O empresário César Boaventura é um dos três detidos pela Polícia Judiciária na Operação “Malapata”, anunciada esta quarta-feira, e que envolve movimentos financeiros suspeitos num valor superior a 70 milhões de euros. César Boaventura foi o empresário desportivo que no início do mês de dezembro pôs uma ação em tribunal contra a SAD do Benfica a reclamar comissão de 10 por cento dos 8 milhões de euros da transferência de Nuno Tavares para o Arsenal.
Segundo o comunicado da PJ, em causa estão crimes de fraude fiscal, burla qualificada, falsificação informática e branqueamento. As autoridades, a Diretoria do Norte auxiliada pelos departamentos de Investigação Criminal de Braga e Madeira e da Unidade de Perícia Tecnológica Informática, fizeram 28 buscas domiciliárias e não domiciliárias, realizadas nos concelhos de Barcelos, Braga, Esposende, Trofa, Vila Nova de Famalicão, Funchal, Benavente e Lisboa.
Uma fonte da PJ explicou ao Observador que esta operação “é uma parte de um processo mais longo, que terá mais desenvolvimentos e que ira envolver diligências no território nacional e no exterior”. Esta quarta-feira foi dia de recolher material probatório e “suster parte de uma atividade”. E que atividade é esta? Segundo a mesma fonte, as autoridades suspeitam de um grupo de indivíduos e de empresários “que se organizaram e disseminam por vários locais do país” permitindo-lhes assim criar uma “rede de contactos” a quem faziam movimentos financeiros como um serviço.
Por outras palavras, esta rede dedicava-se a ocultar determinados valores de transações, entre elas de jogadores de futebol, para que os valores não fossem totalmente declarados em território nacional. Terão havido pagamentos no estrangeiro. O Correio da Manhã fala em nos negócios de Odysseas, Lisandro López, Gedson Fernandes e Nuno Tavares como alguns que estão a ser investigados pelas autoridades.
“A componente desportiva não é a parte maior, mas o que interessa aqui é por exemplo a aquisição desportiva, Parte do dinheiro está a ser declarada”, mas outra não, disse um coordenador da PJ ao Observador.
Em comunicado, o Sporting Clube de Portugal já assumiu que houve buscas esta manhã no clube. ” A Sporting SAD e o Clube não são alvo da investigação, direta ou indiretamente, não têm qualquer relação com o investigado, nem são visados na matéria das buscas. Mais informamos que tudo decorreu de forma célere, tendo a Sporting SAD entregue os documentos que lhe foram solicitados”, lê-se no comunicado.
Houve também buscas no estádio do Benfica, que igualmente reagiu em comunicado: “O Sport Lisboa e Benfica confirma que está a colaborar com as autoridades nas diligências realizadas ao longo do dia de hoje no âmbito de um processo que se encontra em segredo de justiça. O Sport Lisboa e Benfica não é arguido ou sequer visado neste processo, nem qualquer membro dos seus órgãos sociais”.
Foram detidos três suspeitos, entre eles um empresário do sector metalúrgico e um empresário ligado à atividade desportiva que segundo a CNN é César Boaventura.
Na investigação, que contou com uma equipa da Autoridade Tributária e Aduaneira da Direção de Finanças do Porto, apurou-se que “através do exercício de atividade comercial fictícia de sociedades geridas pelos suspeitos, assim como de correspondentes contas bancárias tituladas por terceiros (pessoas individuais e coletivas), em território nacional e no estrangeiro, aqueles lograram criar um intrincado esquema de faturação / movimentação financeira que ofereciam tanto como veículo de branqueamento para terceiros, prestando assim esse serviço ilícito pelo qual seriam remunerados, como para ocultação dos proveitos gerados da própria atividade legítima dos próprios e de terceiros, nos sectores indicados”.
Foram já identificados movimentos financeiros em diversas plataformas, num montante superior a 70 milhões de euros. “A vantagem patrimonial em sede fiscal, estimada, associada ao principal visado, atinge o montante de 1,5 milhões de euros, apenas com base em elementos já confirmados”, lê-se no comunicado.
Na operação foi apreendida documentação diversa relativa à prática dos factos, diversas viaturas automóveis e material informático.