O presidente Joe Biden e a primeira-dama Jill Biden visitaram para todos os três locais onde morreram as vítimas dos ataques de 11 de setembro. Primeiro e logo pela manhã, estiveram no memorial no local das torres gémeas do World Trade Center, em Manhattan. Depois, seguiram para Shanksville, na Pensilvânia, para lembrar as vítimas do voo 93, o avião que se despenhou depois de passageiros e tripulantes terem impedido os sequestradores de controlar o avião — que se acredita que iria colidir com o Capitólio dos Estados Unidos. Por fim, estiveram no Pentágono, onde 184 morreram após a colisão do voo 77.
A cerimónia que assinalou em Nova Iorque o 20.º aniversário dos ataques de 11 de setembro começou este sábado com um minuto de silêncio no memorial de Manhattan. A presidir à cerimónia, que começou às 8h46 locais (13h46 em Lisboa), precisamente à hora do embate do primeiro de dois aviões numa das duas torres gémeas, estiveram também antecessores de Biden, entre eles Barack Obama e Bill Clinton.
Apesar de o Ground Zero ter estado este sábado encerrado ao público em geral, uma multidão de familiares das vítimas e de bombeiros esteve presente no local. Foi a eles que Bruce Springsteen dedicou “I’ll See You in My Dreams”, a música com que quebrou o segundo minuto de silêncio, assinalado à hora em que, há duas décadas, o segundo avião embateu no WTC.
L’Hommage de Bruce Springsteen aux victimes du 11-Septembre: le chanteur interprète "I'll See You In My Dreams" #11Septembre #September11 https://t.co/exwZAY2AVV
— Ulysse Paris (@ulyssepariser) September 11, 2021
Antes das cerimónias, na sexta-feira, Biden partilhou um vídeo nas redes sociais a assinalar a negra efeméride e a apelar à união no país, “a nossa grande força”. “Há vinte anos, quase 3.000 vidas foram ceifadas por um ato indescritível de cobardia e ódio no 11 de Setembro”, escreveu esta manhã no Twitter o Presidente dos Estados Unidos. “Como nação, nunca devemos esquecer aqueles que perdemos durante um dos momentos mais sombrios da nossa história e a dor persistente das suas famílias e entes queridos.”
20 years after September 11, 2001, we commemorate the 2,977 lives we lost and honor those who risked and gave their lives. As we saw in the days that followed, unity is our greatest strength. It’s what makes us who we are — and we can’t forget that. pic.twitter.com/WysK8m3LAb
— President Biden (@POTUS) September 10, 2021
Mais tarde, numa visita à corporação de bombeiros em Shanksville, Biden defendeu a forma como o seu governo lidou com a saída do Afeganistão e garantiu: “Em todos os lugares onde a Al-Qaeda estiver, vamos invadir e manter as tropas”. O presidente norte-americano defendeu ainda que se continue a recordar o 11 de setembro, reconhecendo porém que são momentos “incrivelmente difíceis para as pessoas afetadas por eles, porque trazem de volta o momento em que receberam o telefonema, trazem de volta o momento em que receberam a notícia, não importa quantos anos passem”. Biden elogiou ainda o grupo de passageiros a bordo do voo 93, que assumiu o controlo da cabine e redirecionou o avião para um campo vazio na Pensilvânia: “Um heroísmo genuíno”.
Na cerimónia, a vice-presidente dos Estados Unidos homenageou as vítimas do 11 de setembro e discursou também Shanksville. “O que aconteceu no voo 93 disse à data — e ainda nos diz — muito sobre a coragem daqueles que estavam a bordo e que deram tudo o que podiam, sobre a determinação dos primeiros a reagir e que arriscaram tudo e sobre a resiliência do povo americano”, disse. Kamala Harris defendeu que este 20.º aniversário deve “desafiar” todos a “recordar”, mas também a “olhar para o futuro”. “Devemos também olhar para o futuro. Porque acredito que foi por isso que os 40 [passageiros e tripulação do voo 93] estavam a lutar — pelo futuro deles e o nosso”, acrescentou.
O 20.º aniversário do 11 de setembro de 2001 aconteceu numa altura em que os Estados Unidos vivem no rescaldo da pandemia de Covid-19 e é ensombrando também pela retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão, agora liderado pelos talibãs, que abrigaram os conspiradores dos atentados em solo norte-americano.
George W. Bush pede luta contra terroristas internos e externos
O ex-Presidente dos Estados Unidos George W. Bush defendeu que o país deve lutar contra os extremistas violentos, dentro e fora de fronteiras. Bush — que era Presidente dos EUA à época dos atentados de 11 de setembro — discursou também em Shanksville, na Pensilvânia. O ex-Presidente referiu-se aos extremistas dentro e fora dos EUA que partilham não só o “desprezo pelo pluralismo” e a sua “indiferença pela vida humana”, mas também a sua “determinação em profanar os símbolos do país”:
O desprezo pelo pluralismo, o desprezo pela vida humana, a determinação em profanar os símbolos do país: eles são filhos do mesmo espírito sujo. E é nosso dever contínuo enfrentá-los “
Desta forma, Bush aludiu implicitamente a um episódio recente na história americana – o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro, perpetrado por partidários do ex-Presidente Donald Trump -, um incidente que Bush condenou em várias ocasiões.
Para George W. Bush, os extremistas violentos domésticos e estrangeiros “são filhos do mesmo espírito infame”, dizendo que é dever das autoridades enfrentá-los. Bush lembrou os momentos seguintes aos ataques de 2001, dizendo que teve “orgulho em liderar um povo impressionante, resiliente e unido”. Bush lembrou o heroísmo dos passageiros do voo 93 da United Airlines, referindo-se a eles como um “grupo excecional” de americanos, bravos, fortes e unidos”, vítimas que enfrentaram uma situação “impossível” e que depois de “confortar” as suas famílias com seus telefonemas e recados entraram em “ação” e “derrotaram os desígnios do diabo”.
Mais tarde, o atual presidente norte-americano, Joe Biden, elogiou o discurso de Bush: “Achei que o presidente Bush fez um discurso muito bom hoje, um discurso genuinamente bom, sobre quem somos e não somos”, disse Biden.
Cerimónias decorrem num “lugar de memórias negras”
A praça, fechada ao público e apenas para familiares, autoridades locais e nacionais, trabalhadores do museu e imprensa, onde a Lusa esteve presente, encheu-se como só nos aniversários dos atentados que mataram, no total, 2.977 pessoas nos Estados Unidos, além dos 19 terroristas responsáveis. O Presidente dos EUA e a primeira-dama, Joe e Jill Biden, chegaram e, sem pressas, falaram com algumas das pessoas que estavam à espera. Michelle e Barack Obama juntaram-se momentos depois.
O hino dos EUA deu o sinal de partida das cerimónias, por volta das 8h43 (13h43 na hora de Lisboa), com o canto de jovens do Coro Young People’s Chorus of NYC e uma ‘performance’ pela Guarda de Honra, com membros do departamento de bombeiros da cidade (FDNY), departamento da polícia (NYPD) e Port Authority Police Department (PAPD).
Depois de um toque de sino e um minuto de silêncio, às 08h46, para assinalar a primeira colisão do avião na Torre Norte, Mike Low, pai da hospedeira de bordo no avião sequestrado, foi o primeiro a dar início à leitura de todos os 2.983 nomes que viriam a ser lidos ao longo da manhã, tradição anual que só em 2020 não foi cumprida, por causa da pandemia.
“A minha memória volta sempre” à tragédia, declarou o pai. “Nos últimos 20 anos, eu e a minha família vivemos em descrença e com saudades. (…) É um lugar de memórias negras”, acrescentou Mike Low, referindo-se ao lugar onde este sábado decorrem as cerimónias.
Os nomes gravados nos painéis laterais seguram flores e pequenas bandeiras dos Estados Unidos. Bandeiras da polícia norte-americana, uma versão a preto e branco da bandeira nacional, com uma linha azul no centro, marcam os nomes daqueles que deram a sua vida a tentar salvar outros.
Sem ruído, os familiares prestam tributos também através de cartazes com os nomes e fotografias de quem nunca tiveram oportunidade de se despedir. As fotografias das vítimas, essas todas com sorrisos. Dão-se abraços. “Tio, temos saudades tuas e amamos-te como nunca poderias imaginar”, diz no palco a sobrinha do bombeiro Christopher M. Mozzillo, demasiado jovem para o ter sequer conhecido. “Apesar de nunca te ter conhecido pessoalmente, sinto muito a tua falta. A mãe conta-me sempre todas as coisas loucas e divertidas que fizeste, e, se ainda estivesses aqui, provavelmente estaria a fazê-las contigo.”
Em toda a cidade, o toque de sinos das igrejas ocorre seis vezes ao longo da manhã, para assinalar cada um dos desenvolvimentos trágicos no dia 11 de setembro, como colisão de aviões com edifícios e queda das Torres Gémeas. Cada toque de sinos é solenemente seguido por um minuto de silêncio. Com milhares de pessoas presentes, o silêncio é ensurdecedor e traduz uma enorme dor partilhada.
Hadsoula Matias, irmã de um trabalhador do World Trade Center, declarou: “Milhares de nós tornaram-se membros de um clube em que nunca nos inscrevemos”, o das famílias que perderam pessoas. “Desconhecidos, amigos e família, todo o país parecia estar com o braço à volta dos nossos ombros”, disse Hadsoula Matias, lembrando o carinho pelas famílias em luto. “Agradecemos as vossas orações”.