Miguel Tavares Rodrigues foi eleito numa votação feita pela Confederação Europeia de Voleibol (CEV) o melhor distribuidor do grupo A à frente do ucraniano Oleh Plotnytskyi, Filip Cveticanin liderou a estatística de melhor blocador com um total de 31 pontos que deram ponto. Mais do que uma histórica passagem à fase a eliminar do Campeonato da Europa de voleibol, Portugal deixou a sua marca noutros campos individuais ao longo dos cinco encontros realizados no grupo A. Tudo o que surgisse a partir de agora eram apenas mais capítulos de um conto que foi pela primeira vez escrito. Pressão, essa, era praticamente nula.

Entrando com uma derrota por 3-1 frente à anfitriã e uma das favoritas Polónia, atual bicampeã mundial, a Seleção teve a melhor resposta no jogo seguinte em que venceu a Bélgica por 3-2, levou também o encontro com a Ucrânia à “negra” (2-3), perdeu depois com a campeã em título Sérvia (1-3) e fechou o grupo com mais um triunfo diante da Grécia. Duas principais notas na fase de grupos: capacidade e coração da equipa para conseguir ir buscar desvantagens que pareciam definitivas, incapacidade para manter a consistência de jogo ao longo dos sets. No entanto, e além da inédita passagem, Portugal mostrou que se consegue bater com os melhores, faltando depois saber por quanto tempo. E era esse o desafio para os oitavos da prova.

“Temos que procurar que toda a gente se entregue ao máximo, que a equipa se possa inspirar e que as coisas saiam na perfeição porque vai ser um jogo onde vai ser preciso que todos estejam no seu limite. Agora com a passagem a equipa está tranquila, é um momento em que não há nada a perder. Agora é jogo a jogo”, frisou Hugo Silva na antecâmara da partida à agência Lusa. “A entreajuda foi o que nos marcou em muitos momentos positivos e algumas conquistas que fomos tendo nos últimos anos. Temos muitas limitações mas se os jogadores que têm menos conseguirem ajudar os que têm mais, a equipa torna-se equilibrada e muito difícil de ser batida”, acrescentou ainda a propósito da partida deste domingo em Gdansk.

Os Países Baixos, um país com muita tradição no voleibol, que mantém uma ideia de jogo das mais positivas do Europeu mas que deixou de estar tantas vezes nos momentos decisivos pela vitória, acabou o grupo C no primeiro lugar depois dos triunfos pela margem máxima com a Espanha e a Macedónia do Norte, a derrota na “negra” diante da Rússia e mais dois triunfos por 3-1 a fechar com Turquia e Finlândia. Seguia-se agora o duelo com Portugal, onde partia com natural favoritismo teórico. E, resultado à parte, um duelo tão duro como com os russos, naquela que foi uma das melhores exibições dos últimos anos de Portugal.

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Portugal teve uma entrada personalizada em campo e nunca desligou do parcial mesmo quando teve algumas desvantagens de três pontos, tendo Miguel Tavares Rodrigues de novo ao melhor nível na distribuição e um Hugo Gaspar acima da fase de grupos nas ações ofensivas. No entanto, três pontos consecutivos que fizeram o 16-13 pareciam ter escrito a história da primeira partida mas a Seleção voltou a mostrar toda a qualidade e o coração que valeram a inédita passagem aos oitavos: conseguindo travar o poderio pelo ar de Nimir Abdel-Aziz, em ataque ou serviço e beneficiando de um bloco fantástico de Cveticanin, Portugal conseguiu passar para a frente nas últimas bolas do set e ganhou mesmo vantagem no jogo por 25-22.

Foi essa variação de momentos que voltou a marcar o arranque do segundo parcial, com os Países Baixos a terem um avanço inicial de quatro pontos (9-5) que foi de imediato anulado também com quatro pontos de seguida da Seleção. O encontro iria mesmo assumir essas características, com Portugal a ter o mérito de colocar uma equipa teoricamente favorita a procurar alternativas de jogo que conseguissem fazer a diferença que até aí não se tinha notado. As equipas conseguiram depois ir segurando o sideout até aparecer mais uma vez a melhor cara da Seleção, que depois de dois pontos seguidos teve três blocos na mesma bola que acabou por não cair para o lado nacional, num 21-21 que a equipa acusou muito até à derrota por 25-22.

As contas estavam todas empatadas mas a forma como o segundo set caiu para os Países Baixos teve ainda influência no arranque do segundo parcial, que começou com 5-0 no serviço de Nimir. A meio, a “almofada” chegou aos seis pontos (14-8) mas Portugal voltou a fazer uma sensacional recuperação estando fabuloso no bloco, teve mesmo uma bola de set após a redenção de Cveticanin a um ataque falhado mas os Países Baixos fecharam com três pontos seguidos para o 26-24. Assim, o quarto parcial seria mais uma autêntica batalha de nervos, com jogadas de grande qualidade e alternância de momentos por cima no jogo. Portugal neste caso entrou melhor, chegou a ter uma vantagem de quatro pontos quando até os ataques de Nimir não salvavam os Países Baixos (7-3) mas a resposta foi rápida com três pontos seguidos que voltaram a equilibrar as contas. No entanto, Portugal recuperou a consistência, voltou para a frente e ganhou por 25-20.

Tudo seria decidido na “negra”, onde Portugal foi tentando jogar com tudo para anular a pequena vantagem de dois pontos com que os Países Baixos entraram, ainda esteve na frente por 7-6 mas voltou a aparecer ao melhor nível Nimir Abdel-Aziz, o melhor pontuador até agora no Europeu com uma série de ataques sem hipóteses para o bloco e a receção nacionais que deram o mote para a vitória por 15-13.