Carlos Moedas apresentou-se como “o presidente da Câmara da Inovação” e garantiu que a inovação lhe está “no ADN” na abertura da Web Summit. Na primeira intervenção de um político da conferência, o recém-eleito autarca lisboeta desejou boas-vindas à capital portuguesa e lembrou que já esteve no evento quando era comissário europeu da investigação, ciência e inovação: “Estive aqui convosco já desde o início. E foi aqui que conhecemos mentes e pessoas incríveis que me inspiraram a fazer o meu trabalho. Elas ajudam-me todos os dias”.
Carlos Moedas, um social-democrata, partilhou palco esta segunda-feira com o ministro do governo socialista Siza Vieira numa altura sensível para a política nacional: estão em lados distintos da barricada numa altura em que o país se prepara para seguir para eleições legislativas antecipadas, no início do próximo ano, à conta do chumbo do Orçamento do Estado para 2022 no Parlamento. Mas em plena Web Summit, quaisquer divergências parecem ter sido postas de partes: o ministro da Economia e o Presidente da Câmara de Lisboa até partilharam selfies na fila da frente do evento, por sugestão de Siza Vieira.
O novo presidente da Câmara de Lisboa (que derrotou Fernando Medina nas eleições de setembro) partilhou o sonho de ver a capital portuguesa como “a capital mundial da inovação”. E depois de recordar a criação do Conselho Europeu da Inovação, que permitiu investir 10 mil milhões de euros anuais em projetos inovadores, até prometeu fundar, com a ajuda na Web Summit, uma “fábrica de unicórnios” já a partir de 2022. “A mensagem que tenho hoje é muito simples”, atirou Carlos Moedas: “O que quer que façam da vida, o que quer que seja o vosso projeto, sonhem em grande e mergulhem nos detalhes. Mergulhem nos detalhes, meus amigos”.
O autarca-social democrata falou depois de Paddy Cosgrave. O fundador e presidente executivo da Web Summit admitiu que, ainda há cinco meses, “não havia certeza se a Web Summit ia mesmo acontecer ou não”, mas o que aconteceu nos últimos dois meses e meio foi “extraordinário”.
No mesmo discurso, o recente líder da Câmara Municipal de Lisboa citou Steve Jobs, o fundador da Apple, e como a “atenção ao detalhe” que teve fizeram da empresa que criou grande. “Sonhem grande nos detalhes”, disse ao afirmar que o empreendedor norte-americano teve esse cuidado ao criar os primeiros computadores.
Pedro Siza Vieira, ministro da Economia, foi o primeiro membro da liderança política nacional a discursar na conferência, e admitiu que “Portugal foi muito impactado pelas restrições”, à semelhança de países como Espanha, França ou Itália, por grande parte da economia ser dependente do turismo, que congelou durante a pandemia.
Pedro Siza Vieira, ministro da Economia, na apresentação da Web Summit 2021. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR
“Mas recuperámos muito depressa”, afirma o ministro: “À medida que os planos de vacinação progrediram, vimos que crescemos mais fortes do que a média europeia”. Siza Vieira acordou que “ninguém acreditava que se conseguia manter a economia em pé”, mesmo com grande parte do trabalho a realizar-se no mundo digital. Mas “descobrimos que o desenvolvimento tecnológico para trabalhar é mais natural do que acreditávamos” e “acelerámos a passada da mudança no futuro”.
O ministro da Economia contabilizou que, entre janeiro e setembro, dois terços da energia utilizada em Portugal vinha de fontes renováveis. O objetivo, indicou Siza Vieira, era que o preço da eletricidade fosse mais baixo: “Este é o caminho. Vamos acelerar isso na nossa transição climática”.
Além da aposta das energias amigas do ambiente, o líder da pasta da Economia nomeou mais dois argumentos para que as startups participantes na Web Summit lancem os seus negócios a partir de Portugal: a segurança — Siza Vieira insistiu que o país é o terceiro mais seguro do planeta — e o controlo da pandemia de Covid-19 — afinal, Portugal é também o país com mais pessoas vacinadas contra a doença provocada pelo coronavírus. E “isso mostra tudo”, concluiu o ministro.
A mensagem final de Pedro Siza Vieira foi ao encontro da deixada também por Carlos Moedas, apelando aos estrangeiros que visitam Portugal por estes dias que encontrem por cá um “país onde as pessoas gostam de vir e trabalhar”. “Espero que gostem da Web Summit e destes dias em Lisboa, mas espero que voltem. Lisboa e Portugal é o sítio para viver e fazer negócios, numa maneira que aceita a diversidade e é aberta”, terminou o ministro.
JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR
Primeira Web Summit pós-pandemia abriu portas esta segunda-feira
A Web Summit está de volta em formato presencial. Esta segunda-feira, no Altice Arena, em Lisboa, decorreu o evento de abertura daquela que diz ser a maior conferência de tecnologia e empreendedorismo da Europa. No palco estiveram também Frances Haugen, a denunciante que expôs práticas nefastas do Facebook (agora Meta); Paddy Cosgrave, o presidente executivo e fundador do evento; e Opal Tometi, uma das representantes do movimento #BlackLivesMatter.
A apresentadora Filomena Cautela foi a primeira a subir a palco e assumiu que a “Opening Night” ainda não tinha começado às 17h, ao contrário do que a organização tinha agendado na agenda oficial do evento. A essa hora, e até às cerca das 18h15, vários empreendedores de startups que vão estar no recinto nestes dias fizeram um pitch para uma audiência que, a pouco e pouco, foi ficando mais preenchida.
O cruzamento de Pedro Siza Vieira e o autarca social-democrata Carlos Moeda no palco principal da conferência acontece numa altura em que o chumbo do Orçamento do Estado precipitou o país numa crise política que culminará em eleições legislativas antecipadas no início do próximo ano. A confirmação do Presidente da República da dissolução do Parlamento ocorrerá no mesmo dia em que Marcelo Rebelo de Sousa participará na Web Summit, no último dia da conferência, a 4 de novembro.
13 oradores que não pode perder na Web Summit que volta a Lisboa
