Enviado especial do Observador, em Tóquio

Não são muitos. Talvez uns 15, não mais do que 20. A maioria agarra em cartazes, com um grande logo em primeiro plano que diz “Olympics kill the poor” [“Os Jogos matam os pobres”]. Os polícias, com o registo já habitual de absoluta tranquilidade, são tantos ou mais não pelas pessoas que têm em frente mas porque não querem que os acessos da entrada fiquem congestionados. Desde que tudo funcione normalmente, passam ao lado do que é gritado pela pessoa do microfone (que vai rodando, sempre com uma garrafa de spray para ir desinfetando). Que, verdade seja dito, é mais uma crítica interna do que para aqueles que passam com uma credencial ao peito e vão parando para perceber o que se passa sem o mínimo de confusão à mistura.

Os Jogos de Tóquio, marcados de forma inevitável por tudo aquilo que mudou com a pandemia, não mais serão esquecidos. Das quarentenas às obrigatoriedades de testes, das limitações nas zonas mistas a toda uma necessidade logística de marcar os locais para o dia seguinte, dos transportes exclusivos às demais regras que nem o bom senso conseguia contornar, são Jogos que não mais se vão repetir mas que para se realizarem foram abrir brechas numa sociedade preocupada com o escalar dos números da Covid-19 (mesmo que todos os testes realizados na bolha olímpica registem um número diminuto de positivos), com a economia que não teve o retorno esperado, com as desigualdades sociais e com uma fatura que vai ficar por pagar.

No entanto, e mesmo neste contexto que fez com que muitos atletas chegassem mais tarde do que é normal (ou mais cedo mas não para a Aldeia Olímpica, ficando em estágios no Japão) e tivessem de partir quase de imediato após as provas, Portugal não esquecerá os Jogos de Tóquio. Pelo menos até novo feito histórico.

Com a medalha de ouro de Pedro Pablo Pichardo, a Missão conseguiu dar o salto para um triplo registo que nunca tinha atingido. Por um lado, Portugal assegurou o seu quinto campeão olímpico, sempre no atletismo, e o segundo consecutivo no triplo salto depois de Nelson Évora em 2008 (Pequim), uma disciplina técnica que cresceu muito e que sucedeu ao fundo com Carlos Lopes (maratona de Los Angeles em 1984), Rosa Mota (maratona de Seul em 1988) e Fernanda Ribeiro (10.000 metros de Atlanta em 1996).

Em paralelo, e pela primeira vez na história, Portugal conseguiu somar quatro medalhas numa edição dos Jogos, superando os três pódios de Los Angeles em 1984 (ouro de Carlos Lopes na maratona, bronze de Rosa Mota na maratona, bronze de António Leitão nos 5.000 metros) e de Sidney em 2000 (prata de Francis Obikwelu nos 100 metros, prata de Sérgio Paulinho na prova de estrada de ciclismo e bronze de Rui Silva nos 1.500 metros). Em Tóquio, além do ouro de Pichardo, Patrícia Mamona ganhou a prata no triplo salto, Fernando Pimenta o bronze em K1 1.000 na canoagem e Jorge Fonseca o bronze em -100kg no judo.

Por fim, e num registo que já tinha sido batido, Portugal conseguiu ganhar medalhas em três modalidades diferentes (atletismo, canoagem e judo), superando outras edições com pódios em duas como em 1976 (tiro e atletismo), em 1996 (atletismo e vela), em 2000 (atletismo e judo), em 2004 (atletismo e ciclismo) e em 2008 (atletismo e triatlo). Houve um outro registo a assinalar, neste caso individual, com Fernando Pimenta a tornar-se o quinto português a ganhar mais do que uma medalhas nos Jogos, juntando-se a um grupo que tinha Luís Mena e Silva (hipismo, 1936 e 1948), Carlos Lopes (atletismo, 1976 e 1984), Rosa Mota (atletismo, 1984 e 1988) e Fernanda Ribeiro (atletismo, 1996 e 2000).

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