Vários soldados da Guiné-Conacri detiveram o Presidente do país, Alpha Condé, e dizem ter dissolvido o governo e a Constituição. Mas perante as imagens que foram divulgadas de Condé rodeado pelos militares que o terão capturado, cresce a pressão internacional sobre os golpistas: o secretário-geral da ONU, António Guterres, já apelou à “libertação imediata” do ainda Presidente da Guiné-Conacri.

Liderados pelo coronel Mamadi Doumbouya, os militares assumiram, durante a tarde, o controlo da televisão estatal do país e declararam que o governo do Presidente Alpha Condé foi dissolvido e que as fronteiras do país estão fechadas. Segundo a Associated Press, Doumbouya apresentou-se com uma bandeira do país, ladeado por meia dúzia de soldados, e declarou que “o dever de um soldado é salvar o país”, mas não disse qual o paradeiro de Alpha Condé, de 83 anos.

Não vamos mais confiar a política a um homem, vamos confiá-la ao povo”, acrescentou o coronel, frisando que a Constituição seria dissolvida e que as fronteiras estarão fechadas durante uma semana. Doumbouya criticou a falta de desenvolvimento económico do país. “Se virem o estado das nossas estradas, dos nossos hospitais, percebem que, depois de 72 anos, é hora de acordar.”

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Mais tarde, à estação televisiva France 24, o líder da tentativa de golpe de Estado garantiu que Condé está num “lugar seguro” e que já foi visto por um médico. As forças especiais anunciaram ainda um recolher obrigatório “até nova ordem”.

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Antes, as forças especiais da Guiné-Conacri já tinham afirmado, este domingo, ter capturado o Presidente Alpha Condé e “dissolvido” as instituições, num vídeo enviado à AFP. “Decidimos, depois de retirar o Presidente, que atualmente está connosco (…), dissolver a Constituição em vigor e dissolver as instituições; decidimos também dissolver o Governo e fechar as fronteiras terrestres e aéreas”, disse um dos membros do grupo envolvido num alegado golpe de Estado e que se apresentou de uniforme e armado numa declaração divulgada nas redes sociais, mas não transmitida pela televisão nacional.

Os golpistas, que confirmaram à AFP a origem do vídeo, divulgaram imagens do Presidente, nas quais lhe perguntam se foi maltratado, tendo Alpha Condé, vestido com calças de ganga e camisa e sentado num sofá, recusado responder.

Por seu lado, o Ministério da Defesa afirmou, num comunicado divulgado antes da declaração televisiva dos golpistas, que “os insurgentes (tinham) semeado o medo” em Conacri antes de tomarem o palácio presidencial, mas que “a guarda presidencial, apoiada pelas forças de defesa e segurança leais e republicanas, conteve a ameaça e repeliu o grupo de atacantes”.

ONU apela à “libertação imediata” de Alpha Condé

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, condena a alegada tentativa de golpe de Estado e apela à “libertação imediata” do Presidente Alpha Condé. No Twitter, Guterres garante ainda estar a acompanhar a situação no país “de muito perto”. “Condeno veementemente qualquer tomada do governo pela força das armas e apelo à libertação imediata do Presidente Alpha Conde“, afirmou.

Na manhã deste domingo foram ouvidos tiros de armas automáticas no centro de Conacri, capital da Guiné-Conacri, e muitos soldados eram visíveis nas ruas, segundo relataram várias testemunhas à agência AFP.

Nenhuma explicação foi inicialmente disponibilizada sobre as razões para esta tensão na península de Kaloum, no centro de Conacri, onde estão localizadas a presidência, as instituições e os escritórios comerciais.

No entanto, moradores em Kaloum, contactados por telefone, relataram um tiroteio prolongado e disseram ter visto muitos soldados a ordenar às pessoas que voltassem para as suas casas e que não saíssem à rua. Um diplomata ocidental adiantou à agência de notícias francesa AFP considerar “sem qualquer dúvida” que estava em curso uma tentativa de golpe, liderada por forças especiais guineenses.

A oposição tem feito circular, nas redes sociais, vídeos em que afirma que os tiros foram disparados por moradores e que os fortes tiroteios ressoam nas ruas.

Guiné-Bissau reforça segurança na linha da fronteira leste e sul com a Guiné-Conacri

A Guiné-Bissau reforçou as medidas de segurança na fronteira leste e sul com a Guiné-Conacri, depois de forças especiais daquele país terem afirmado que capturaram o Presidente, disseram este domingo à Lusa fontes militares.

Os batalhões dos aquartelamentos de Gabu (leste), de Quebo e Buba (no sul) receberam ordens do Estado-Maior das Forças Armadas no sentido de reforçarem as medidas de segurança nos postos de fronteira com a Guiné-Conacri.

Fontes do Governo disseram à agência Lusa que Bissau “está a acompanhar o evoluir da situação” na Guiné-Conacri.