Cerca de 160 quilómetros separam Manchester e Leicester, duas cidades bem a norte de Londres. De carro, a viagem não chega a durar duas horas e meia pela M6, a principal auto-estrada que liga os dois locais. Esta sexta-feira, porém, as informações de trânsito em Inglaterra davam conta de um engarrafamento nessa mesma artéria, provocando horas de atraso e longas filas de trânsito. Ora, o Manchester United, que precisava de chegar a Leicester para defrontar a equipa de Brendan Rodgers este sábado, nem sequer arriscou: deixou o autocarro estacionado e realizou um voo privado de… Dez minutos.
A decisão do clube foi muito criticada pela comunicação social inglesa em particular e pela opinião pública no geral, principalmente devido ao caráter altamente poluente de um voo de apenas dez minutos. Mais: em julho, há três meses, o Manchester United anunciou uma parceria com o Renewable Energy Group, uma empresa que se dedica à produção de biodiesel, assumindo um compromisso com a sustentabilidade ambiental.
“Manchester United defended its commitment to clean energy” https://t.co/97xZv91RO8
— wyeates (@WYeates) October 16, 2021
Ainda assim, o clube defendeu a opção que tomou, justificou-a com o trânsito intenso na auto-estrada e respondeu às perguntas da BBC com quatro tópicos: disse que tem como política ter certificados energéticos “verdes” em todas as infraestruturas; que em 2020 alcançou a certificação Carbon Trust Standard pelo sexto ano consecutivo; que leva 12 anos seguidos de reduções nas emissões de carbono e na utilização de energia; e eu desde 2008 já cortou as emissões anuais de carbono em mais de 2.700 toneladas.
Voos à parte, o Manchester United defrontava este sábado o Leicester no King Power Stadium na antecâmara da receção à Atalanta, na quarta-feira, para a Liga dos Campeões. A entrar em campo já depois de o Liverpool ter goleado o Watford, a equipa de Solskjaer sabia que estava obrigada a vencer para chegar ao confronto com os reds, no próximo domingo, com apenas menos um ponto. Sem Fred, que ainda está com a seleção brasileira, nem Varane, que se lesionou na final da Liga das Nações, o Manchester United tinha a boa notícia do regresso de Harry Maguire e lançava Bruno Fernandes e Cristiano Ronaldo no onze inicial, para além de Matic, Pogba, Greenwood e Jadon Sancho. Do outro lado, Ricardo Pereira era titular no corredor direito da equipa de Brendan Rodgers.
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O Leicester começou melhor, com mais bola e maior presença no meio-campo adversário, e até poderia ter inaugurado o marcador com um cruzamento perigoso de Tielemans onde Jamie Vardy não chegou a tempo para desviar (6′). O Manchester United só começou a libertar-se para o ataque à passagem do primeiro quarto de hora e só precisou de criar uma oportunidade de golo para se colocar em vantagem: Bruno Fernandes apareceu tombado na direita, solicitou Mason Greenwood e o avançado de 20 anos tirou Castagne da frente com um movimento para dentro para depois rematar em arco com o pé esquerdo (19′). Num lance onde o posicionamento de Wan-Bissaka foi crucial — tanto o lateral direito como Luke Shaw, na esquerda, procuravam terrenos interiores a atacar para dar a ala aos avançados –, Greenwood fez um dos melhores golos da jornada e abriu o marcador.
O Leicester reagiu com uma jogada em que Ricardo Pereira ficou perto de empatar, com um cruzamento já quase sem ângulo que foi quase um remate e passou a rasar o poste (27′), mas o Manchester United viveu o seu melhor momento depois de alcançar a vantagem e acabou por conseguir estagnar a resposta imediata do adversário. Cristiano Ronaldo quase dilatou o resultado, com um remate já na grande área depois de uma assistência de Sancho que Kasper Schmeichel defendeu (28′), e a equipa de Solskjaer ia tentando ferir o Leicester principalmente a partir dos movimentos do corredor para dentro.
O conjunto de Brendan Rodgers atacava principalmente pela direita, para tentar explorar as debilidades defensivas da esquerda da defesa do Manchester United, e foi precisamente através de um erro de Harry Maguire que conseguiu chegar ao empate. O central perdeu a bola para Iheanacho depois de uma reposição de De Gea, o avançado solicitou Tielemans à entrada da grande área e o belga, de primeira e sem dar tempo à pressão adversário, tirou da manga um vólei perfeito que deixou o guarda-redes pregado ao chão (31′). Depois do empate, o Leicester assumiu uma ligeira superioridade na partida e voltou a encostar os red devils ao próprio meio-campo, com Iheanacho a ficar muito perto de marcar com um remate ao lado depois de uma combinação entre James Maddison e Tielemans (40′). Ao intervalo, porém, estava tudo empatado no King Power Stadium.
Na segunda parte, o Leicester continuou a tentar explorar as fragilidades defensivas do Manchester United. Logo nos instantes iniciais, Jadon Sancho perdeu a bola para Ricardo Pereira e o lateral português procurou assistir Iheanacho, que rematou de fora de área para De Gea defender (46′). A equipa de Solskjaer respondeu com um pontapé de Matic, que atirou em posição frontal mas ligeiramente por cima da trave (55′), mas a verdade é que o jogo ia mantendo a dinâmica do primeiro tempo e era mais discutido no meio-campo do que junto às balizas, com as oportunidades a escassearem de parte a parte.
Jadon Sancho saiu já depois da hora de jogo, deixando para trás mais uma exibição pobre e de pouca criatividade, e foi substituído por Rashford, que voltou de lesão e estreou-se esta temporada. Mason Greenwood ficou muito perto de bisar com um remate ao lado depois de um cruzamento inicial de Bruno Fernandes (65′) mas o Manchester United ia caindo em rendimento e intensidade com o avançar do relógio e permitia a superioridade do Leicester. Bruno não estava em jogo, Pogba ressentia-se do facto de atuar no meio e não a partir da direita e Cristiano Ronaldo aparecia sempre demasiado sozinho enquanto referência ofensiva. A equipa de Solskjaer ia recuando, o espaço entre setores era cada vez maior e subsistia a ideia de que um golo, a aparecer, seria do Leicester.
E apareceu. Já depois de De Gea evitar o bis de Tielemans com uma enorme defesa (75′) e Ronaldo atirar um vólei por cima após um passe de Rashford (77′), Söyüncü aproveitou uma defesa incompleta do guarda-redes do Manchester United na sequência de um canto para marcar na recarga (78′). Solskjaer tirou Matic e Greenwood para lançar McTominay e Lingard e o Leicester tentou aproveitar um período de total desnorte do adversário, com Daka a ficar muito perto do terceiro golo instantes depois de substituir Iheanacho (78′). Os red devils ainda conseguiram reduzir por intermédio de Rashford, num lance completamente isolado em que Lindelöf tirou um passe longo para as costas da defesa e descobriu o avançado na cara de Schmeichel (82′), mas o empate pouco ou nada durou.
Logo no reinício de jogo, a equipa de Brendan Rodgers mostrou que os níveis de concentração que impunha na partida nem sequer podiam ser comparados com os do adversário. Castagne foi lançado no corredor esquerdo de imediato, conseguiu soltar Ayoze Pérez e o espanhol descobriu Jamie Vardy na grande área, com o avançado inglês a atirar de primeira para resolver um jogo em que nem sequer estava a realizar uma grande exibição (83′). Até ao fim, Daka ainda aproveitou mais um erro de posicionamento de Harry Maguire para fechar as contas, ao aparecer nas costas do central a desviar um livre ao segundo poste (90+1′).
O Manchester United perdeu e perdeu bem e somou a terceira jornada consecutiva sem ganhar na Premier League — para além de ter voltado a ser derrotado longe de Old Trafford 29 jogos depois, desde janeiro de 2020. A equipa de Solskjaer foi demolida pelo Leicester, que conseguiu expor todas as fragilidades defensivas de um conjunto cujos próximos compromissos são contra a Atalanta, o Liverpool, o Tottenham e o Manchester City. E para aprender a defender, será preciso bem mais do que um voo de 10 minutos.
FULL-TIME Leicester 4-2 Man Utd
What a match! @LCFC end Man Utd's 29-match unbeaten run away from home in the #PL #LEIMUN pic.twitter.com/J6A3ag7AaB
— Premier League (@premierleague) October 16, 2021