A ficção é um dos “blocos estratégicos” da RTP1 nos próximos meses, defendeu esta quinta-feira o diretor de programas, José Fragoso, que esteve numa conferência de imprensa em Lisboa para apresentar as novidades da rentrée. “Já conseguimos entrar numa cadeia de produção, que nos permitiu alcançar um objetivo que tínhamos desde há dois anos: estrear 12 a 14 séries portuguesas por temporada. A pandemia atrapalhou o caminho, mas entretanto recuperámos”, sublinhou. “As séries são hoje um segmento de afirmação audiovisual muito importante”, defendeu.

José Fragoso anunciou com entusiasmo o regresso, ainda sem data, de Pôr-do-Sol, que se estreou em agosto com bastante êxito e se mantém no ar. “Funcionou muito bem e tem tido um impacto muito forte no ecrã e na internet”, justificou. A série criada por Manuel Pureza, Henrique Dias e Rui Melo é uma paródia às telenovelas e acompanha o dia a dia da família Bourbon de Linhaça.

Mas da longa lista de novidades agora conhecidas, todas respeitantes à RTP1, os programas de entretenimento concentram atenções. Há um novo programa de humor, Taskmaster. É inspirado num formato britânico e terá apresentação de Vasco Palmeirim e Nuno Markl, com gravações ao vivo numa sala teatro já partir de outubro e exibição no início de 2022. O concurso Joker, de Vasco Palmeirim, registará já na próxima segunda-feira “uma evolução no formato, com situações de jogo com maior participação da pessoa que apoia o concorrente principal”, explicou José Fragoso.

O Programa Cautelar, de Filomena Cautela, terá mais sete episódios, que começam a ser gravados em dezembro. E o MasterChef terá mais 15 episódios a partir de novembro, desta vez com os cozinheiros amadores a serem avaliados pelos chefes Óscar Geadas, Marlene Vieira e Vítor Sobral.

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O aniversário de dois concursos de grande audiência vai merecer comemoração. The Voice assinala 10 anos de existência com uma gala a ser transmitida em dezembro, onde marcarão presença os vencedores de todas as edições mais os respetivos mentores. Os 20 anos de O Preço Certo levarão a “algumas mudanças” a partir de fevereiro no formato conduzido por Fernando Mendes. “Se a situação da pandemia permitir, queremos que O Preço Certo regresse ao tempo em que tinha 250 pessoas na assistência, sem máscaras na cara e com ambiente de festa”, apontou José Fragoso, sem adiantar mais pormenores.

Coprodução luso-espanhola “Auga Seca” vai voltar para segunda temporada

Séries “made in Portugal” e coproduções internacionais, incluindo “Auga Seca”

No que diz respeito a séries exclusivamente feitas por produtores independentes em Portugal, com financiamento da RTP ou apoio de autarquias, foram reveladas três novidades principais: Causa Própria (história de uma juíza numa pequena cidade, com realização de João Nuno Pinto e textos de Edgar Medina e Rui Cardoso Martins), A Rainha e a Bastarda (adaptação de um livro de Patrícia Muller, com realização de Sérgio Graciano e produção da Fado Filmes, numa viagem à época de D. Dinis e da rainha Santa Isabel, com Maria João Bastos e Paulo Rocha, entre outros) e ainda O Crime do Padre Amaro (versão de Leonel Vieira, com Bárbara Branco e José Condessa como protagonistas). “Depois de irem para o ar, podem ser colocadas em plataformas online ou distribuídas fora do país”, fez notar José Fragoso.

A ficção do canal público nos próximos tempos inclui coproduções internacionais, provavelmente as mais populares. A saber: o thriller Crimes Submersos (de Joaquín Llamas e Oriol Ferrer para RTP e a TVE), a segunda temporada do premiado Auga Seca (mais oito episódios, num consórcio Portocabo, RTP1, HBO e Televisión de Galicia), Operação Maré Negra (de Daniel Calparsoro e João Maia, com Nuno Lopes, Lúcia Moniz e Luís Esparteiro, baseado na história real da captura do primeiro submarino da Europa dedicado ao tráfico de droga).

“Há projetos que não podem ser feitos por apenas uma entidade, porque o investimento é muito alto”, explicou o diretor de programas da RTP1. O envolvimento de produtoras independentes, de outros canais e de plataformas de distribuição digitais permite “fazer projetos mais ambiciosos” e “garante a circulação das obras fora de Portugal”, o que projeta equipas e artistas portugueses ao mesmo tempo que “oferece aos espectadores portugueses conteúdos com uma densidade equiparável ao que melhor se faz no mundo inteiro”, apontou.

A hipótese de a RTP criar uma plataforma própria de streaming para difusão das séries que exibe não está, contudo, em cima da mesa, segundo José Fragoso, porque a estação pública prefere continuar a apostar na plataforma generalista digital RTP Play, de que dispõe há uma década. “Fomos pioneiros na distribuição não-linear em Portugal e das primeiras estações públicas na Europa a fazê-lo. As nossas séries, quando são emitidas na RTP1, têm uma audiência média de cerca de meio milhão de espectadores e nos meses seguintes conquistam mais cerca de 100 mil no RTP Play.”

Mulheres na realização e O Pimba é Nosso

Ainda na ficção, mas agora no capítulo das longas-metragens, a estação pública continua a financiar produções portuguesas — caso de Listen, de Ana Rocha de Sousa, consagrado no Festival de Veneza do ano passado e que vai passar ainda este ano nos ecrãs da RTP1. E desde há três anos apoia a criação de telefilmes, muitos dos quais partem de clássicos da literatura portuguesa. A mais recente leva de telefilmes caracteriza-se por obras realizadas exclusivamente por mulheres, algumas das quais são estreantes.

Daniela Ruah realiza um filme baseado na obra do escritor angolano Ondjaki

São 10 os telefilmes que os espectadores vão ver em breve: A Traição do Padre Martinho, de Ana Cunha (baseado em Bernardo Santareno); Armários Vazios, de Cristina Carvalhal (baseado em Maria Judite de Carvalho); Há-de Haver uma Lei, de Anabela Moreira (baseado em Ana Archer); A Hora dos Lobos, de Maria João Luís (a partir de Carlos Oliveira); Jogo de Enganos, de Rita Barbosa (a partir de Carlos de Oliveira); O Pio dos Mochos, de Diana Antunes (com base em Soeiro Pereira Gomes); Os Vivos, o Morto e o Peixe Frito, de Daniela Ruah (com base em Ondjaki); Vizinhas, de Sofia Teixeira Gomes (a partir de Teolinda Gersão); Serpentina, de Laura Seixas (inspirado em Mário Zambujal); e finalmente Quando o Diabo Reza, de Fabiana Tavares (inspirado em Mário de Carvalho).

As novidades conhecidas nesta terça-feira num evento organizado no Parque de Monsanto, em Lisboa, incluíram ainda os documentários Planeta A, de Jorge Pelicano, acerca da sustentabilidade; História do Teatro de Revista em Portugal, de Leandro Ferreira e Pedro Clérigo, com recriação de quadros clássicos da revista à portuguesa; Vinhos com História, viagem às vinhas e adegas do país que tem Cristina Ferreira Gomes na realização; e Vírus, acerca do equilíbrio entre humanos e ameaças à saúde.

Por fim, outro documentário: O Pimba É Nosso, de José Carlos Santos, com entrevistas a Quim Barreiros, Toy, Emanuel, Herman José, Rosinha, Ágata, Marante, Augusto Canário, entre outros, e depoimentos de músicos de jazz ou compositores de música clássica. São três episódios sobre um género musical popular que nos últimos anos tem vindo a ser reabilitado.

Questionado pelo Observador sobre os efeitos nas audiências dos confinamentos da Covid-19, o diretor de programas da RTP disse ser “mais ou menos claro que todos os canais tiveram picos”, devido à presença de mais pessoas em casa. No primeiro confinamento, de março a maio de 2020, deu-se um “aumento exponencial” a que se seguiu uma normalização a partir de junho. No segundo confinamento, de janeiro a março deste ano, “o aumento foi bastante mais discreto, mas aconteceu”, com tendência para normalização desde maio. “As audiências que temos hoje estarão muito em linha com os períodos homólogos anteriores à pandemia”, referiu.