Grupos armados atacaram na quinta-feira aldeias no sul da província de Cabo Delgado, nos distritos de Quissanga e Meluco, provocando pelo menos quatro mortos, disseram residentes e fontes locais à Lusa.

As zonas atingidas, nos distritos de Quissanga e Meluco, ficam distantes das áreas em que as tropas de Moçambique com apoio do Ruanda e da missão da África Austral têm anunciado reconquistas de território e desmantelamento de bases rebeldes, situadas a nordeste da província.

Um residente da aldeia de Lindi disse à Lusa ter testemunhado a chegada de elementos armados desconhecidos que na quinta-feira, pelas 17h00 (16h00 em Lisboa), queimaram casas e viaturas e que o levaram a fugir para Ancuabe.

Durante a ação, viu pelo menos uma pessoa ferida, sendo que vizinhos que esta sexta-feira se juntaram em Ancuabe relataram a morte de uma criança e três adultos.

Fonte das forças locais disse à Lusa que na mesma região, em Iba, distrito de Meluco, houve uma emboscada por desconhecidos contra um veículo de caixa aberta de transporte de pessoas e bens.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O ataque aconteceu ao pôr-do-sol, pouco depois das 17h00 numa estrada de terra batida e provocou dois feridos, internados no hospital de Meluco, sendo um deles uma mãe que levava ao colo um bebé de 6 meses.

Segundo a mesma fonte, um autocarro que na quinta-feira de manhã tinha transportado militares de Pemba para Macomia, vila no centro da província, foi alvejado quando regressava vazio para a capital provincial.

O veículo foi atacado já durante a noite, pelas 18h00, na Estrada Nacional 380 (única via asfaltada que liga o norte ao sul de Cabo Delgado), junto a Namoja, perto do rio Montepuez, numa faixa adjacente aos ataques anteriores. O veículo não parou, conseguindo chegar a Pemba para ser reparado.

Apesar das tentativas, a Lusa não conseguiu obter esclarecimentos por parte das autoridades de defesa e segurança moçambicanas.

Cabo Delgado é uma província rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, segundo as autoridades moçambicanas.

Desde julho, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas onde havia presença de rebeldes, nomeadamente a vila de Mocímboa da Praia, que estava ocupada desde agosto de 2020.