Enviado especial do Observador, em Tóquio
Meias azuis claras para cima, chinelos, um corpo que parece franzino mas que necessita de constante descanso perante as cargas de trabalho adensadas pelo ano olímpico. Na antevisão da prova de -58kg de taekwondo, Rui Bragança mostrava-se confiante, relaxado e sobretudo motivado para conseguir melhorar o nono lugar atingido no Rio de Janeiro em 2016, fechando uma espécie de trilogia neste ciclo olímpico onde acabou o seu curso de Medicina e foi pai. No entanto, a árvore das medalhas voltou a ficar adiado este sábado em Tóquio, depois de até a possibilidade de seguir ainda para as repescagens ter caído por terra no início da competição.
“Ninguém treina uma vida inteira para ficar no nono lugar. Vou tentar estar o mais relaxado possível, com um sorriso na cara e, com isso, procurar um dia perfeito. Diferenças? Há algumas, o Júlio tem de ficar fora da vila… Mas pode ser também uma motivação extra. Pressão? Zero. Estamos no melhor palco do mundo a fazer aquilo que mais gostamos, não há ninguém que queira ganhar mais do que nós”, apontara na quarta-feira.
No entanto, tudo acabou por correr da pior forma para o atleta nacional, que perdeu logo na ronda inaugural com o espanhol Adrian Vicente Yunta por 24-9, num combate no Makuhari Messe Hall A que teve apenas alguma história no primeiro round quando a desvantagem era apenas de 4-2. Desta forma, o vimaranense de 29 anos ficou afastado daquela que era a sua grande ambição, desta vez sem contar com o grande apoio dos amigos no Rio de Janeiro que ao começarem a puxar por Portugal colocaram depois todo o pavilhão a seguir Rui Bragança.
Fica assim a experiência dos segundos Jogos, com uma organização que fez questão de destacar nos últimos dias. “Se alguém conseguiria preparar um evento destes era o Japão. Tudo é preparado ao pormenor, fizemos a viagem para Kaga de forma completamente isolada, com duas filas de intervalo, casa de banho só para nós e o guia mais à ponta, tudo controlado e desinfetado, as divisões entre os ringues. E isto é apenas uma amostra de que, com esforço e dedicação, tudo é possível”, disse. É verdade. Mas para o próprio não chegou para já.