Portugal está a atravessar agora o início da quinta vaga da epidemia de Covid-19, admitem o epidemiologista Manuel Carmos Gomes e o engenheiro Carlos Antunes num ensaio publicado esta segunda-feira na página da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Se o R(t) — a medida que indica quantas pessoas alguém infetado com o coronavírus pode contagiar — se mantiver nos valores atuais, o país deve atingir os 2.000 casos confirmados na primeira quinzena de dezembro.
O número de óbitos será, no entanto, “pequeno”. A pressão hospitalar não deve ser comparável à vivenciada há um ano graças à vacinação. Aliás, nas contas dos dois cientistas, se as vacinas não estivessem disponíveis, Portugal tinha atingido os 3.000 internamentos no pico da quarta vaga, em julho, o que equivaleria à situação de fevereiro, quando o país estava na terceira vaga e em pleno confinamento. “Não esperamos que a Covid-19, só por si, venha a causar uma pressão sobre o sistema hospitalar equiparável ao período pré-vacinação”, diz o artigo.
No entanto, o decaimento da proteção induzida pela vacina — cinco a seis meses após a vacinação, o risco de infeção acentua-se e, nos mais idosos ou em pessoas com o sistema imunitário mais frágil, têm ocorrido casos de Covid-19 que culminam em hospitalização e, algumas vezes, em morte — pode trazer desafios ao próximo inverno, admitem os especialistas.
A não ser que a vacinação com a dose de reforço seja “suficientemente rápida”, compensando a queda da proteção por vacinação, a pressão sobre o serviço nacional de saúde aumentará. Só a elevada cobertura vacinal associada a medidas como o uso de máscaras e o arejamento de espaços fechados conseguirá retardar significativamente a propagação do SARS-CoV-2. A erradicação do vírus não está em cima da mesa, mas a adoção de apenas uma destas regras também não basta para controlar a situação epidemiológica.
“Portugal não se encontra ainda numa situação normalizada de infeção endémica semelhante à de outros vírus”. As infeções pelos SARS-CoV-2 ainda representam um peso significativo para a sociedade e para os serviços de saúde”, avisam Carmo Gomes e Carlos Antunes: “O pior já passou, mas a nossa convivência com o SARS-CoV-2 ainda não é pacífica”.