Lisboa é o distrito com mais aquedutos em Portugal, país que, no que toca a este património cultural da água, se destaca por ter o aqueduto com mais arcos ou a mais alta nora do mundo.
Em Portugal há pelo menos 42 aquedutos, dos quais 15 construídos para abastecimento público de água e 26 para abastecimento privado, “embora em alguns momentos do seu trajeto tivesse de respeitar que houvesse concessão para chafarizes públicos”, disse à agência Lusa Pedro Inácio, autor da obra “Património Cultural da Água – Roteiro de Aquedutos”.
O livro, editado pela Câmara de Mafra, com a parceria da Comissão Nacional da UNESCO e do Museu da Água, foi esta quinta-feira apresentado no Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos, numa sessão em que o autor partilhou curiosidades que marcam o roteiro pelos 42 aquedutos.
Folio. Festival Literário de Óbidos começa esta quinta-feira com edição dedicada ao “Outro”
Lisboa, com 12 exemplares destas construções destinadas ao transporte e distribuição de água é o distrito do país com mais aquedutos, mas, segundo Pedro Inácio, “o aqueduto dos Arcos, em Setúbal, é aquele que os estudos apontam como tendo sido o primeiro a ser construído em Portugal“, estimando-se que tenha entrado em funcionamento no ano 1.500.
Do levantamento que dá corpo à obra, o autor aponta “várias curiosidades” destacando, por exemplo, o aqueduto de Vila do Conde, como aquele com “maior número de arcos do mundo”, apresentando 999 ao longo da sua extensão, que termina no Mosteiro de Santa Clara.
“Praticamente é o aqueduto que se projetava, na sua totalidade, só e apenas em arcos”, terminando no Mosteiro de Santa Clara, também em Vila do Conde, ao qual “há quem chame simbolicamente o arco mil”, disse o também conservador do Museu da Água.
Por sua vez o maior aqueduto gravítico de Portugal é o do Alviela, com 114 quilómetros de extensão, construído em 1880 para reforçar o abastecimento de água à cidade de Lisboa, trazendo-a desde Alcanena e “tendo como única força motriz a gravidade”, explicou o autor.
Já o aqueduto das Águas Livres, em Lisboa, destaca-se por ter o mais alto arco do mundo, construído em pedra, com “65 metros de altura, contados desde a antiga ribeira de Alcântara até ao passeio onde se pode atravessar o aqueduto, desde Campolide até ao parque florestal de Monsanto”, precisou.
No Alentejo o autor destaca, em Elvas, o aqueduto com “quatro níveis de arcos, com maior extensão a nível mundial”, perfazendo 1.113 metros. E, em Serpa, o aqueduto tem “a maior nora para abastecimento de água da Península Ibérica, com 20 metros de altura”.
No território que conta com quatro aquedutos classificados como património da organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) – Tomar, Évora, Elvas e Mafra -, há ainda a registar o caso do aqueduto de Santa Clara, em Coimbra, construído com o propósito de abastecer o Mosteiro de Santa Clara, mas que, “devido a erros de cálculo nunca chegou a funcionar” e, depois de nunca ter conseguido levar a água ao seu destino, acabou por ser “parcialmente derrubado” quando da construção do itinerário complementar local (IC2).
A par com o mais completo roteiro de aquedutos já publicado em Portugal, o livro integra ainda um capítulo dedicado ao Jardim do Cerco, em Mafra, onde o rei João V, o Magnânimo, mandou plantar toda a espécie de árvores e plantas vindas de todo o mundo.
A obra pode ser adquirida nas bibliotecas municipais, pelo valor de 20 euros, estando ainda prevista uma edição bilingue.
O Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos, decorre na vila até domingo, marcado por mais de 160 iniciativas em que participam 175 autores.
O programa inclui dezasseis mesas de autor, nove concertos, 10 exposições, quatro workshops de banda desenhada, entre outras iniciativas.