O Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas confessou que está “profundamente triste” com o caso de tráfico de drogas, diamantes e ouro que alguns militares portugueses montaram no seio das missões da Organização das Nações Unidas (ONU) na República Centro Africana. E apesar do “profundo repúdio” que expressou, diz que não está envergonhado: “Sabe porquê? Porque as Forças Armadas não são aquilo”.

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Estas foram as primeiras declarações prestadas pelo almirante António Silva Ribeiro desde que a Polícia Judiciária confirmou as centenas de buscas e as detenções efetuadas no âmbito da Operação Miríade que colocaram dois dos 11 arguidos em prisão preventiva.

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O Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas foi dos primeiros a saber das suspeitas que recaíam sobre dois militares, mas assegura que só percebeu a dimensão do esquema na segunda-feira: “Não havia, nem nunca houve até agora, a perceção de que o problema tinha esta dimensão”.

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O almirante assegurou que “não há possibilidade de repetição” do esquema de tráfico: após tomar conhecimento do caso, o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas instituiu medidas complementares que incluem mais ações de fiscalização no aeroporto e na preparação das bagagens, assim como mais controlo nas partidas para a República Centro Africana e na chegada a Portugal.

Atualmente, existe “um controlo rigoroso de todas as bagagens, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) é chamado, a Autoridade Tributária é chamada, a Força Aérea quando chegam as bagagens toma um conjunto de procedimentos muito rigorosos, muito mais rigorosos do que aqueles que existem nos aeroportos civis relativamente ao controlo de bagagens”.

António Silva Ribeiro referiu que “os militares entregam as bagagens 24 horas antes de entrarem nos aviões, as bagagens são verificadas, são revistadas, e depois são-lhes entregues só à chegada a Lisboa”.

Hoje em dia nós temos absoluta garantia de que esse tipo de ações, que são essencialmente de dissuasão, conjugadas com aquilo que são os valores fundamentais da instituição militar, são suficientes para garantir que esse tipo de desvios comportamentais não se repetiu desde 2019 e não se voltará a repetir”, afirmou.

Mesmo condenando os atos criminais alegadamente praticados por militares destacados na República Centro Africana, o almirante elogiou a iniciativa de quem, tendo tomado conhecimento do esquema em causa, o comunicou pela cadeia hierárquica militar. E apelou para que os crimes alegadamente cometidos por militares dos Comandos não ofusquem o “trabalho extraordinário”, “valor”, “prestígio” e os “brilhantíssimos serviços” das Forças Armadas naquele país.

Questionado sobre se este caso pode colocar num perigo ainda maior os militares portugueses atualmente destacados na República Centro Africana, o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas considerou que não porque “a ONU e as autoridades locais, tal como nós, vão compreender que este foi um fenómeno localizado, num grupo restrito e numa ocasião específica”.

“As nossas forças na República Centro Africana gozam de  prestígio pelos atos heróicos na defesa da vida das população“, considerou António Silva Ribeiro: “Foi depois de Portugal chegar que a paz e tranquilidade melhorou muito. Agora [as pessoas] vivem em melhores condições. Saberão bem avaliar o contributo que os militares deram naquele país ao serviço da ONU”.