O embaixador de Portugal no Senegal, Vítor Sereno, disse este domingo estar a acompanhar “atentamente a evolução dos acontecimentos” na Guiné-Conacri, após notícias de um alegado golpe de Estado, adiantando que os portugueses estão bem.

“A comunidade está tranquila e a gerir a situação”, disse à agência Lusa Vítor Sereno, chefe da missão diplomática de Portugal no Senegal, mas que está acreditado também para a Guiné-Conacri.

De acordo com o diplomata, na Guiné-Conacri vivem entre 50 a 60 portugueses, a grande maioria dos quais trabalha para a construtora Mota Engil.

A monitorização da situação dos portugueses está a ser feita em coordenação com restantes países da UE com representação diplomática no país e em “permanente articulação” com o representante especial da embaixada “no terreno”, segundo informou.

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As forças especiais da Guiné-Conacri anunciaram hoje ter capturado o Presidente Alpha Condé e “dissolvido” depois de, durante várias horas ao longo da manhã, terem sido ouvidos tiros de armas automáticas próximo do palácio presidencial, no centro de Conacri, capital da Guiné-Conacri, e ser visível a movimentação de tropas nas ruas, segundo relatos das agências de notícias internacionais.

“Decidimos, depois de retirar o Presidente, que atualmente está connosco (…), dissolver a Constituição em vigor e dissolver as instituições; decidimos também dissolver o Governo e fechar as fronteiras terrestres e aéreas”, disse, num vídeo, o coronel Mamady Doumbouya, comandante das forças especiais, que anunciou também o encerramento das fronteiras terrestres e aéreas da Guiné-Conacri.

Mamady Doumbouya não fez qualquer referência ao paradeiro do Presidente, mas fotos e vídeos mostrando Condé sob custódia de soldados circularam amplamente nas redes sociais embora a sua autenticidade não tenha podido ser verificada.

Doumbouya disse que estava a agir no melhor interesse da nação, considerando que não foram feitos progressos económicos suficientes desde que o país se tornou independente da França em 1958.

“Se virmos o estado das nossas estradas, se virmos o estado dos nossos hospitais, apercebemo-nos de que, após 72 anos, é tempo de acordar”, disse.

O Ministério da Defesa garantiu, em comunicado, ter repelido uma tentativa de golpe.

A Guiné-Conacri, país da África Ocidental que faz fronteira com a Guiné-Bissau e é um dos mais pobres do mundo e enfrenta, nos últimos meses, uma crise política e económica, agravada pela pandemia de covid-19.

A candidatura do Presidente Alpha Condé a um terceiro mandato, considerado inconstitucional pela oposição, em 18 de outubro de 2020, gerou meses de tensão que resultou em dezenas de mortes.

A eleição foi precedida e seguida da detenção de dezenas de opositores.

Vários defensores dos direitos humanos criticam a tendência autoritária observada durante os últimos anos na presidência de Condé e questionam as conquistas do início da sua governação.

Condé, um ex-opositor histórico, preso e até condenado à morte, tornou-se, em 2010, no primeiro Presidente eleito democraticamente no país.