Portugal deve administrar a dose de reforço a todos os idosos a partir dos 80 anos até ao fim de novembro se quiser evitar que o decaimento da proteção induzida pelas vacinas se reflita num aumento na pressão hospitalar à conta da subida no número de casos.
Em declarações ao Observador, após a publicação de um ensaio em co-autoria com o engenheiro Carlos Antunes, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes admite que “há aqui incertezas e não há data mágica”, mas que, por precaução, lhe parece “recomendável evitar entrar em dezembro sem as pessoas com 80 anos ou mais reforçadas” com a terceira dose.
O ensaio publicado esta segunda-feira na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa alertava que Portugal está a assistir ao início da quinta vaga, que deve atingir os 2.000 casos na primeira quinzena de dezembro e nem uma elevada cobertura vacinal bastará para erradicar o vírus.
“Não esperamos que a Covid-19 , só por si, venha a causar uma pressão sobre o sistema hospitalar equiparável ao período pré-vacinação”, sublinharam os especialistas. Mas a diminuição da proteção induzida pela vacina nas pessoas vacinadas há mais tempo só será recompensada se o reforço vacinal aos mais idosos (que foram dos primeiros a participar no processo de vacinação e os que mais sobrecarregam os hospitais com Covid-19 grave) for “suficientemente rápido”.
Questionado pelo Observador sobre qual terá de ser a velocidade da campanha para a terceira dose, Manuel Carmo Gomes aposta na vacinação dos mais idosos antes de dezembro. Estimando o número de novas infeções expectável para os próximos dias com o R(t) a 1,1, e tendo em conta que aproximadamente 15% delas serão indivíduos a partir dos 80 anos, o epidemiologista consegue também calcular quantos serão casos graves e perceber que “este número começa a aumentar em meados de dezembro”.
“Por precaução, é melhor não chegar lá sem reduzir drasticamente a percentagem de casos graves ainda antes” dessa altura. E isto faz-se “com o reforço, claro”, conclui Manuel Carmo Gomes. De resto, os reforços vacinais são um instrumento essencial para manter a proteção imunológica da população portuguesa, sobretudo em grupos com maior risco de infeção e de transmissão do vírus — não só os idosos.