O secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Mário Nogueira, acusou esta sexta-feira o Governo de estar a cometer uma ilegalidade por lançar um despacho sem negociar com os sindicatos e de estar a reter ainda mais professores na carreira.

“Aquilo que o Ministério da Educação está a fazer é a impedir os professores de terem uma carreira como aquela que a lei estabelece. É ilegal, porque tratando-se de matéria de progressão na carreira, a lei geral do trabalho em funções públicas estabelece que se trata de objeto de negociação coletiva. O Ministério publicou esta sexta-feira o despacho sem apresentar um projeto, sem ter havido qualquer reunião negocial. Iremos contestar isso e veremos até se não o faremos em tribunal”, afirmou à Lusa Mário Nogueira.

O dirigente prestou estas declarações no decorrer de uma a ação de denúncia dos professores contra o bloqueio negocial, no Rossio, em Lisboa.  Mais de 11.500 professores vão passar para o 5.º e 7.º escalões, o que significa que as vagas para progredir na carreira quase duplicaram no último ano, anunciou esta sexta-feira o Ministério da Educação.

O despacho que fixa o número de vagas para chegar aos 5.º e 7.º escalões da carreira docente foi publicado esta sexta-feira em Diário da República, um procedimento que acontece anualmente uma vez que a carreira docente tem 10 escalões, mas apenas os professores com avaliações de Muito Bom ou Excelente acedem automaticamente àqueles dois escalões.

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Os restantes professores ficam sujeitos ao contingente decidido anualmente pelo Governo. Assim, segundo o despacho, este ano, vão progredir cerca 6.700 docentes para o 5.º escalão e mais de 4.800 docentes para o 7.º escalão. Dados que a Fenprof refuta, defendendo que mais professores vão ficar impedidos de progredir na carreira.

“O despacho tem 2.100 vagas para progredir ao 5.º escalão e 1.442 para progredir ao 7.º escalão. Isso significa, a manterem-se as percentagens de anos anteriores, que há outros 2.100 a ficarem retidos no 4.º escalão e mais 2.884 a ficarem retidos no 6.º escalão. De 3.100 professores impedidos de progredir vamos passar a ter mais de cinco mil retidos no 4.º e 6.º escalões”, defendeu.

Para a Fenprof, mais do que uma “injustiça” é uma “vergonha” que o Ministério da Educação se venha “auto elogiar” de progredir mais professores do que no ano anterior quando está a impedir quem reúne todos os requisitos de progredir na carreira, sublinhou Mário Nogueira, desta vez na sua intervenção em palco.

O professor João Pereira participou na ação de luta vestido com uma ‘t-shirt’ onde se podia ler “precário desde 2002”, e disse à Lusa que o sentimento geral dos professores é de revolta, porque o “Ministério da Educação continua a usar e a abusar de milhares de professores contratados todos os anos”.

“Todos os anos nós [professores] somos necessários e basta vermos que as escolas fazem milhares de contratações para necessidades permanentes, mas mesmo assim não nos dão um vínculo estável – porque fica muito mais económico, um professor contratado só recebe consoante as horas letivas que tem no horário e é sempre pelo índice mais baixo, recebe muito menos do que um professor que já esteja na carreira. É uma instabilidade muito grande”, observou.

Já a professora Ana Leite entende que os alunos que não podem pagar a escola privada também têm sido prejudicados, porque a educação pública, “na maior parte dos casos, é de má qualidade“.

A concentração, em formato de “Feira dos problemas com soluções bloqueadas” -, onde foram expostos adereços referentes aos problemas dos professores —, serviu para apelar uma vez mais ao desbloqueio negocial com o governo, de forma a encontrar soluções para os problemas da carreira docente: o envelhecimento, a precariedade, concursos e condições de trabalho.

Os professores cantaram e proclamaram em quadras populares, ouvindo-se as principais palavras de ordem: “Se o Brandão não negoceia, há que pô-lo a marcar”.