João Rendeiro foi detido esta madrugada, por volta das 7h30, depois de estar em fuga desde setembro. Numa conferência de imprensa esta manhã, o diretor-nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves, confirmou que o antigo banqueiro foi detido na África do Sul, onde entrou a 18 de setembro, depois de sair do Reino Unido a 14 de setembro. Rendeiro foi detido na localidade de Umhlanga, perto da cidade de Durban, na costa sul africana, conhecidas pelas suas estâncias balneares e por terem a preferência de surfistas.

Rendeiro reagiu com “surpresa” à detenção. “Não estava à espera”, descreveu Luís Neves, que adiantou que o detido “não usava disfarces, mas tinha muitos cuidados” e estava na posse de uma autorização de residência para aquela país emitida há um mês. O banqueiro estava hospedado num resort de luxo, nesta zona junto à praia, o Forest Manor.

Rendeiro foi detido de pijama e foi para a prisão de camisa cor-de-rosa

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São agora aguardadas as medidas de coação para João Rendeiro, com o diretor nacional da PJ a advertir que se trata de uma “pessoa com grande capacidade económica, o que lhe dá grande mobilidade”, apontando o “enorme perigo de fuga”. Luís Neves disse que a PJ “reforçará a necessidade de aplicação de medida detentiva”, tendo em conta a “personalidade” e o risco de fuga.

“Zona mais rica de Joanesburgo era refúgio habitual, em hotéis de cinco estrelas”, diz PJ

O diretor nacional da PJ não revelou na conferência de imprensa o local da detenção, dizendo apenas que Rendeiro estava detido “muito longe de Pretória e de Joanesburgo”, adiantando que o antigo banqueiro se movimentava antes pela “zona mais rica”, a zona financeira, de Joanesburgo. “Era o seu habitual local de refúgio, em hotéis de cinco estrelas”, detalhou, ao mesmo tempo que afirmou ser “patético” que Rendeiro diga que não estava fugido, já que “tinha muitos cuidados e não circulava livremente nesse país”.

Veja as imagens do hotel de luxo onde João Rendeiro foi detido

O diretor nacional da PJ explicou, aliás, que a fuga de Rendeiro foi “preparada durante vários meses” e que “não só não houve nenhum deslize, como João Rendeiro usou todos os meios tecnologicamente mais avançados — e que custam uma exorbitância — para poder comunicar de forma não detectável”. Luís Neves adiantou mesmo que “a entrevista que deu à CNN aconteceu através de uma forma encriptada que não permitia que qualquer trabalho fosse feito para o localizar” e reforçou: “Tratam-se de tecnologias de meios que não estão ao dispor de forma fácil e são o grande sinal de que João Rendeiro jamais em tempo algum pretendia apresentar-se às autoridades”.

Autorização de residência na África do Sul tem um mês

A escolha de África do Sul por parte de Rendeiro terá tido em conta o “apoio pessoal” que teria no local. A PJ tem informação que o plano do ex-banqueiro seria “esconder-se ali nos primeiros tempos”, tendo em conta esse apoio e “está convencida que, através de algum investimento, [Rendeiro] podia pensar que tinha a possibilidade de não ser extraditado”.

Luís Neves revelou que tinha, entretanto, sido concedida uma autorização de residência a Rendeiro naquele país, cuja emissão data de 10 de novembro. E garantiu que quando a mulher, Maria de Jesus Rendeiro, disse que o marido estaria na África do Sul a PJ já tinha essa mesma informação. A mulher de João Rendeiro “não deu mais nenhum pormenor”, assegurou Luís Neves.

Extradição “é possível” e permitirá prisão efetiva imediata

A Justiça portuguesa já desencadeou os mecanismos de cooperação judiciária internacional para que os tribunais da África do Sul autorizem a extradição para Portugal de João Rendeiro, o que Luís Neves diz que pode acontecer já. “Há possibilidade de extraditar esta pessoa“, adiantou na conferência de imprensa, dizendo que “há mecanismos legais para o fazer” e ainda que “Rendeiro será apresentado às autoridades [judiciais] nas próximas 48 horas” — a CNN adiantou que isso acontecerá na segunda-feira.

Luís Neves afirmou ainda que a PJ está em condições de “ir buscar” João Rendeiro se o ex-banqueiro “for colocado à disposição das autoridade portugueses”, o que ainda não aconteceu. Rendeiro vai permanecer para já sob custódia das autoridades sul-africanas.

“Se e quando for extraditado será para cumprimento de pena porque há decisões que já transitaram em julgado e o condenam a prisão efetiva”, diz ainda Luís Neves. Recorde-se que Rendeiro estava em fuga desde o final de setembro, após ter sido notificado para estar presente no Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa para ser ouvido no âmbito da alteração das medidas de coação.

Justiça duvida que Rendeiro esteja na África do Sul

Maria de Jesus Rendeiro afirmou durante o interrogatório como arguida no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa que o seu marido João Rendeiro estava precisamente no principal país da África Austral. Na altura o Ministério Público e a PJ desvalorizaram a informação dada pela mulher de Rendeiro.

João Rendeiro tem uma pena de prisão de cinco anos e oito meses transitada em julgado para cumprir no âmbito de um processo relacionado com a falsificação da contabilidade do BPP.

Luís Neves diz que “PJ não lava a cara a ninguém”

Durante a conferência de imprensa em que adiantou pormenores da detenção de João Rendeiro, o diretor nacional da PJ foi questionado sobre este desfecho contribui para sanar a má imagem da justiça portuguesa tendo em conta que foi permitido que o antigo banqueiro saísse do país e respondeu que “a PJ não lava a face a ninguém, fazemos parte da justiça”. Ainda assim, Neves admite que a fuga de Rendeiro tenha sido nociva para a imagem do sistema.

As suas palavras foram sobretudo para elogiar a ação da PJ, que classificou de “resiliente”, e da “equipa de trabalho em permanência”, constituída por elementos das unidades de Combate à Corrupção, de Informação Criminal e de Cooperação Internacional que “conseguiu encurtar o caminho para encontrar” Rendeiro.

Também detalhou que foi essencial para a detenção de Rendeiro o encontro que teve com o comissário-geral da polícia sul-africana, general Kehla Sithole, na Assembleia Geral da Interpol, no final de novembro em Istambul. Foi aí que foi facilitado o cumprimento do mandado de detenção internacional, segundo explicou o próprio diretor nacional da Polícia Judiciária.