788kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Morreu o ator Rogério Samora. Tinha 63 anos

Este artigo tem mais de 2 anos

O ator português tinha 63 anos e tinha sofrido uma paragem cardiorrespiratória em julho, durante gravações de uma telenovela da SIC. Esteve em coma dois meses e estava internado no Amadora-Sintra.

Rogério Samora teve uma paragem cardiorrespiratória em julho, durante as gravações de uma telenovela
i

Rogério Samora teve uma paragem cardiorrespiratória em julho, durante as gravações de uma telenovela

João Girão

Rogério Samora teve uma paragem cardiorrespiratória em julho, durante as gravações de uma telenovela

João Girão

Morreu o ator português Rogério Samora. Tinha 63 anos, tinha sido transferido esta segunda-feira para o Hospital Amadora-Sintra, devido a febres altas, e estava com prognóstico reservado.

A informação foi confirmada pelo Observador junto de fonte hospitalar. O ator morreu esta quarta-feira às 11h10 no Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, também conhecido como Amadora Sintra.

O velório do ator terá lugar na basílica da Estrela, na sexta-feira, das 18h00 às 22h00, estando em câmara ardente. A missa em memória de Rogério Samora ocorrerá às 11h45, no sábado, e a saída para o crematório de Alcabideche está marcada para as 12h.

O ator estivera em coma, na sequência de uma paragem cardiorrespiratória sofrida em julho durante as gravações de uma telenovela da SIC, “Amor, Amor”. Tinha depois passado para uma unidade de cuidados continuados sem recuperar a consciência, mas voltou a ser hospitalizado no início da semana.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Aquando da paragem cardiorrespiratória, Rogério Samora foi assistido no local das gravações da novela, dando depois entrada no hospital. Ao longo destes dois meses, o primo do ator, Carlos Samora, foi fazendo algumas publicações no Facebook dando conta do estado de saúde do ator consoante informações que ia recebendo do hospital. Durante muito tempo, Samora manteve-se “estável e com o prognóstico reservado”.

Da Casa da Comédia ao pequeno ecrã

O ator nasceu a 28 de outubro de 1958 e  viveu com a avó até aos 7 anos — a infância passada na Graça foi marcante e tema de conversa nas várias entrevistas que deu em vida. Chegou a vender eletrodomésticos, mas foi nos palcos, nos filmes e no chamado “pequeno ecrã” que singrou. Mas antes passou-lhe pela cabeça ser médico, arquiteto e até professor primário. No fundo, “algo em que pudesse ajudar os outros”. O pai, que era preparador de medicamentos, gostava que o filho tivesse estudado Farmácia. Mas foi na representação que Samora trilhou percurso.

Rogério Samora (1958-2021): o ator solitário e das “vidas emprestadas”

Nos últimos anos, participou em várias telenovelas da SIC, como “Nazaré”, “Golpe de Sorte”, “Amor Maior”, “Poderosas”, “Mar Salgado” e “Sol de Inverno”, depois de participações anteriores na estação TVI, em produções como “Destino Imortal”, “Flor do Mar”, “Equador”, “Casos da Vida” ou “Fascínios”.

A estreia em televisão aconteceu na RTP, em 1982, com a telenovela “Vila Faia”, na qual contracenou com Rui de Carvalho, Glória de Matos, Mariana Rey Monteiro e Nicolau Breyner, seguindo-se, ainda na televisão pública, “A Banqueira do Povo” (1993), ao lado de Alexandra Lencastre, Eunice Muñoz, Raul Solnado, Diogo Infante e João Perry.

O percurso de Rogério Samora teve, porém, início no teatro, na antiga Casa da Comédia: fez o curso de Teatro do Conservatório Nacional e estreou-se no final da década de 1970 na peça “A Paixão Segundo Pier Paolo Pasolini”, de René Kalisky, levada a cena na Casa da Comédia, em Lisboa, sob a direção de Filipe La Féria. O desempenho valeu-lhe o Prémio de Ator Revelação, em 1981.

Rogério Samora morreu aos 63 anos

© João Girão

O ator trabalhou com vários encenadores, como Fernanda Lapa — em “Medeia é bom rapaz”, de Luís Riaza, “As Bacantes”, de Eurípides, e em “Sétimo Céu”, de Caryl Churchill —, com Artur Ramos, em “A Castro”, de António Ferreira, com Luís Miguel Cintra, em “Cimbelino”, de Shakespeare, e com Solveig Nordlund, em “Traições”, de Harold Pinter.

No cinema conta com mais de meia centena de títulos, desde “Le Soulier de Satin”/”O Sapato de Cetim” (1985), de Manoel de Oliveira, com quem também fez “Os Canibais” (1988), “A Caixa” (1994), “Palavra e Utopia” (2000), “Porto da Minha Infância” (2002), “Quinto Império” (2004) e “Singularidades de uma Rapariga Loira” (2009), além de “Party” (1996), que protagonizou com Michel Piccoli e Irene Papas.

Ainda no grande ecrã, trabalhou com os realizadores José Álvaro Morais, João Mário Grilo, João Botelho, Manuel Mozos, Miguel Gomes, António-Pedro Vasconcelos, Maria de Medeiros, Luís Filipe Rocha, Margarida Cardoso, Rosa Coutinho Cabral, José Fonseca e Costa, Joaquim Leitão, Raoul Ruiz e Jorge Cramez, em filmes como “O Bobo” (1987), “Aqui d’El-Rei” (1992), “Adão e Eva” (1995), “Sinais de Fogo” (1995), “Jaime” (1999), “A Falha” (2002), “A Corte do Norte” (2008) e “As Mil e Uma Noites” (2015).

O regressado, o delfim ou o imortal: Rogério Samora em seis papéis no cinema

O cineasta Fernando Lopes dirigiu-o em “O Delfim” (2002), adaptação do romance de José Cardoso Pires, em que contracenou com Alexandre Lencastre, desempenho que lhe valeu uma nomeação para o Globo de Ouro SIC/Caras de Melhor Ator (2003). Em 2019, participou no filme “Amadeo”, de Vicente Alves do Ó, com estreia prevista para o ano passado, adiada, entretanto, devido à pandemia.

Distinguido com vários prémios, Rogério Samora recebeu em 2010 o Golfinho de Ouro de carreira, do Festival Internacional de Cinema Festróia, de Troia. Na altura, quando completava 30 anos de carreira, a diretora do certame, Fernanda Silva, justificou a atribuição, recordando que Rogério Samora tinha já interpretado mais de 150 personagens, entre filmes, séries e novelas.

Marcelo Rebelo de Sousa recorda “um intérprete de eleição”

O Presidente da República divulgou uma nota de pesar a propósito “da morte precoce de Rogério Samora”, tido como “um dos mais carismáticos atores da sua geração”. Para Marcelo, esta “é uma grande perda para os seus familiares e amigos, mas também para o público português de teatro, cinema e televisão, que nele encontrou, há décadas, um intérprete de eleição”.

Marcelo destaca ainda a “presença forte” e “afirmativa” de “um ator que deixou marca em particular no registo por natureza mais perene, que é o do cinema, o que permitirá às gerações futuras entender a admiração e a estima que por ele tiveram os espetadores do nosso tempo”.

Ministra da Cultura destaca “dimensão humana e solitária” de Samora

Também para a ministra da Cultura, Graça Fonseca, este “é um dia muito triste para a cultura portuguesa”. “O Rogério Samora deixou-nos mais pobres e certamente a todos mais tristes.” Em declarações à Rádio Observador, a ministra enfatizou a longa carreira do ator, mas também o “percurso extraordinário” pelo teatro, cinema e ainda pelo mundo da poesia.

Morte de Rogério Samora. “Dia muito triste para a cultura portuguesa”, admite Graça Fonseca

Recordando que a primeira memória do ator foi aquando da participação deste na telenovela “Vila Faia”, da RTP, destacou também os “papéis extraordinários” e o facto de Samora ter “trabalhado com os maiores nome da cultura portuguesa”, incluindo o realizador Manoel de Oliveira, mas também “os maiores encenadores do teatro em Portugal”.

Graça Fonseca dedicou ainda algumas palavra à “dimensão humana e solitária” do ator, sobretudo “nos piores dias da pandemia, com um impacto muito forte no sector da cultura” — dimensão essa “que está a par com o seu talento que ao longo de 40 anos foi tão presente na nossa vida”. A ministra falou ainda na qualidade de cidadã, admitindo ter uma “enorme admiração e carinho” pelo ator.

“Era um ator excecional. Merecia ter feito uma carreira internacional”

“Um ator excecional”. É assim que o recorda o cineasta António Pedro-Vasconcelos, que dirigiu Rogério Samora em três filmes nos anos 1980 e que reagiu à notícia da morte do ator em declarações à Rádio Observador.

“Uma notícia destas deixa-nos sempre em choque. Apesar de desde setembro as esperanças de recuperação infelizmente serem poucas, é sempre uma surpresa e um choque”, apontou o realizador, lembrando que realizou “de seguida” três filmes em que Samora participou: “Aqui d’El Rei”, “Jaime” e “Os Imortais”.

Não voltámos a ter a oportunidade de trabalhar juntos, mas naquela altura — estamos a falar dos anos 80 — era um dos três ou quatro atores portugueses que eram atores de cinema. Os outros eram o Nicolau Breyner, o Joaquim d’Almeida e o Pedro Efe”, referiu o cineasta.

Recordando que naquela época “a maior maior parte dos atores naquela altura tinham uma formação muito mais teatral”, António Pedro-Vasconcelos vinca que Samora era diferente: “Tinha a noção clara daquilo que era filmar. Ainda não havia as telenovelas mas ele tinha a noção de como era filmar no plateau, se as câmaras estavam em grande plano, se estavam a filmá-lo em movimento, se estavam em plano geral”.

[Pode ouvir aqui as declarações de Nuno Artur Silva:]

“Um ator com entusiamo e energia”

Naquela época, essa capacidade de Rogério Samora era “muito rara”, nota o realizador. E “surpreendente”, porque o ator “nem tinha muita experiência de cinema”. António Pedro-Vasconcelos recorda ainda a capacidade de Samora para “adaptar-se imediatamente ao personagem”, lembrando o trabalho colaborativo: “Dou sempre alguma liberdade aos atores para poderem improvisar mas ele improvisava sempre na direção certa, surpreendia-nos na positiva”.

É uma pena que não tenha feito uma carreira internacional como merecia — e ainda tinha anos para o fazer. Se houvesse uma indústria de cinema, o Rogério Samora tinha ido muito longe e provavelmente teria feito uma carreira que passaria as fronteiras de Portugal. Ele merecia porque tinha qualidades para isso”, aponta António Pedro Vasconcelos.

Enquanto pessoa, António Pedro-Vasconcelos não deixa de notar — apesar de vincar não ter convivido “muito” com o ator “fora do plateau” — que Rogério Samora era “uma pessoa muito direta, muito franca, nada dissimulada, com uma força de vida extraordinária, com uma energia incrível e com humor — que é uma coisa muito importante”.

Nuno Artur Silva recorda “espírito muito vivo, inquieto, enérgico”

Um ator “extraordinariamente versátil”, um “espírito muito vivo, inquieto, enérgico”, um exemplo “muito singular de dedicação e energia” e alguém com “curiosidade, que perguntava imensas coisas: por exemplo, ‘como faço isto ou aquilo’. É assim que o secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, Nuno Artur Silva, recorda Rogério Samora, que morreu esta quarta-feira aos 63 anos.

O legado artístico é enorme. Felizmente fez muita coisas e se é verdade que o que fez em teatro fica na memória de quem viu [na altura], podemos contar com os filmes que fez para o poder rever. Participou em muitos e bons filmes”, vincou ainda o governante, em declarações à Rádio Observador.

Recordando “a experiência de ter trabalhado com ele” em “inúmeros recitais de poesia, em leituras de poemas, em que organizei e coordenei poemas para ele ler”, Nuno Artur Silva vinca que “havia um lado pessoal de muito entusiasmo e de muita energia posta no que fazia que era contagiante para quem trabalhava com o Rogério Samora”.

[Pode ouvir aqui as declarações de Carlos Avillez:]

“Rogério Samora foi o ator que sonhou ser”

O secretário de Estado elogia ainda o “grande talento” do ator e a sua “capacidade de se transfigurar em muitas personagens”.

Inês de Medeiros: “Um dos atores mais marcantes da sua geração”

Em declarações à Rádio Observador, Inês de Madeiros lembra um ator marcante que dirigiu na curta-metragem “Senhor Jerónimo”, de 1998, e fala na “profundíssima tristeza” de perder “um dos atores mais marcantes da sua geração”.

“O Rogério tinha uma capacidade extraordinária de nos surpreender”, diz, recordando a vez que o ator aceitou participar na primeira curta-metragem que Inês de Medeiros realizou, a mesma que contou com “um elenco luxo”, Samora incluído. “Era a primeira vez que estava a realizar, um stress enorme por ter aqueles atores todos extraordinários e maravilhosos… Depois a forma como o fizeram, a amizade, a entrega, a generosidade…” Realizadora e ator não voltaram a trabalhar juntos.

Rogério Samora. “O mundo das artes fica mais pobre”

“Acho que todos devemos reconhecer a importância do Rogério como ator. Ele conseguia ser bastante camaleónico ao contrário do que aparentava. Era de uma grande generosidade ao mesmo tempo — e com um sentido de humor às vezes surpreendente.” Inês de Medeiros esclarece ainda que o ator participou em vários filmes “do renascer do cinema português” e que o “mundo das artes fica mais pobre” após a sua morte.

Assine por 19,74€

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Assine por 19,74€

Apoie o jornalismo independente

Assinar agora