Quatro das cinco maiores centrais sindicais brasileiras publicaram, esta quarta-feira,um comunicado conjunto pedindo a abertura imediata do processo de destituição do Presidente do país, Jair Bolsonaro, após os seus polémicos discursos no 7 de setembro.
“Foi deplorável a participação do Presidente Jair Bolsonaro nos atos antidemocráticos realizados no dia que deveríamos comemorar o 199.º aniversário da Independência do Brasil. É inquestionável que o objetivo do Presidente e de seus apoiantes é dividir a Nação, empurrar o país para a insegurança, o caos e a anarquia”, diz o documento.
O comunicado, assinado pelos presidentes da Força Sindical, da União Geral dos Trabalhadores (UGT), da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) e da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), argumenta que os discursos do chefe de Estado configuram “crime tipificado na Constituição brasileira — crime de responsabilidade -, no qual ele deve ser enquadrado imediatamente, abrindo-se o processo de ‘impeachment'”.
Em causa estão as polémicas ameaças feita por Bolsonaro na terça-feira, Dia da Independência do Brasil, em que a desafiou a justiça brasileira ao afirmar que “não mais cumprirá” decisões do juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e acrescentou que “nunca será preso”.
O chefe de Estado brasileiro ameaçou ainda outros juízes brasileiros, em dois discursos que fez para milhares de apoiantes nas cidades de Brasília e São Paulo, e frisou que aquela manifestação popular representava um ultimato aos três poderes.
“O seu único interesse [de Bolsonaro] é permanecer aferrado ao poder mesmo que isso signifique romper a legalidade democrática, visto que é cada vez mais evidente seu isolamento político e a perda de apoio popular, em suma, seu projeto de reeleição escorre entre os dedos”, sustentaram as centrais sindicais.
Nesse sentido, as centrais apelaram aos “setores políticos democráticos, sociedade civil, o mundo da ciência e da cultura, os trabalhadores e suas entidades sindicais” que saiam à Avenida Paulista, em São Paulo, no próximo domingo, num ato pela destituição de Bolsonaro.
As centrais sindicais brasileiras juntam-se assim às manifestações que o Movimento Brasil Livre (MBL) realizará no domingo contra Jair Bolsonaro. Apenas a Central Única dos Trabalhadores (CUT) não participará nos protestos na Avenida Paulista.
Também hoje, várias figuras políticas da oposição criticaram o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, a quem compete abrir um eventual processo de destituição, por não dar andamento ao afastamento do atual chefe de Estado.
“Eu lamento que ele [Lira] não tenha compromisso com a democracia, porque, se tivesse, estaria colocando em pauta o ‘impeachment’ de Jair Bolsonaro. Lamento sinceramente a postura, a atitude e o descompromisso do presidente da Câmara Federal com a democracia brasileira”, afirmou João Doria, governador de São Paulo e aspirante a candidato à Presidência do Brasil em 2022.
Também a presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, afirmou que Arthur Lira “não pode continuar naturalizando os atos antidemocráticos e os crimes de Bolsonaro contra a Constituição”.
“Esperava do presidente da Câmara uma atitude firme, a Casa não pode ser apequenar desse jeito. Abra o ‘impeachment’, é o que o povo quer”, apelou Gleisi na rede social Twitter.
Já o deputado do PT Paulo Pimenta informou que o seu partido e outras seis formações políticas encontram-se a preparar um novo pedido de destituição contra Bolsonaro, que se juntam aos mais de 120 pedidos já entregues contra o atual mandatário.