Recuemos o filme duas semanas até ao Grande Prémio de Itália. Daniel Ricciardo a ganhar, algo que não acontecia há três anos – e como o australiano procurava esse triunfo. Lando Norris a conseguir fechar na segunda posição, oferecendo à McLaren uma mais do que improvável dobradinha 1-2 como não acontecia há uma década. Valtteri Bottas a saltar da última posição da grelha para o pódio quando nada o poderia fazer prever. Max Verstappen e Lewis Hamilton fora dos pontos sem terminar a corrida, algo que tinha acontecido na acidentada prova do Azerbaijão. Em Monza, tudo funcionou ao contrário do que o próprio campeão mundial britânico achava que ia acontecer; em Sochi, a nível de surpresas, não ficou atrás.
Depois do autêntico dilúvio que cancelou a terceira sessão de treinos livres e ameaçou também de forma real a qualificação, Lando Norris, cada vez mais um nome querido no mundo da Fórmula 1, conseguiu a sua primeira pole position da carreira aproveitando uma última volta com a pista um pouco mais seca para deixar para trás o Ferrari de Carlos Sainz e o Williams de George Russell. Lewis Hamilton, entre um toque num mecânico numa das paragens nas boxes e um peão na volta final, não foi além do quarto tempo. Já Max Verstappen, que decidiu trocar de motor, foi para o último lugar da grelha. Tudo ao contrário.
“Tínhamos de cumprir uma punição [de quatro lugares] e se não tivéssemos feito aqui [a mudança do motor], teríamos de fazê-la depois. Então optámos por fazê-la já e tentar o melhor resultado possível. A recuperação vai ser difícil mas espero uma corrida divertida onde consiga somar o máximo de pontos que conseguir”, destacou o neerlandês da Red Bull, recordando ainda o castigo pelo episódio com Hamilton em Itália. “A culpa do que se passou na qualificação foi 100% minha. Ultimamente tenho sido uma desilusão comigo mesmo porque tinha sido limpo em cada volta”, comentou o inglês da Mercedes.
Se a luta entre Bottas, Norris e Sérgio Pérez pelo terceiro lugar do Mundial teria mais um capítulo muito interessante de seguir com os Ferraris de Leclerc e Carlos Sainz a acompanhar tudo de forma próxima, as atenções estavam centradas em Verstappen e Hamilton, separados apenas por cinco pontos quando faltam apenas sete/oito provas para o final do Mundial e com uma rivalidade em crescendo como se viu em Monza. Para o britânico, quanto mais à frente, melhor; para o neerlandês, saindo com clara desvantagem, quanto mais pontos, menos mau. E na Rússia poderia estar uma das chaves do título.
A saída, essa, foi feita com outros nomes mas foi talvez uma das melhores (e sem bandeiras amarelas por choques como se temia) de 2021: Lando Norris conseguiu sair bem, George Russell parecia conseguir ir buscar a frente, Carlos Sainz foi melhor aproveitando o cone de aspiração e entrou melhor na curva 2 e ainda houve a grande saída de Lance Stroll. O espanhol da Ferrari era o 11.º piloto a liderar este ano mas era nos desempenhos de Hamilton e Verstappen que se voltavam a concentrar as atenções, com o britânico a chegar à décima volta depois de um mau arranque na sexta posição a não conseguir ameaçar Ricciardo e Max Verstappen a ter dificuldades iniciais para começar a subir mas a chegar-se a 12.º após superar Gasly e Bottas, beneficiando depois da luta entre Vettel e Leclerc para ultrapassar o piloto da Ferrari.
Hamilton teve um duplo problema com a mesma génese: nas voltas iniciais, ficou preso no “comboio” que era formado atrás de George Russell; a seguir às primeiras paragens, voltou a ter um “tampão” chamado Ricciardo (num filme idêntico ao que se passou em Itália, mas com Norris a ganhar tempo na frente em vez do australiano). Já Verstappen apanhou um pouco de ar livre à frente quando chegou a oitavo e conseguiu o feito de se colocar a cerca de cinco segundos do britânico à 18.ª volta enquanto somava os tempos mais rápidos em pista. Aquilo que parecia ser uma não história tornou-se “a” história.
Lá na frente, Norris ficou por si quando Ricciardo foi às boxes, teve um problema na porca do pneu direito traseiro e entrou para 14.º atrás de Ocon. “Perdeste o teu reboque”, avisou a McLaren enquanto numa outra comunicação era Verstappen a dizer que estava com problemas em curvar o carro, o que explicava o facto de ter passado de dois segundos e meio para cinco segundos de Hamilton em pouco tempo. Depois da passagem pelas boxes, Hamilton ficou em nono e Verstappen em 12.º, tendo Ricciardo e Russell (que só aguentou uma volta) no meio, mas as ultrapassagens a Sainz e Stroll logo de seguida com o britânico a fazer os tempos mais rápidos mudou de vez a corrida. “Podes ganhar a corrida”, atirou Toto Wolff.
A dez voltas do final, Norris e Hamilton tinham uma diferença de 1,5 segundos e recebiam informações de alguns pingos em partes do circuito. Norris tentava aquela que poderia ser a primeira vitória na Fórmula 1, Hamilton procurava aquela que poderia ser a 100.ª vitória na Fórmula 1 depois de ter conseguido também este ano a 100.ª pole position na carreira. A chuva e a pressão fizeram com que o piloto da McLaren tivesse duas saídas mais largas quando vários pilotos iam trocar de pneus perante o intensificar da chuva mas um estava à espera de outro e Norris perdeu essa “batalha”, patinando de um lado para o outro até perder a liderança, ser ultrapassado pelo surpreendente Verstappen e ficar sem o pódio, que fechou com Sainz.
No final, Hamilton voltou à liderança do Mundial mas aquilo que poderia ser uma vantagem confortável ficou apenas com dois pontos a mais do que o adversário direto Verstappen, que perdendo sete pontos em relação ao britânico minimizou a saída da última posição após trocar a sua unidade motriz.