“Muita humildade”, ataques ao bloco central e um objetivo: manter-se como terceira força política nacional. Em traços gerais, foi assim que a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, se apresentou já a caminho das eleições de 30 de janeiro, fazendo questão de deixar essa fasquia bem clara — e sem lhe acrescentar novas ambições.

Foi na RTP1, num ciclo de entrevistas sobre as eleições antecipadas, que Catarina Martins traçou o objetivo do Bloco — chegou a falar de aumentar o grupo parlamentar, mas manteve-se sobretudo focada em segurar o lugar de terceira força política, olhando “com muita humildade para o que as pessoas decidirão”.

Esse objetivo, explicou, seria “a garantia de haver força à esquerda para debater matérias tão fundamentais como saúde, salários”, mas também para “dar uma lição à extrema-direita“. Esse foi um dos pontos que ficaram claros, com o Bloco a disputar nas sondagens esse lugar com o Chega de André Ventura — e a posicionar-se como oposição a ele.

A outra lição que o Bloco quer dar é ao PS. O terceiro lugar, insistiu Catarina Martins, permitiria ainda “acabar com alguma ponderação que às vezes existe sobre o bloco central”. “Quem não quer premiar a arrogância de António Costa, que quis ir a eleições para ter maioria absoluta, sabe que conta com o Bloco para todas as soluções que contam”. Para chegar a acordo com o PS? “Não estamos à espera de que durante as eleições o PS mostre disponibilidade para um acordo à esquerda, nunca a mostrou em tempo eleitoral”, disse, sugerindo que no pós-eleições a conversa pode ser outra. Mas o bloco central, insistiu, “não é muito diferente de maioria absoluta do PS”.

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Mesmo assim, Catarina Martins ainda disse que estas eleições devem ser sobre “soluções” e que o passa-culpas pelo fim definitivo da geringonça “já foi muito debatido”. “Precisamos de um novo ciclo“. E esse ciclo provará, insistiu, que as medidas da esquerda têm “adesão à realidade” — veja-se as demissões em catadupa nas chefias dos hospitais quando o BE pede a exclusividade dos profissionais e aumentos salariais, por exemplo.

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Na mesma entrevista, a coordenadora do Bloco recordou as posições do Bloco na pasta da corrupção — o partido defende a exclusividade para todos os deputados e a proibição de transferências para offshores porque “não há nenhuma boa razão” para as fazer e Catarina Martins usou João Rendeiro para ilustrar este segundo exemplo. Quanto ao controlo de setores estratégicos, frisou que o Bloco acredita que o Novo Banco devia ser público — permitindo assim que se usassem os seus imóveis para habitação pública — assim como a energia em Portugal, criando-se um programa de desprivatizações por fases, previsto no programa eleitoral do partido.

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Já quanto à vacinação das crianças e à polémica por a Direção-Geral da Saúde recusar revelar o parecer dos técnicos, Catarina Martins admitiu que “houve pelo menos alguma inabilidade” e que os dados devem ser públicos — o contrário “seria ridículo”. “A DGS já veio dizer que tudo será conhecido, como é normal”. Mas não foi bem isso que Graça Freitas e a ministra da Saúde, Marta Temido, disseram esta quinta-feira: a nota técnica da comissão será conhecida, o parecer em pormenor é que não.