O porta-contentores “Ever Given”, que bloqueou o canal do Suez em março, levantou na quarta-feira âncora após 100 dias de imobilização no Egito e da assinatura do acordo de indemnização pelo proprietário japonês do navio às autoridades egípcias.
O canal do Suez, ponto de passagem de cerca de 10% do comércio mundial, segundo especialistas, ficou bloqueado durante seis dias em março, causando uma grave interrupção no tráfego marítimo.
O navio gigante, com capacidade para 200.000 toneladas, começou a deslocar-se para norte, em direção ao Mediterrâneo, pouco depois das 11h30 locais (10h30 em Lisboa) e após longas negociações sobre as indemnizações.
Numa cerimónia nas margens do canal, a Autoridade do Canal do Suez (SCA, na sigla em inglês) assinou um acordo de compensação com o proprietário japonês do navio, Shoei Kisen Kaisha, cujos termos foram mantidos em sigilo. O advogado da SCA, Khaled Abou Bakr, insistiu num discurso pouco antes da assinatura sobre a “confidencialidade” do acordo.
No domingo, o presidente da SCA, Osama Rabie, indicou em entrevista televisiva que o Egito receberia, além da compensação financeira, um rebocador com uma capacidade de 75 toneladas do dono do “Ever Given”.
O país reivindicou inicialmente 916 milhões de dólares (cerca de 767 milhões de euros), antes de reanalisar as reivindicações para 600 e depois para 550 milhões de dólares (cerca de 420 milhões de euros).
Em conferência de imprensa realizada na quarta-feira, Rabie disse que a “dificuldade das negociações foi conciliar posições porque cada parte manteve a sua posição de início”. Anteriormente, Rabie tinha anunciado “ao mundo” a conclusão do acordo, com a bandeira egípcia e a japonesa como pano de fundo, ao vivo na televisão egípcia, considerando o incidente do “Ever Given” um “teste difícil” para o Egito “perante o olhar de todo o mundo”.
As imagens deste navio, um dos maiores do mundo, parado durante quase uma semana naquela crucial rota marítima, em março, tiveram um grande impacto nas redes sociais e meios de comunicação de todo o mundo.
O acordo de compensação foi anunciado no domingo pelas autoridades egípcias, abrindo caminho para a saída do navio. O tribunal económico de Ismailia pôs fim à apreensão protetora do navio na terça-feira.
O navio gigante, com bandeira do Panamá e operado pela empresa taiwanesa Evergreen Marine Corporation, ficou atravessado no canal, no dia 23 de março, bloqueando todo o tráfego. As operações de limpeza, que duraram seis dias, envolveram mais de dez rebocadores, além de dragas para cavar o fundo do canal.
O “Ever Given” foi então direcionado para o grande lago Amer, no centro do canal, pelas autoridades egípcias que exigiram uma indemnização do proprietário do navio, pela perda de receitas durante o incidente, o custo de resgate e os danos no canal.
De acordo com a SCA, o Egito perdeu entre 10 a 12,6 milhões de euros por dia. Além disso, um funcionário da SCA morreu durante as operações de reflutuação do navio e o revestimento da costa foi danificado.
Um total de 422 navios carregados com 26 milhões de toneladas de carga ficaram bloqueados. De acordo com a seguradora Allianz, as perdas atingiram 5.000 a 8.4000 milhões de euros para o comércio marítimo global.
Um acordo “inicial” de indemnização foi anunciado no final de junho entre o Egito e o dono do navio, sem que o valor fosse especificado.
O canal do Suez é uma das principais fontes de receita do país, já que entre 2019 e 2020 rendeu aos cofres do Estado cerca de 4.800 milhões de euros. Quase 19.000 navios usaram o canal em 2020, de acordo com a SCA, uma média de 51,5 navios por dia.
Após o bloqueio, o Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, prometeu que o país iria adquirir equipamentos mais adequados para enfrentar situações semelhantes.