José Saramago foi condecorado postumamente com o Grande Colar da Ordem de Camões, que distingue serviços prestados à língua portuguesa.

A distinção foi entregue esta terça-feira à noite, no Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, onde decorreu o concerto de abertura das comemorações do centenário de Saramago, que se assinala em 2022. A condecoração foi recebida por Pilar del Río, presidente da Fundação Saramago e viúva do escritor, antes do início do espetáculo.

“José Saramago, Prémio Nobel e Prémio Camões, bem merece que lhe seja conferida hoje, a título póstumo, outra distinção que evoca o nosso poeta quinhentista: a Ordem de Camões, definitivamente institucionalizada neste ano, e que se destina a galardoar serviços únicos prestados à cultura e à língua portuguesas. E estou certo de que essa definição e o Grande Colar que vou entregar a Pilar del Río contêm, em si mesmos, a justificação deste gesto tão merecido e tão simbólico, em nome de Portugal”, afirmou o chefe de Estado.

A Ordem de Camões foi criada este ano. O decreto-lei que criou a nova ordem foi aprovado em Conselho de Ministros em junho passado, para “distinguir quem preste serviços relevantes à língua portuguesa e à sua projeção no mundo e à intensificação das relações culturais entre os povos e as comunidades que se exprimem em português”.

Celebração dos 100 anos do nascimento de José Saramago começa esta terça-feira

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Numa intervenção de cerca de cinco minutos, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que Saramago seria o primeiro a reconhecer “que as palavras fazem coisas, levantam as pessoas da opressão, mudam-lhes o destino, mudam o que acontece, reveem a história, permitem o futuro”.

“A um escritor, e a um escritor como Saramago, é dado fazer acontecer o seu próprio destino, que é contrário de um destino: pertencer ao sítio onde se nasceu, mas ir mais longe, trabalhar a palavra dos outros como tradutor ou a atualidade como jornalista e escrever textos seus que vão muito além da circunstância, chegar aparentemente tarde ao cânone e nele se integrar com uma força indesmentível e irresistível, escrever para os portugueses e atingir todo o mundo”, declarou.

O chefe de Estado assinalou o alcance da “palavra do escritor” que, “sendo individual, dirige-se a todos, e chega a muitos, muitos, muitos milhões”, e realçou depois que a “palavra do Presidente”, por sua vez, “representa muitos, alguns milhões”, em nome dos quais atribuiu a Saramago a distinção póstuma com o mais alto grau da Ordem de Camões.

José Saramago nasceu a 16 de novembro de 1922. Apesar de o seu centenário só se assinalar no próximo ano, as comemorações arrancaram esta terça-feira, com um programa diversificado em torno do Prémio Nobel da Literatura. A abertura do programa aconteceu durante a manhã, numa cerimónia simbólica na Casa dos Bicos, sede da Fundação Saramago, em Lisboa.

O concerto no São Luiz, a cargo da Orquestra Metropolitana de Lisboa, foi antecedido pela leitura do “Manifesto pela Leitura”, da espanhola Irene Vallejo.