À esquerda, (quase) tudo na mesma. A primeira sondagem para apurar as intenções de voto desde que a crise política começou indica que, se as eleições legislativas fossem hoje, o PS voltaria a ganhar sem maioria absoluta. A maioria do Parlamento continuaria, tal como em 2019, a situar-se à esquerda, pelo que o cenário político não mudaria drasticamente.

A sondagem, feita pela Aximage para DN, JN e TSF, aponta ao PS um ligeiro reforço (38,5%, mais nove décimas do que há dois anos), o que, somando as intenções de voto de BE e PCP,  atribuem à esquerda 52% dos votos. No estudo, feito já no rescaldo da crise política — o Orçamento foi chumbado a 27 de outubro e o trabalho de campo foi feito entre 28 e 31 de outubro, com 803 entrevistas — o Bloco de Esquerda não surge prejudicado pela crise política, conseguindo 8,8% dos votos, ligeiramente abaixo do resultado de 2019 mas acima da última sondagem da mesma empresa. Já a CDU (PCP+PEV) conquistaria 4,6% dos votos — uma ligeira descida em relação ao último inquérito que mantém a tendência de descida do partido (em 2019, teve 6,3%) e que mostra os comunistas a serem ultrapassados por Chega e Iniciativa Liberal.

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O único sinal que fica, assim, de “castigo” à esquerda pela crise política é no parâmetro que analisa a popularidade dos partidos políticos: é a primeira vez que António Costa tem, neste barómetro, um saldo negativo; para Catarina Martins e Jerónimo de Sousa já é costume, mas regista-se nova queda na popularidade de ambos; e André Ventura continua a ser o líder mais impopular.

Quanto à direita, apareceria, se as eleições fossem hoje, com mais quatro pontos do que em 2019 na soma total dos partidos, mas mais fragmentada e sem maioria. O PSD conquista, neste estudo, 24,4% dos votos, abaixo da última sondagem e do resultado de Rui Rio em 2019, numa altura em que não é certo quem liderará o partido nas próximas eleições (Rio ou Paulo Rangel). Como quarta força, depois de PS, PSD e BE, aparece o Chega, com 7,7% dos votos — Ventura teria assim um grupo parlamentar com um tamanho considerável. Seguir-se-iam, por esta ordem, Iniciativa Liberal, CDU, PAN e CDS.

Marcelo nas entrelinhas. As justificações, o ajuste de contas e a morte da geringonça

O estudo é noticiado um dia depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter confirmado a decisão de dissolver a Assembleia da República e avançar para a convocação de eleições antecipadas a 30 de janeiro. Na declaração que fez ao país, nesta quinta-feira, Marcelo atribuiu a responsabilidade pela crise política aos partidos de esquerda, argumentando que neste processo ficou exposta uma “divisão por completo” da base de apoio do Governo e as “divergências maiores” que separam os antigos parceiros de geringonça.