Pressionado por centenas de sobreviventes, familiares de vítimas e socorristas, Joe Biden finalmente deu ordem, na semana passada, para que os documentos até agora classificados sobre a investigação aos ataques de 11 de Setembro de 2001 começassem a ser divulgados.

O primeiro destes documentos, noticiou o New York Times, foi revelado este sábado à noite, horas depois de o Presidente americano ter marcado presença em todas as cerimónias de homenagem às vítimas, da baixa de Manhattan às instalações do Pentágono, na Virgínia. São 16 páginas sobre as ligações que a agência estabeleceu entre os terroristas e o governo da Arábia Saudita — uma linha de investigação que os familiares das vítimas há muito têm defendido dever ser seguida.

Apesar de revelar vários detalhes sobre as ligações que alguns dos terroristas responsáveis pelos ataques tinham a funcionários sauditas e de reforçar as suspeitas que há anos recaem sobre a pátria de Osama bin Laden, o documento não encerra quaisquer provas objetivas sobre o envolvimento de Riade na preparação dos atentados.

O governo da Arábia Saudita, que sempre recusou terminantemente qualquer responsabilidade nos ataques aos Estados Unidos, garantiu na passada quarta-feira apoiar o plano de divulgação dos documentos classificados, nomeadamente como forma de “acabar de uma vez por todas com as acusações infundadas contra o reino”. Através da sua embaixada em Washington, Riade disse ainda que qualquer alegação de cumplicidade era “categoricamente falsa”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

No documento agora desclassificado, o FBI descreve várias entrevistas feitas em 2015 com um homem saudita que na altura estava a candidatar-se à nacionalidade americana e que anos antes tinha trabalhado no consulado da Arábia Saudita em Los Angeles e mantido contacto próximo com cidadãos nacionais que o FBI acreditava terem prestado “apoio logístico significativo” a dois dos sequestradores dos aviões, Nawaf al-Hazmi e Khalid al-Mihdhar.

A partir das entrevistas, feitas a 12 e 13 de novembro de 2015 com este homem saudita, que é identificado apenas como PII, o FBI reconstituiu os contactos estabelecidos entre o ex-estudante Omar al-Bayoumi, suspeito de ter colaborado com os serviços de inteligência sauditas, e os dois terroristas, desde o momento em que chegaram ao sul da Califórnia, no início de 2000, e combinaram encontro num restaurante halal de San Diego.

De acordo com o documento, o apoio de Bayoumi a Hazmi e Mihdhar “incluiu tradução, assistência em viagem, alojamento e financiamento”. Também segundo as declarações de PII, por trás da fachada de estudante, Omar al-Bayoumi esconderia uma “posição muito elevada” no consulado saudita. Outra ligação que esta fonte confirmou, e que já tinha sido tornada pública anteriormente, foi a dos dois terroristas com Fahad al-Thumairy, imã da mesquita King Faad em Los Angeles e funcionário do consulado da Arábia Saudita naquela cidade.

Apesar de o documento não conter provas inequívocas da ligação de Riade aos atentados, e de provas circunstanciais como esta terem inclusivamente sido divulgadas antes, num outro documento libertado em 2016 pelo Congresso americano,  Terry Strada, viúva de uma das vítimas do 11 de Setembro, emitiu um comunicado este domingo, em nome do grupo 9/11 Families United, a assumir o contrário. “Agora os segredos dos sauditas foram expostos. Já é mais do que hora de o Reino assumir o papel dos seus oficiais no assassinato de milhares em solo americano.”