O Chega vai dar uma “última oportunidade” ao Governo regional dos Açores, liderado pelo PSD. Ao contrário do que André Ventura tinha garantido esta quinta-feira, quando deu indicações para deixar cair o Governo açoriano, o deputado regional José Pacheco veio esta sexta-feira dizer que afinal “nada está fechado” e que esta posição terá o “acordo” do próprio Ventura: “Eu falo todos os dias com o meu presidente nacional”. Ventura já confirmou, entretanto, a “sintonia” com o deputado, embora num tom bem mais pessimista quanto às hipóteses  de um entendimento nos Açores.

Ainda não é garantido o sentido de voto do deputado, que se irritou com os jornalistas, a quem disse para se “limitarem a dar informação” e a não entrar em “especulações”. “O que eu disse é que ainda estamos em conversações. Espero que até ao final de quarta-feira possamos dizer ‘sim ou sopas’”.

“O diálogo está a decorrer finalmente e esta é a verdadeira democracia, assente no diálogo”, explicou. “Estamos a fazer uma caminhada que, neste momento, considero positiva. Mas ainda com muito espaço em aberto e arestas para limar”. É tendo em conta os “desenvolvimentos” nas negociações dos últimos dias, que garante ter feito chegar a Ventura, que Pacheco assegura que tanto um como outro se sentem “mais confortáveis”.

E foi o próprio deputado regional que puxou pela comparação com a política nacional: “A concretizar-se, esta é uma prova de que é possível governar com o apoio do Chega. Este partido cumpre escrupulosamente os seus acordos, desde que a outra parte cumpra escrupulosamente aquilo com que se comprometeu. Veja-se como exemplo para a governação nacional: o Chega é um partido confiável, assim as outras partes demonstrem serem igualmente confiáveis”. O veredito é, por isso, dar uma “última oportunidade” a este “Governo de direita”, uma decisão que justificou com a prioridade que quer dar à “estabilidade” política nos Açores.

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As declarações chocam de frente com as que André Ventura fez na quinta-feira, quando disse taxativamente, também em conferência de imprensa, que tinha dado ordens para deixar cair o Governo regional depois de ouvir Rui Rio dizer que não aceitaria uma coligação com o Chega nem que dependesse disso para formar Governo. Na altura, Ventura disse que, assim sendo, o PSD “não merece a consideração” do Chega, nem sequer nos Açores. Mas o deputado regional logo tratou de avisar, em declarações à Lusa, que a “última palavra” seria sua.

Já esta sexta-feira, minutos depois da conferência de imprensa, Ventura reagiu à posição de Pacheco. Num curto vídeo enviado às redações, assegurou que estão em “total sintonia”, embora faça um balanço num tom bem mais pessimista do que o do deputado regional: “O Chega chegou a um ponto de saturação face ao PSD nacional e regional. A incapacidade de coisas básicas, como compromissos na luta contra a corrupção, na redução do Governo, atingiram o nosso ponto de saturação”. Ainda assim, e “conforme deixou muito claro” Pacheco, as negociações “não estão encerradas”, confirmou Ventura. “Há exigências muito claras que, a não serem cumpridas, determinarão o voto contra o Orçamento e a inviabilidade deste Governo. É importante que percebam que no Chega não nos vendemos”.

Chega vai retirar apoio ao governo regional dos Açores. “Rui Rio não merece a consideração do Chega”, diz Ventura

Agora, Pacheco veio insistir uma e outra vez que não “deixará mal” as pessoas que confiaram e votaram no Chega e que não está preocupado com o seu próprio futuro político — “Nunca serão em virtude de um cargo ou em troca de rendimento político” — depois de o outro deputado do Chega, Carlos Furtado, já ter há meses passado a não-inscrito, reduzindo o então grupo parlamentar do partido a apenas um assento.

Focado, ao contrário de Ventura, nas negociações concretas do Orçamento dos Açores, especificou sobre os tais avanços que estarão em causa nas negociações: o Chega “não abdica” de ver “metas temporais” bem concretas e definidas e tem linhas vermelhas. Por um lado, “o custo da máquina do elenco governativo continua a engordar. O Governo precisa de ser reduzido quanto antes. Tenho, no entanto, a garantia do presidente do Governo [José Manuel Bolieiro, do PSD]  de que será para breve”, avançou Pacheco. Por outro, também haverá já uma “proposta de redução do endividamento da região, o que já deixa o Chega “um pouco mais confortável”.

Quanto ao número de beneficiários do Rendimento Social de Inserção, garantiu, “é uma questão de que o Chega não desiste e que vai estar sempre na ordem do dia até o compromisso ser cumprido. O Chega irá apresentar a curto prazo uma proposta que visa uma melhor e mais eficaz fiscalização” e esta sexta-feira o PSD terá dado já “a garantia de que será acolhida”. Por fim, o presidente do Governo regional terá ainda assegurado que em dezembro o gabinete anticorrupção desejado pelo Chega começa a funcionar e o partido terá “um papel ativo na sua orgânica”.

“As oportunidades que se dão não podem ser gratuitas, dadas de olhos fechados”, rematou o deputado regional. Sem o voto de Pacheco, o Governo liderado por Bolieiro pode mesmo cair, uma vez que o voto do Chega é essencial para fazer o Orçamento passar — são necessários todos os votos de PSD, PPM, CDS, IL, Chega e o deputado não inscrito. Mas, com esta posição, Pacheco mostra que fará o impasse continuar até ao fim, devendo anunciar a decisão final na próxima quarta-feira.

Texto atualizado às 13h06 com a reação de André Ventura.