José Mourinho tinha sido apresentado há poucos dias como sucessor de Paulo Fonseca no comando da Roma e, ainda antes de aterrar na capital italiana, já tinha literalmente a sua marca nas ruas da cidade, mais concretamente numa parede do bairro de Testaccio: Harry Greb colocou mãos à obra e desenhou uma imagem do técnico numa Vespa com o símbolo e o cachecol do clube e a inscrição “La Specialone”. O mural teve grande sucesso até ao dia em que foi vandalizado pelos adeptos da Lazio, que ao confirmarem Maurizio Sarri como sucessor de Simone Inzaghi desenharam uma imagem do antigo comandante de Nápoles, Chelsea e Juventus a enviar uma nuvem de fumo do cigarro para a cabeça do português.
A rivalidade entre treinadores não era nem é algo pertinente. Aliás, não existia. Mas esse episódio mostrou bem o clima que se vive ainda entre os dois principais clubes de Roma. Este domingo, Mourinho tinha o primeiro dérbi da cidade no Olímpico. E o objetivo de manter a senda que teve em Milão, onde depois de perder o primeiro jogo com o AC Milan ganhou todos os restantes no comando do Inter.
“Os dérbis são ótimos para o treinador, porque são dos poucos jogos em que não há a preocupação de motivar alguém e fazer crescer os níveis de concentração. Nisso foi mais complicado com a Udinese, já que pare este jogo toda a gente vai esta a 100%. Para mim é um privilégio estar neste jogo mas o dérbi não é o único objetivo desta temporada. Quero que a equipa tenha ambições para lá deste jogo”, referira o treinador português na antecâmara do encontro onde iria defrontar mais de perto Sarri, expulso na derrota do conjunto romano com o AC Milan, sancionado com dois encontros de suspensão mas disponível.
Os momentos, esses, eram diferentes. Depois de um bom início na Serie A com dois triunfos com nove golos marcados diante de Empoli e Spezia, a Lazio chegava com uma série de quatro jogos sem conseguir ganhar entre Serie A (derrota com o AC Milan, empates com Torino e Cagliari) e Liga Europa (contra os turcos do Galatasaray). Já a Roma, que sofreu a única derrota em Verona, ganhara a meio da semana na receção à Udinese, somando um total de sete vitórias em oito jogos no arranque da temporada. No entanto, em Itália como em Portugal, quem estava melhor ganhou e Mourinho somou aquela que foi a segunda derrota nos últimos três encontros entre a grande festa dos elementos da Lazio (3-2).
O encontro começou com a Roma a perder por dois golos nos dois primeiros remates da Lazio e com muita polémica à mistura: no primeiro remate à baliza, após uma grande jogada com Immobile a arrastar defesas para fora da área e Felipe Anderson a cruzar, Milinkovic-Savic apareceu bem na área a desviar de cabeça e a ser atropelado por Rui Patrício para o 1-0 (10′); pouco depois, no segundo remate à baliza dos laziale, uma grande saída teve Immobile a trabalhar bem para o tiro de primeira de Pedro sem hipóteses para o número 1 da Seleção (19′). Questão? O lance começou c0m Hysaj a cair em cima de Zaniolo na área contrária sem que o VAR considerasse que houve falta para grande penalidade e com o banco da Roma em contínuos protestos com o quarto árbitro pelo 2-0 que poderia ser ao invés o empate a um.
Em condições normais, ainda para mais sem Pellegrini, a Roma estaria quase “condenada” no dérbi. Pelo contrário, o filme até ao intervalo mostrou a fibra que o conjunto de José Mourinho tem vindo a ganhar, podendo ter chegado ao empate ainda antes do descanso: Tammy Abraham obrigou Reina a uma defesa muito apertada para canto, Zaniolo acertou no minuto seguinte no poste e Ibañez apontou o 2-1 de cabeça ao primeiro poste na sequência de um canto (41′). Olhando para o relógio, Mourinho pedia a todos calma, acreditando que a reviravolta era possível. O dérbi romano estava relançado ainda com 45 minutos.
O segundo tempo prometia mais emoções fortes, com Immobile a ameaçar logo a abrir a baliza de Patrício antes de Zaniolo desviar de cabeça ao lado do poste de Reina. A Roma tentava subir linhas no sentido de pressionar mais alto sem bola, a Lazio procurava ter maiores tempos de posse mas as duas balizas ficavam ameaçadas mais a sério quando o jogo partia em transições e foi dessa forma que a equipa de Sarri chegou ao 3-1, com Immobile a ser solicitado na profundidade, a passar por Mancini e Patrício e a assistir para o remate de primeira na área de Felipe Anderson (63′). O dérbi parecia decidido, o dérbi voltaria a reabrir: numa grande penalidade que deixou também muitas dúvidas sobre Zaniolo, Veretout fez o 3-2 (69′). No entanto, e até final, o marcador não voltaria a funcionar, com a Lazio a segurar mesmo a vitória.
Após o apito final, e enquanto Maurizio Sarri celebrava como se tivesse ganho um título tendo mesmo parado junto da águia da Lazio (que é a antiga águia da Luz) enquanto os jogadores foram à curva fazer a festa com os adeptos, José Mourinho juntou os jogadores numa roda em grupo, falou alguns minutos com o plantel e saiu depois na frente dos agradecimentos à claque romana. Apesar de ter perdido o primeiro dérbi de Roma e o segundo jogo dos últimos três, o treinador português tentou ainda ganhar um grupo.