28 de abril de 2010, perante praticamente cem mil pessoas. Após uma vitória por 3-1 frente ao Barcelona, em Milão, o Inter ia a Camp Nou defender essa vantagem, de maneira a conseguir chegar à final da Liga dos Campeões. De um lado, o Inter de Mourinho, que estava, como depois de se confirmou, a um título de viajar para Espanha e defrontar o mesmo adversário daquela noite de primavera. Do outro, o tal adversário Pep Guardiola e o início do tiki taka. Ambos os treinadores seriam atores principais de um filme que durou alguns anos entre Mou e Pep, Real Madrid e Barça, mas naquela noite, que ficou para a história, era a final da Champions que estava em causa.
Não havia por onde fugir por parte de Mourinho. Bons defesas, Zanetti mais subido como tantas vezes jogou com o português, Sneijder (que época fez) a criar para Eto’o e Milito (tantos golos marcou). Cambiasso mantinha o equilíbrio com Thiago Motta, nascido no Brasil mas com passaporte italiano, pelo que jogou mais de 30 vezes pela azurra. Motta não equilibrou muito tempo, ao ver dois amarelos em menos de trinta minutos, deixando o conjunto de Mourinho com dez homens durante uma hora frente a uma equipa que muitos consideram a que melhor jogou em toda a história. Ou, pelo menos, uma das versões dessa equipa de Guardiola, Messi e, por exemplo, Xavi, o agora treinador dos blaugrana.
O Barça tinha uma hora para fazer dois golos e bem que tentou. Piqué ainda marcou por volta dos 85′, a equipa catalã bem pressionou, mas estava destinado um dos jogos que marcaria a carreira de Mourinho, porque venceu, porque toda a gente se lembra de ver Eto’o praticamente a defesa esquerdo e até pelo festejo de Mourinho quando garantiu o apuramento, tendo sido inclusivamente abordado por jogadores do Barcelona para amainar um pouco os festejos.
E porque importa recontar a versão resumida desta história numa segunda-feira de Roma-Spezia? Mourinho é treinador dos romanos, claro, mas do lado do Spezia, 17.º da classificação, ou seja, a primeira equipa a olhar para os três na zona de descida, estava então no banco um velho conhecido: nada mais, nada menos, que Thiago Motta.
“[Thiago Motta] É um dos meus. Treinei-o nas camadas jovens do Barcelona. Atualmente, Stankovic [Estrela Vermelha, que empatou em Braga recentemente] e Chivu [juniores do Inter] são treinadores e tenho visto o que têm feito. Com o Motta amanhã será diferente porque será adversário. Mas antes e depois tenho muito carinho por ele”, disse Mourinho na antevisão ao Spezia, voltando a falar do plantel que tem e do mercado de inverno que está à porta: “Não estou descontente com as contratações de verão. Foi uma janela de transferência reativa, por isso, não pudemos contratar alguns jogadores. Entendi as dificuldades, quero a melhor equipa possível, mas sei que não faremos um grande investimento. Em janeiro vamos dar mais equilíbrio à equipa, vamos ver o que conseguimos fazer, temos alguns limites, mas, agora temos três jogos pela frente e queremos somar o máximo de pontos possível”.
E tendo em conta que a Roma acabou por ficar em primeiro do seu grupo na Liga Europa, o special one diz não ter equipa para tudo: “Não temos plantel suficiente para jogar em três competições. Jogar mais de dois jogos em meados de fevereiro vai ser muito complicado”.
Foi com o habitual plantel suficiente, com um onze que raramente muda, apenas por lesões ou castigos, já com mais resultados na gestão, que o Olímpico recebeu o Spezia. E era complicado o jogo começar melhor para a equipa de Mourinho. Canto marcado por Veretout, o ponta de lança Abraham consegue apanhar a bola com a cabeça e mais à frente o central inglês Smalling fez o 1-0. Foi aos 5′. E os jogadores não conseguiram proporcionar aos presentes no Olímpico de Roma um espetáculo interessante, não só pela qualidade, que é sempre subjetiva, mas por algo que é mais fácil de descortinar: lentidão.
[Clique nas imagens para ver os golos]
As equipas eram lentas, previsíveis, e mesmo que o guarda-redes do Spezia tivesse feito uma defesa importante, com a equipa de Thiago Motta a tentar chegar ao empate, mas sem fazer muito pelo mesmo, chegaria o intervalo.
Sem grande surpresa, apesar de o Spezia não defender mal dentro do que foi o jogo, a Roma marcou novamente a partir de um pontapé de canto e pela cabeça de um central, com Ibanez a fuzilar Provedel. Estavam decorridos 55′. O Spezia ainda introduziu a bola na baliza de Rui Patrício, por intermédio de Manaj, mas foi assinalada posição irregular após lance avaliado pelo VAR. O jovem Felix Afena-Gyan fez golo a acabar o o encontro, mas afinal tinha dominado a bola com a mão, viu segundo amarelo e foi expulso. Um jogador que estava a animar muito o Olímpico desde que saiu do banco.
Houve abraço forte antes do jogo, cumprimento caloroso a Thiago Motta depois do 2-0. Notou-se o tal “carinho” mas, mais importante, a Roma regressa às vitórias dois jogos depois (perdeu com Bolonha e Inter), chega aos 28 pontos, os mesmos da Juventus, e ultrapassa a rival Lazio e o Nápoles. Está por agora no sétimo lugar. “Vamos ver o que conseguimos trazer”, disse Mourinho sobre uma mercado. E isso pode mesmo dizer muito do que vai ser a segunda metade da época dos romanos… e do português.