Foi sempre um desafio demasiado complexo, teve sempre uma porta aberta para o abismo e acabou esta quarta-feira: Rui Vitória já não é o treinador do Spartak Moscovo. A rescisão por acordo mútuo foi confirmada num comunicado do clube russo que também deixa claro que os restantes elementos da equipa técnica, todos portugueses, também abandonam a equipa.

“Rui Vitória permanecerá para sempre na história do Spartak como o treinador que levou a equipa aos 16 avos de final da Liga Europa no primeiro lugar do grupo. O clube agradece a Rui Vitória por essa conquista. Agradecemos a Rui Vitória e à sua equipa técnica pelo seu profissionalismo e momentos brilhantes na Liga Europa. Boa sorte para o futuro”, pode ler-se na nota, que salienta que a decisão prende-se com a necessidade de “corrigir a posição do Spartak no Campeonato”. Atualmente, o clube de Moscovo está no 9.º lugar com 23 pontos em 18 jogos e a 15 do líder Zenit.

O treinador português tinha chegado ao Spartak Moscovo no passado mês de maio, há cerca de sete meses, e pareceu ter sempre o cargo em risco. Logo à partida, devido aos problemas que existiam entre a mulher do presidente do clube, que se demitiu após a chegada de Vitória, e o diretor desportivo da equipa, sendo que até mesmo fora da estrutura foi tentando bloquear esse mesmo projeto. No seguimento dessa batalha que nunca estancou, entre sucessivas críticas de Zarema Salikhova, Dmitry Popov apresentou a demissão da estrutura do futebol no intervalo do jogo com o Benfica na terceira pré-eliminatória de acesso à Liga dos Campeões, após uma conversa com o líder do clube.

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“Fedun [presidente do Spartak] recusou o negócio do Montiel mas, acima de tudo, fiquei impressionado com a explicação: ‘Esta é a opinião do Tedesco [antigo treinador do Spartak] e concordo com ele’. Também estou cansado de ser constantemente humilhado em público pela esposa do dono do clube. Prometeu resolver esse problema mas nada mudou. Agora entendo: dado que a composição da equipa está a ser consultada com o seu Tedesco preferido, não pode ter mudado. Não suporto uma desconfiança aberta do meu trabalho. A única coisa que me resta fazer nessas condições é ir embora. Se a equipa tem a tarefa de lutar pelo Campeonato, porque é que não confiam no diretor desportivo ou no treinador?”, comentou Popov no seguimento de uma demissão que aumentou ainda mais o clima de ebulição.

Guerras internas, telefones por atender, reforços não pedidos e o apoio da claque: a posição difícil (e isolada) de Rui Vitória na Rússia

Essa falta de ligação e guerras internas foram deixando a posição de Rui Vitória mais isolada, com os dois pedidos que tinha para a equipa, de um lateral e de um médio, a ficarem sem resposta. A gota de água veio no último dia de mercado nos principais mercados, quando tentou falar com o diretor geral do conjunto moscovita, Yevgeny Melezhikov, para perceber se estava em curso algum tipo de operação de última hora para colmatar as carências existentes no plantel mas ninguém atendeu nem teve resposta. Do presidente, que esteve um mês de férias fora do país, idem. E até o responsável pela direção desportiva que irá substituir Popov encontra-se fechado mas apenas poderá rumar ao Spartak em dezembro.

A ideia inicial era mesmo dar os recursos e os reforços necessários ao treinador português para rivalizar com Zenit e demais adversários na luta pelo título mas os problemas internos agravavam-se com o passar das semanas, muitas vezes com a mulher de Leonid Fedun e antiga vice como protagonista (a mesma que, sem que alguma vez a informação tivesse sido confirmada, recorria ao horóscopo para escolher técnicos, algo que não aconteceu com Vitória). Da parte do proprietário, e numa conversa mantida com o treinador português após regressar de férias, ficou o voto de confiança naquilo que será capaz de fazer, sendo que o mercado trouxe apenas a contratação do central Caufriez… Que não tinha sido pedida pelo técnico.

Foi este o caminho até Rui Vitória ficar mais isolado no Spartak, tendo apenas o plantel e os adeptos como apoio para tentar recuperar de um início de época conturbado também dentro de campo — onde só mesmo o apuramento na Liga Europa branqueou de alguma forma os maus resultados internos. Agora, dois dias depois de uma derrota fora frente ao Sochi, o treinador português não resistiu.