“Não há maior retribuição do que ver e sentir a felicidade genuína nas caras dos adeptos e dos sócios que realmente ficam felizes pelo Sporting estar bem, a vencer e saudável. É para isso que trabalhamos, para ver a vossa felicidade, o vosso orgulho em vestir a nossa camisola, com o símbolo de campeão nacional. A maior retribuição é chegar a Parambos – ou a qualquer outro local – e sentir a real felicidade e alegria. O Sporting voltou a ser respeitado internamente mas sobretudo voltou a ser respeitado pelos nossos grandes rivais. O Sporting voltou a contar para eles. É campeão, luta por todos os títulos, é respeitado, competitivo e nunca abdica dos seus valores. É um grande orgulho que sinto, é algo inegociável para os sportinguistas. Esta vitória é para vocês, é para aquele leãozinho, o Tomás, que nunca tinha visto o Sporting a vencer e que viu – e que vai contar aos filhos, porque o Sporting vai continuar por muitos anos” .

Aproveitando a visita do Sporting a Paços de Ferreira, Frederico Varandas, presidente dos leões, fez uma visita à aldeia de Parambos, em Carrazeda de Ansiães, que é há muito descrita como “a mais sportinguista de Portugal” com 150 habitantes que são todos adeptos verde e brancos. E falou, em particular, para uma das crianças que ouvia o discurso da praxe, o pequeno Tomás, que nunca tinha visto o clube campeão de futebol e que vê agora o escudo do título nas camisolas leoninas. “Felizmente não está aqui só o Sporting Clube de Portugal, está também aqui o campeão nacional”, acrescentou o número 1 do clube.

O trajeto do futebol dos lisboetas no mandato de Frederico Varandas foi feito de obstáculos com um fator diferenciador entre setembro de 2018 e novembro de 2021: Rúben Amorim, contratado ao Sp. Braga em março de 2020, uma semana antes do primeiro confinamento pela pandemia. Até aí, os obstáculos existiam e só raramente eram superados; a partir daí, poucos dos obstáculos existentes não foram superados. E era nesse contexto que o Sporting chegava à Capital do Móvel, lutando por mais um obstáculo atingível que passava pela oitava vitória consecutiva, igualando a melhor marca conseguida na época passada.

Quando muitos apontavam para um natural reflexo do aumento de jogos no calendário em comparação com 2020/21, ainda para mais compromissos para a Liga dos Campeões frente a adversários com outros argumentos sobretudo a nível de experiência na principal prova europeia de clubes, o Sporting superou as duas derrotas iniciais na Champions, passou por cima dos empates iniciais no Campeonato com Famalicão e FC Porto, e começou depois da derrota em Dortmund uma série de sete triunfos seguidos entre Primeira Liga, Taça de Portugal, Taça da Liga e provas europeias, abrindo até a improvável porta de acesso aos oitavos da Liga milionária depois do mau arranque que será discutida com os alemães após a paragem para as seleções. Ou seja, um triunfo em Paços de Ferreira fecharia este último ciclo apenas com vitórias.

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Era preciso recuar mais de 80 anos para encontrar tamanhas percentagens de vitórias numa só temporada. Perante a “euforia”, adensada pela goleada em Alvalade com o Besiktas, Rúben Amorim voltara a colocar um travão nas vitórias antecipadas e quis enviar um chamamento à terra para fora e utilizou o exemplo do principal rival para acalmar as hostes leoninas: “A única coisa que posso dizer é que há um mês tínhamos duas derrotas na Champions, estávamos atrás do Benfica, que estava lançado na Liga dos Campeões e estava em primeiro. Serve para mostrar que não há bem que dure para sempre. Sabemos que estas séries de vitórias não costumam se alongar por muito tempo e tentamos contrariar isso. Temos de ser humildes. É indiferente aquilo que se passa nos rivais. Demorou para construirmos o ambiente que temos aqui. A forma como abordamos os jogos seja onde for e como as pessoas olham para nós tem muito impacto. Fazendo isso, estamos mais próximos de garantirmos a nossa paz e é isso que nós queremos”.

Rúben Amorim percebia o momento que a equipa atravessava e sabia que, em condições normais, este seria mais um encontro para ganhar. Futebol e oportunidades à parte (que foram muitas), é algo que se nota nos pormenores: na forma como o primeiro golo foi festejado, na maneira como os adeptos estão com a equipa, na confiança com que os jogadores jogam, na cumplicidade que todos os elementos têm, na ajuda extra que quem sai do banco leva para o campo. Este é o grande legado do treinador neste Sporting, que depois fez uma transposição disso mesmo para mais uma vitória justa e por números que até ficaram curtos que voltou a ter início na sequência de uma bola parada. Agarrando na frase eternizada por António Oliveira no início dos anos 80, neste Sporting 2021/22 “por cada canto que cair, outro golo se levantará”.

A forma confiante como a equipa do Sporting está a jogar ficou como a principal imagem de marca nos minutos iniciais, tendo os leões em constantes movimentos ofensivos sem que o P. Ferreira conseguisse ter sequer bola para “respirar” e subir linhas. Os leões saíam bem, utilizavam de forma pragmática as laterais conseguindo quase sempre superioridade (até porque Matheus Reis, hoje central, fazia muitas vezes o movimento de lateral), exploravam a profundidade e tinham um completo domínio a meio-campo do corredor central mesmo tendo desvantagem numérica. André Ferreira evitou nessa fase avassaladora dois golos, num cabeceamento de Coates após canto (8′) e num tiro de primeira de Ricardo Esgaio (10′).

Só mesmo numa rara falha de Matheus Nunes, que talvez por excesso de confiança fez um atraso na área que ficou curto, o P. Ferreira conseguiu dar um sinal ofensivo, tendo João Pedro a intercetar a bola, a tirar Adán do lance mas a desviar já sem ângulo para as malhas laterais da baliza leonina. No entanto, e mesmo com o Sporting a estar sempre melhor e mais confortável no jogo, esse momento teve o condão de atirar a partida para uma fase diferente, onde os pacenses foram conseguindo mais alguns momentos com bola e os lisboetas encontraram outras dificuldades na chegada ao último terço contrário, mesmo com a tentativa de saída dos centrais pelos dois lados no sentido de criar outras dificuldades aos pacenses.

Pouco antes da meia hora, Nuno Santos surgiu em boa posição na esquerda para cruzar mas procurou o primeiro poste com Sarabia em sucesso (28′); pouco depois da meia hora, e no seguimento de mais uma jogada ofensiva bem gizada, Ricardo Esgaio arriscou o remate em vez do cruzamento mas saiu perto do poste (32′). Apesar de um remate perigoso de Antunes desviado de cabeça por Matheus Reis para canto já nos descontos, era o Sporting que mantinha o domínio mas sempre com alguma coisa a falhar na hora da verdade, fosse pelo demérito na finalização ou no último passe, fosse pela ação de André Ferreira.

Os dados históricos valem sempre o que valem mas o Sporting tinha um desafio complexo pela frente: ganhar pela primeira vez na Capital do Móvel após ter chegado com um nulo ao intervalo (seis empates e quatro derrotas). E Gonçalo Inácio demorou menos de dois minutos para começar a desbloquear mais esse obstáculo, inaugurando o marcador com a fórmula do costume quando o jogo corrido não trazia golos: na sequência de uma ameaça de Nuno Santos desviada para canto, Coates ganhou de cabeça, devolveu para o poste contrário e o jovem central encostou também de cabeça para o 1-0 (47′) com os leões a festejarem esse desbloquear da partida com os adeptos nas bancadas como se fosse o minuto 90.

O Sporting confirmava o estatuto de equipa com mais golos na sequência de cantos e chegava àquela zona de conforto que tem encontrado nas derradeiras partidas do Campeonato. Chegou e não ficou por aí, longe disso, ao contrário dos encontros anteriores: depois de uma primeira reação dos pacenses com dois lances perto da área de Adán mas sem finalização, os leões não quiseram jogar no risco, continuaram a arriscar nas transições ofensivas e chegaram de forma quase natural ao segundo golo, numa grande combinação pela direita entre Esgaio e Tabata com assistência do lateral para o remate de primeira de Pedro Gonçalves, a regressar aos golos no Campeonato após ter bisado na Liga dos Campeões (69′).

O encontro ficava arrumado mas os números poderiam ter sido outros, fosse pelas duas ocasiões em que Paulinho surgiu isolado em frente a André Ferreira sem conseguir marcar também o “seu” golo (a segunda depois de uma grande recuperação de bola em zona adiantada mas com um chapéu denunciado a permitir a defesa ao guarda-redes pacense), fosse pelo golo anulado pelo VAR a Coates por adiantamento de Nuno Santos na sequência de um canto, fosse pelo livre direto de Pedro Gonçalves que passou perto da trave de André Ferreira. As contas da vitória estavam fechadas e os leões fechavam um ciclo difícil só com vitórias, a última das quais em Paços de Ferreira com grande superioridade e arriscar uma maior vantagem.