Foram lovable losers (adoráveis perdedores) durante mais de cem anos, até que, há meia década, conseguiram vencer novamente o título que tanto almejavam. Os Chicago Cubs, equipa de basebol da MLB – a principal liga da modalidade nos EUA -, chegaram em 2016 a uma nova vitória numa World Series (final da competição). Foram 108 anos sem vencer, desde 1908, épocas e épocas de sofrimento para várias gerações de adeptos, juntando a este caldeirão ainda o ingrediente maldições, pelo menos para os mais supersticiosos.
Começando pelo fator mais difícil de controlar, independentemente da veracidade, a principal maldição lançada aos Cubs foi logo no pós-II Guerra Mundial, da última vez antes de 2016 em que os lovable losers tinham chegado à World Series. Então, na época de 1945, o Wrigley Field, estádio da equipa do Illionis, viu entrar nas suas bancadas o adepto Billy Sianis. Em boa posição para vencer o título, os fãs ao redor de Billy não gostaram muito da companhia do mesmo… um bode chamado Murphy. Diz a lenda que, com a chuva que caiu naquele dia, o animal ficou com um cheiro, no mínimo, pouco agradável, tendo Bill (e Murphy) sido convidados a sair do estádio. O homem terá então dito algo como “não voltarão a ganhar”. O que reza a lenda varia de época para época, pessoa para pessoa e até depende da geração, mas pode-se dizer que o bode expiatório tem sido sempre o mesmo. A verdade é que os Cubs não mais ganharam até 2016.
A história da equipa de Chicago, pelo menos no início do século XX, não era assim tão problemática.
É que em 1907 e 1908 os Cubs foram campeões, tornando-se a primeira equipa a ganhar duas World Series consecutivas, chegando novamente aos jogos decisivos em 1910, perdendo com os Philadelphia A’s. Até 1945, altura da “maldição”, a equipa conseguiu tornar-se a segunda melhor ao nível do rácio vitórias/derrotas, chegando mais seis vezes às finais, mas sem sucesso.
Foi no meio dessa senda de boas épocas que, em 1926, surge o mítico estádio Wrigley Field. Já estava construído em 1916, tendo sido renomeado Cubs Park em 1920. Depois de William Wrigley, magnata e empresário do ramo das pastilhas elásticas, ter adquirido a equipa, o campo ficou então com o seu nome.
Anos e anos depois, foi em 2003 que surgiu um novo capítulo da malapata dos Cubs, mas através… de um adepto. O homem, Steve Bartman, estava no Wrigley a ver a sua equipa a uma vitória de se apurar para as World Series e estava até em vantagem no sexto jogo da eliminatória frente aos Florida Marlins. Steve tentou agarrar uma bola que ia para a bancada e, sem querer, claro está, prejudicou a equipa pela qual torcia. Não só os cubbies acabaram por perder o jogo, como falharam o apuramento para a fase mais decisiva da temporada. Steve Bartman, que nunca mais voltou a Wrigley Field, recebeu ameaças de morte, foi insultado e até agredido.
Até este ano, os Chicago Cubs alcançaram sempre os playoff da Major League Baseball (MLB), falhando apenas em 2019 e conseguindo uma senda que corresponde a um dos melhores momentos da história da equipa desde os tais anos do pós-grande guerra. Mas, no entanto, ninguém lhes tira aquele 2 de novembro de 2016, com uma festa, como só poderia ser, grandiosa, após 108 anos de derrotas. Os Cleveland Indians bem tentaram não ser o amuleto dos Cubs, mas não conseguiram sair vitoriosos.
Segundo alguns relatos, 5 milhões de pessoas saíram às ruas de Chicago para festejar o fim dos losers.