O anúncio da intenção de venda por parte de Luís Filipe Vieira dos 3,28% que detém da SAD não foi algo inesperado mas apanhou de surpresa pelo timing a Direção do Benfica. Assim, e à semelhança do que aconteceu aquando da decisão da demissão em bloco que vai levar os encarnados para eleições a 9 de outubro (algo que já tinha sido comunicado ainda em julho), os membros da Direção vão voltar a reunir nos próximos dias no sentido de perceber que possíveis cenários existem perante a notificação do antigo líder.

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Logo à cabeça, e até pelo número de ações em causa, os dirigentes encarnados querem perceber quem é a pessoa ou sociedade que se propõe a comprar essa percentagem e os moldes de pagamento de uma operação que gerava uma mais valia de 80% esta terça-feira, na medida em que os títulos das águias estavam a 4,34 euros no fecho da sessão e seriam comprados pelo montante unitário de 7,80 euros (um valor que entretanto baixou com a valorização de 17,05% esta quarta-feira). Já em relação à vontade de venda por parte de Vieira, o clube não fará qualquer comentário, por se tratar de uma vontade meramente pessoal do ex-presidente do Benfica que entende ser nesta fase a melhor decisão alienar esse capital social.

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A partir daqui, surgem três cenários possíveis em cima da mesa, que serão decididos nos próximos dias até tendo em conta que o Benfica tem até à próxima quarta-feira, dia 15, para exercer (ou não) o seu direito de preferência. Num primeiro cenário, que numa lógica interna parece ser aquele que recolhe maior consenso, os encarnados admitem exercer essa preferência, pagando os tais 5,878 milhões de euros pelas 753.615 ações que pertencem a Vieira – e salientando que, de uma forma ou outra, o antigo líder, a partir do momento que tem essa oferta, receberia sempre esse valor, fosse do comprador inicial ou do clube.

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O outro cenário possível passava por não exercer esse direito de preferência, sabendo que esses 3,28% de capital social iriam passar para as mãos de outra pessoa ou sociedade. Nesse caso, um ponto importante seria saber se John Textor, que se mostrara em julho disponível para comprar títulos a qualquer acionista que estivesse interessado em alienar os mesmos, estaria ou não envolvido no negócio, até pela forma como os encarnados já tinham considerado uma possível entrada em cena do norte-americano como “inoportuna”. Aqui entronca o terceiro cenário, antes de tomar qualquer decisão: saber apenas quem é o comprador e, mediante essa resposta, optar por um dos dois caminhos possíveis a nível de direito de preferência.

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“O Benfica declara considerar inoportuna esta operação, pelo que à mesma se oporá, no exercício dos seus direitos e deveres, caso esta matéria venha a ser sujeita a deliberação em Assembleia Geral de Acionistas da Benfica SAD, tornando pública esta sua decisão de imediato por entender que a mesma contribui para esclarecer a posição do Benfica a este respeito, evitando-se assim dúvidas e especulações (…) Neste contexto, a Direção do Benfica esclarece ainda que considera inoportuno receber, de maneira formal ou informal, o Sr. John Textor nesta altura”, anunciou o clube em julho, a propósito da operação que estava montada entre José António dos Santos, o “Rei dos Frangos”, e o empresário norte-americano.

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De acrescentar que, esta manhã, as ações da Benfica SAD tiveram um aumento brutal após o anúncio de Luís Filipe Vieira comunicado pela sociedade encarnada à CMVM, com uma valorização inicial de 14,98% que colocou os títulos ao valor de 4,89 euros, mais 55 cêntimos do que valiam no fecho da sessão anterior. No pico máximo de crescimento, as ações chegaram a valer 5,12 euros, mais 17,97% do que na véspera e mais, curiosamente, do que o valor a que o ex-líder comprara na Oferta Pública de Vendas (cinco euros) – sendo em paralelo um valor histórico alcançado pela sociedade dos encarnados. No final da sessão, as ações ficaram com o preço final de 5,08 euros, um aumento de 17,05% face a esta terça-feira.

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Já o movimento “Servir o Benfica” emitiu também esta quarta-feira um comunicado considerando que os atuais membros da Direção não têm “legitimidade” para levar a cabo essa operação de garantir o direito de preferência sobre os 3,28% de capital social da SAD dos encarnados. “A possibilidade de exercício deste direito de preferência não está contemplada nos Estatutos da Benfica SAD nem na lei geral, estando regulada num acordo parassocial alegadamente existente entre o Sr. Luís Filipe Vieira e o Benfica (o Clube) datado de 11 de Setembro de 2020″, começa por referir a missiva do movimento.

“O ‘Servir o Benfica’ vem por este meio recordar que o Benfica (o Clube) é o maior acionista da Benfica SAD, controlando 63,65% do seu capital social, pelo que uma participação adicional de 3,28% nada acrescenta ao Clube em termos de controlo estratégico da sua principal atividade, o futebol profissional. Por outro lado, o preço proposto pelo Sr. Luís Filipe Vieira é 80% acima do valor das ações em bolsa. Assim, se o Clube tiver interesse no reforço da sua posição acionista na SAD, poderá concretizá-lo em condições bem mais vantajosas por via de uma aquisição em bolsa (…) Este processo, aliás, é em tudo semelhante à tentativa de OPA sobre a Benfica SAD que em boa hora foi impedida pela CMVM. Recorda-se ainda que a Direção do Benfica, estando demissionária, não tem legitimidade para concretizar um negócio nestes termos e desta dimensão, se eventualmente for esse o seu entendimento”, concluiu o comunicado.