Presidentes dos principais bancos em Portugal disseram esta quinta-feira que já estão a trabalhar no tema dos riscos climáticos e defenderam alterações fiscais às empresas para incentivar a transição climática.
“O tema fiscal é decisivo para que esta transição seja incentivada”, disse o presidente executivo do BCP, Miguel Maya, na conferência Banca de Futuro, esta quinta-feira organizada em Lisboa pelo Jornal de Negócios.
O gestor defendeu ainda que, na União Europeia, sejam criados fundos para “ajudar os países mais expostos a riscos físicos” decorrentes das alterações climáticas (secas, incêndios, inundações) e, a nível nacional, disse que é necessário que avance o mecanismo de seguro com contragarantia de Estado que há décadas se discute para fazer face a eventuais grandes sismos em Portugal.
Maya afirmou ainda que o banco que lidera tem feito trabalho para “perceber o problema” e “quais as variáveis críticas em questão”.
“O sistema financeiro tem todas as condições para apoiar a transformação da económica portuguesa”, disse.
Também o presidente do BPI, João Pedro Oliveira e Costa, disse que a banca pode impulsionar a mudança (por exemplo, pelo designado financiamento verde) mas considerou que ainda não é “tão clarividente” como será feita a aplicação concreta das medidas, porque é preciso conhecer exatamente o que as empresas estão a fazer na mudança climática e ainda há poucos dados.
Defendeu ainda “estímulos fiscais” que promovam a transformação da economia portuguesa e considerou que é preciso “ter tempo para reagir ou a capacidade de errar é bastante grande”.
É importante não estar sozinho, se for só a banca europeia a mandar-se para a piscina há risco de perda de competitividade”, vincou o presidente executivo do BPI.
Para o presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Paulo Macedo, além dos incentivos fiscais para orientar compromissos para redução do carbono, é necessário também que as “empresas percebam que vão ser compensadas” pelos investimentos feitos.
Segundo Macedo, as empresas devem ser compensadas quando têm um modelo de negócio que permita fazer face a riscos climáticos físicos (como erosão costeira, inundações, incêndios).
O presidente executivo do Santander, Pedro Castro e Almeida, considerou crítico o acesso a dados das empresas nesta matéria para que a banca possa atuar. Afirmou ainda que o setor bancário poderá ter um papel preponderante no financiamento a eficiência energética, mobilidade, economia circular, energias renováveis, em linha com o objetivo de descarbonização da economia.
O Banco Central Europeu (BCE) vai realizar entre março e julho de 2022 os primeiros testes de ‘stress’ de riscos climáticos, para avaliar a exposição do setor financeiro da zona euro a catástrofes naturais e a uma transição ecológica mais rápida.
O supervisor bancário europeu disse, em outubro, que ser analisada a “vulnerabilidade” dos bancos a um cenário de “aumento rápido” do preço do dióxido de carbono (CO2) a partir de 2022, no quadro de uma transição acelerada para uma indústria livre de carbono e da adoção “abrupta” de medidas de regulação ambiental.
Os principais bancos da zona euro devem indicar, em particular, “a que ponto dependem de rendimentos” provenientes de indústrias com elevadas emissões de CO2. O questionário do BCE também analisará a quantidade de emissões de gases com efeito estufa que os bancos “financiam”, por exemplo, através de empréstimos.
Pela Caixa Geral de Depósitos, o presidente executivo, Paulo Macedo, disse que os bancos já fizeram uma primeira interação com o BCE sobre este tema e que têm agora um “plano para ver onde estão gaps [falhas] e continuar” o trabalho.
“Na Caixa, além de políticas internas, o fundamental é a informação que o banco tem para estimar riscos”, afirmou, considerando que para já são relativamente poucas as empresas que têm disponível a informação de que os bancos necessitam para avaliar os seus próprios riscos.
Pelo Novo Banco, António Ramalho considerou que aqui o que está em causa não é um “regulador pressionante”, mas a importância de o setor estar de acordo com as prioridades da sociedade. Disse ainda que o “operador banca é essencial à transformação, mas não o único”.
Além dos testes de stress para riscos climáticos, os bancos centrais podem vir a penalizar os bancos pela exposição a indústrias poluentes, obrigando a que reservem mais capital nesses financiamentos.
No ano passado, a agência de rating Fitch considerou que a avaliação do impacto dos riscos climáticos nos bancos europeus poderá levar de futuro a mais necessidades de capital.
Segundo a Fitch, é importante que os bancos fiquem mais conscientes de que as alterações climáticas aumentam outros tipos de riscos, como o risco de crédito (uma vez que há eventos — inundações, cheias, etc — que podem ter um impacto altamente negativo na qualidade dos seus ativos), e que devem apostar em negócios sustentáveis.