O bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários, Jorge Cid, reafirmou esta quinta-feira a necessidade de ser feito um levantamento nacional dos animais abandonados. Em entrevista à Lusa, no âmbito do Dia Mundial do Cão que se assinala esta quinta-feira, o bastonário reforçou a necessidade de serem tomadas medidas e acabar com os abandonos.

Neste momento, nem a Ordem [dos Médicos Veterinários] nem o Governo sabe quantos animais abandonados existem em Portugal. O que não se consegue medir, não se consegue gerir. Se houver vontade política eu diria que em cinco anos esta problemática é residual”, considerou.

O bastonário explicou que já foram entregues propostas ao Governo para acabar com o abandono, mas “não se tem feito nada”. Sendo “o bem-estar animal uma ciência, as medidas [de combate ao abandono] têm de ser implementadas por técnicos e não por curiosos com boa vontade”, referiu.

“Até lá tem de se fazer um esforço na melhoria e no aumento dos alojamentos, nas campanhas de adoção, mas se não formos ao cerne da questão [o não abandono], nunca mais isto se resolve. Pode melhorar, mas continua a ser uma brutalidade”, acrescentou.

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Além de não existirem dados, também não há registo dos canis ilegais, que na opinião do bastonário dos veterinários, apesar de não terem condições para os animais, “resolvem o problema de muita gente, um problema que, por lei, devia ser resolvido pelo Estado”.

Quanto à criação do provedor animal, aprovado a 25 de março de 2021, o bastonário diz-se expectante e mostra-se cético: “A figura poderá ter interesse se lhe derem poder, capacidade para resolução de problemas, e se juntar pessoas com capacidade. Se for mais um cargo só para dizer que existe não servirá de nada”.

Os dados referentes ao abandono de animais durante o confinamento e as férias de verão de 2021 ainda não são conhecidos e geralmente são obtidos no final do ano, mas o responsável admitiu que “o panorama nacional não tem sido muito animador. Continua a haver muitos animais abandonados, centros de recolha completamente cheios e as adoções não acompanham o ritmo dos abandonos”, adiantou.

Questionado sobre as adoções na pandemia, o bastonário sublinhou que foi um “período positivo em dois aspetos: Registaram-se mais adoções e as pessoas, como tinham mais tempo, acompanharam muito mais os animais, nomeadamente os cães”.

Contudo, o bastonário teme agora “o reverso da medalha”, um novo aumento dos abandonos por parte das pessoas que adotaram animais na pandemia.

Jorge Cid prevê que o número de animais abandonados não esteja “abaixo dos 30 mil”, número ao qual se acrescenta as situações não registadas pelos centros de recolha oficiais, as Câmaras Municipais.

Sinalizando o Dia Mundial do Cão, Jorge Cid considerou ser importante lembrar a população que tem de pensar bem no compromisso e responsabilidade que é ter a seu cargo um animal antes de o adotar.