciaram esta segunda-feira as instituições envolvidas.
O projeto a três anos prevê ainda a recolha de “testemunhos e memórias” do teatro lírico português, pelos investigadores daquele polo do Centro de Ecologia Funcional — Ciência para as Pessoas e o Planeta, da FCSH, de acordo com um protocolo assinado entre este departamento da Universidade Nova de Lisboa e o Organismo de Produção Artística (Opart), que gere o Teatro Nacional de São Carlos (TNSC), o seu coro, assim como a Orquestra Sinfónica Portuguesa.
“O TNSC é detentor de um património histórico verdadeiramente único e de relevo internacional”, sublinha a coordenadora do programa e historiadora Fernanda Rollo, citada pelo comunicado conjunto do Opart e da Nova FSCH.
No património do teatro, sublinha a investigadora, “destaca-se uma coleção excecional de cerca de 5.000 peças de guarda-roupa, figurinos e adereços, a que se acrescenta o acervo documental e fotográfico e outros objetos de inequívoca relevância que importa organizar, valorizar e dar a conhecer”.
Para a presidente do conselho de administração do Opart, Conceição Amaral, “a inventariação e estudo dos acervos patrimoniais do teatro, únicos no país, é uma prioridade estratégica para a salvaguarda e valorização da [sua] história (…) enquanto repositório de memórias, de saberes e de cruzamentos artísticos em Portugal”, para mais, no “âmbito da missão de serviço público” deste organismo.
“Permitir o acesso à investigação e dar a conhecer o espólio [do TNSC], é uma premissa maior deste trabalho que agora se inicia”, e vai envolver investigadores deste polo da FCSH e os técnicos e departamentos do teatro, acrescente a presidente do Opart, também citada pelo comunicado conjunto.
O protocolo tem a duração de três anos e prevê a divulgação da história do TNSC em conteúdos digitais e ‘online’ “na forma de resumos históricos, biografias dos protagonistas, catalogação dos espetáculos e objetos”, entre outros formatos.
“Mais tarde vão também desenvolver-se conferências sobre a história do TNSC”, centradas no seu património histórico.
As duas instituições consideram que identificar, preservar e valorizar a história e o património do TNSC, envolvendo os protagonistas que lhe estão associados, em particular os próprios artistas, é “um ato de responsabilidade cívica, cultural e patrimonial perante o público e a sociedade em geral, refletindo-se na compreensão da relevância do São Carlos e da sua atividade cultural em Portugal”, conclui o comunicado.
Inaugurado em 30 de julho de 1793, com uma récita de “La Ballerina Amante”, de Domenico Cimarosa, o TNSC resulta de um projeto do arquiteto José da Costa e Silva, inspirados nas linhas neoclássicas e de inspiração seiscentista italiana, nomeadamente no Teatro di San Carlo, de Nápoles, e no Scalla de Milão.
Concebido como teatro de corte, seduziu uma Lisboa burguesa, e revelou-se o primeiro exclusivamente vocacionado para a produção e apresentação de ópera e de música coral e sinfónica, no país. Passados mais de dois séculos, assim permanece.
Além do projeto, da conceção do edifício, da sala, da sua acústica, dos camarotes, dos bastidores, do salão nobre, da entrada e da sua ‘loggia’, destacam-se ainda peças de arte presentes na decoração, assinadas por artistas como Cirilo Wolkmar Machado, que concebeu o teto do vestíbulo e o pano da boca de cena, Manuel da Costa, o salão, e Giovanni Appianni, autor do camarote real.
Com 227 anos de atividade e um número de produções operáticas, musicais, teatro musicais e de dança, na casa dos milhares, o TNSC acolheu toda a história da ópera, da sua emergência, no barroco, à produção contemporânea, os seus compositores, regentes, encenadores, assim como alguns dos melhores e mais lendários intérpretes, do final do século XVIII, à atualidade.
Nos últimos 60 anos, atuaram no TNSC cantores como Mario del Monaco, Renata Tebaldi, Carlo Bergonzi, Birgit Nilsson, Renata Scotto, Theresa Stich-Randall, Nicolai Gedda, Monserrat Caballé, Renata Scotto, Mara Zampieri.
Em 1958, Maria Callas e o tenor Alfredo Kraus protagonizaram “La Traviata”, de Verdi, que se mantém entre as interpretações de referência do repertório operático.
Em 1975, o TNSC abriu-se pela primeira vez ao jazz, para um concerto do pianista Bill Evans, com o contrabaixista Eddie Gomez.
Em 2011, foi criado, na estrutura do teatro, o Centro Histórico do TNSC, para “identificação, inventariação, classificação de todo o património acumulado”, como partituras, cenários, trajes de cena, adereços, instrumentos musicais e mobiliário.
O projeto previa igualmente a eventual localização de elementos de interesse para a sua história.