A Sociedade Portuguesa de Contraceção (SPDC) considera fundamental que as mulheres tenham aconselhamento médico na altura de escolher o método contracetivo pois em algumas situações clínicas nem todos os métodos são aconselháveis e alguns podem trazer maior risco.
“Pode haver algumas situações clínicas que façam com que nem todos os métodos sejam elegíveis para determinadas mulheres”, disse à Lusa a presidente da SPDC, Fátima Palma, exemplificando: “uma mulher que é uma grande fumadora e que tem mais de 35 anos, claramente não é uma mulher elegível para fazer uma pílula, mas tem imensos métodos ao seu dispor”.
Neste caso, “outro método será mais seguro para ela do que continuar a tomar a pílula”, disse.
Além da escolha do método contracetivo mais adequado para cada mulher, a especialista sublinha que o aconselhamento médico também servirá para esclarecer a mulher em relação a alguns receios ou a alguns mitos existentes sobre os contracetivos.
“Há ainda alguns mitos associados a alguns métodos de longa duração, como o implante, por exemplo”, acrescentou.
Fátima Palma frisa que “a escolha final deve ser sempre uma escolha da mulher, mas ponderada e fundamentada naquilo que lhe foi dito durante a consulta de aconselhamento”.
De acordo com um estudo divulgado esta sexta-feira, e que teve a orientação científica da SPC, a pílula contracetiva é o método mais usado pelas mulheres portuguesas (70%), seguida pelo dispositivo intrauterino, este mais popular entre mulheres mais velhas.
O estudo, que analisou mais de 1.500 mulheres de várias regiões do país, 92% das mulheres estão satisfeitas com o seu método contracetivo e em 46% dos casos foi o médico a escolher. Apenas 27% das mulheres disseram ter sido sua a escolha.
Os dados indicam ainda que, habitualmente, as mulheres procuram informação sobre contracetivos junto do seu ginecologista e do seu médico de família. Quase metade disse ter sido aconselhada pelo médico de família.
O estudo, realizado pela IQVIA, com orientação científica da Sociedade Portuguesa de Contraceção e apoio de Gedeon Richter. indica ainda que há uma maior consciencialização do risco tromboembólico da pílula, uma situação que Fátima Palma atribui à informação sobre este risco nas notícias relativas às vacinas contra a Covid-19, nalguns dos casos até com comparações com os riscos de alguns métodos contracetivos.
“Esta preocupação com risco tromboembólico associado à pílula não existia. As mulheres valorizavam mais o controlo do ciclo, o bem estar, a libido ou as oscilações de peso, e não valorizavam este risco, que sempre foi uma preocupação para os médicos”, considerou a especialista, reconhecendo que os riscos das vacinas contra a Covid-19 e o facto de se falar deles acabou por “chamar a atenção” das mulheres.
O estudo, elaborado a propósito do Dia Mundial da Contraceção, que se assinala no domingo, indica ainda que apenas 6% das mulheres utilizaram contraceção de emergência (pílula do dia seguinte) no último ano, uma opção maioritariamente nas faixas etárias mais baixas.
A este propósito, a presidente da SPC sublinha: “a contraceção de emergência não é um método contracetivo, é um recurso que as mulheres e os casais têm quando acontece uma situação em que a contraceção não existiu, por exemplo, porque há um esquecimento, ou porque rompeu um preservativo ou em situações muito mais complexas como uma violação”.
“É um medicamento que durante muito tempo estava muito conotado com um medicamento abortivo, o que é falso. Funciona de uma forma muito semelhante à pílula, ou seja, impede a ovulação”, disse a especialista, sublinhando: é um método que deve ser utilizado quando as pessoas suspeitam que houve uma falha no seu método contracetivo”.
“Daí ter sido autorizada felizmente em Portugal a sua venda livre”, acrescentou Fátima Palma, considerando que a baixa utilização deste método prova que as pessoas “estão informadas”.