Vários soldados da Guiné-Conacri detiveram o Presidente do país, Alpha Condé, e dizem ter dissolvido o governo e a Constituição. Mas perante as imagens que foram divulgadas de Condé rodeado pelos militares que o terão capturado, cresce a pressão internacional sobre os golpistas: o secretário-geral da ONU, António Guterres, já apelou à “libertação imediata” do ainda Presidente da Guiné-Conacri.
Liderados pelo coronel Mamadi Doumbouya, os militares assumiram, durante a tarde, o controlo da televisão estatal do país e declararam que o governo do Presidente Alpha Condé foi dissolvido e que as fronteiras do país estão fechadas. Segundo a Associated Press, Doumbouya apresentou-se com uma bandeira do país, ladeado por meia dúzia de soldados, e declarou que “o dever de um soldado é salvar o país”, mas não disse qual o paradeiro de Alpha Condé, de 83 anos.
La "maladie du 3ème mandat" a fait une victime de plus, le mandat de trop pour Alpha Condé, président de la Guinée après avoir été opposant politique toute sa vie. Des photos trop de fois vues en Afrique: un chef d'État arrêté et des putschistes qui promettent que tout ira bien. pic.twitter.com/8AG9Nqt4Ft
— pierre haski (@pierrehaski) September 5, 2021
“Não vamos mais confiar a política a um homem, vamos confiá-la ao povo”, acrescentou o coronel, frisando que a Constituição seria dissolvida e que as fronteiras estarão fechadas durante uma semana. Doumbouya criticou a falta de desenvolvimento económico do país. “Se virem o estado das nossas estradas, dos nossos hospitais, percebem que, depois de 72 anos, é hora de acordar.”
Mais tarde, à estação televisiva France 24, o líder da tentativa de golpe de Estado garantiu que Condé está num “lugar seguro” e que já foi visto por um médico. As forças especiais anunciaram ainda um recolher obrigatório “até nova ordem”.
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Antes, as forças especiais da Guiné-Conacri já tinham afirmado, este domingo, ter capturado o Presidente Alpha Condé e “dissolvido” as instituições, num vídeo enviado à AFP. “Decidimos, depois de retirar o Presidente, que atualmente está connosco (…), dissolver a Constituição em vigor e dissolver as instituições; decidimos também dissolver o Governo e fechar as fronteiras terrestres e aéreas”, disse um dos membros do grupo envolvido num alegado golpe de Estado e que se apresentou de uniforme e armado numa declaração divulgada nas redes sociais, mas não transmitida pela televisão nacional.
Os golpistas, que confirmaram à AFP a origem do vídeo, divulgaram imagens do Presidente, nas quais lhe perguntam se foi maltratado, tendo Alpha Condé, vestido com calças de ganga e camisa e sentado num sofá, recusado responder.
The President of Guinea, Alpha Condé has been arrested by his military.
A coup is underway in Guinea as you read this & the President has been taken away from the Palace.
Special forces that rebelled against him went to arrest him st the Presidential Palace.#RegisterToVote2023 pic.twitter.com/hZ3jiwn1jL
— Hopewell Chin’ono (@daddyhope) September 5, 2021
Por seu lado, o Ministério da Defesa afirmou, num comunicado divulgado antes da declaração televisiva dos golpistas, que “os insurgentes (tinham) semeado o medo” em Conacri antes de tomarem o palácio presidencial, mas que “a guarda presidencial, apoiada pelas forças de defesa e segurança leais e republicanas, conteve a ameaça e repeliu o grupo de atacantes”.
ONU apela à “libertação imediata” de Alpha Condé
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, condena a alegada tentativa de golpe de Estado e apela à “libertação imediata” do Presidente Alpha Condé. No Twitter, Guterres garante ainda estar a acompanhar a situação no país “de muito perto”. “Condeno veementemente qualquer tomada do governo pela força das armas e apelo à libertação imediata do Presidente Alpha Conde“, afirmou.
I am personally following the situation in Guinea very closely. I strongly condemn any takeover of the government by force of the gun and call for the immediate release of President Alpha Conde.
— António Guterres (@antonioguterres) September 5, 2021
Na manhã deste domingo foram ouvidos tiros de armas automáticas no centro de Conacri, capital da Guiné-Conacri, e muitos soldados eram visíveis nas ruas, segundo relataram várias testemunhas à agência AFP.
Nenhuma explicação foi inicialmente disponibilizada sobre as razões para esta tensão na península de Kaloum, no centro de Conacri, onde estão localizadas a presidência, as instituições e os escritórios comerciais.
No entanto, moradores em Kaloum, contactados por telefone, relataram um tiroteio prolongado e disseram ter visto muitos soldados a ordenar às pessoas que voltassem para as suas casas e que não saíssem à rua. Um diplomata ocidental adiantou à agência de notícias francesa AFP considerar “sem qualquer dúvida” que estava em curso uma tentativa de golpe, liderada por forças especiais guineenses.
A oposição tem feito circular, nas redes sociais, vídeos em que afirma que os tiros foram disparados por moradores e que os fortes tiroteios ressoam nas ruas.
Guiné-Bissau reforça segurança na linha da fronteira leste e sul com a Guiné-Conacri
A Guiné-Bissau reforçou as medidas de segurança na fronteira leste e sul com a Guiné-Conacri, depois de forças especiais daquele país terem afirmado que capturaram o Presidente, disseram este domingo à Lusa fontes militares.
Os batalhões dos aquartelamentos de Gabu (leste), de Quebo e Buba (no sul) receberam ordens do Estado-Maior das Forças Armadas no sentido de reforçarem as medidas de segurança nos postos de fronteira com a Guiné-Conacri.
Fontes do Governo disseram à agência Lusa que Bissau “está a acompanhar o evoluir da situação” na Guiné-Conacri.