O BCE manteve as taxas de juro em mínimos, esta quinta-feira, e confirmou que irá terminar em março de 2022 o programa de emergência que foi lançado para atenuar o impacto da pandemia, em março de 2020. Esse programa vai mesmo terminar antes da próxima primavera mas, para prevenir reações indesejadas, vão ser comprados mais 20 mil milhões de euros por mês em títulos, num reforço do programa “normal” de compra de dívida. O banco central mantém a cautela na retirada dos estímulos, apesar de ter duplicado as previsões de inflação, para 2022, em relação ao que foi estimado em setembro – de 1,7% para 3,2%.
Poucas horas depois de a Reserva Federal dos EUA anunciar uma aceleração na retirada dos estímulos e minutos depois de o Banco de Inglaterra subir as taxas de juro inesperadamente, o Banco Central Europeu (BCE) mostra não ter o mesmo tipo de preocupações com a inflação. Ao contrário dos outros dois bancos centrais, para o BCE, liderado por Christine Lagarde, as pressões inflacionistas continuam a ser “transitórias” – uma opinião que a Reserva Federal, por exemplo, já abandonou.
A expectativa do BCE, revelou Christine Lagarde na habitual conferência de imprensa em Frankfurt, é de uma inflação média de 3,2% ao longo do ano de 2022, o que compara com a previsão de 1,7% estimada em setembro. Os preços da energia e dos combustíveis são os principais culpados pela subida da taxa de inflação, para níveis muito acima do objetivo, na opinião do BCE – a expectativa do BCE é que esses preços “normalizem nos próximos trimestres”, mas existe “algum grau de incerteza” a esse respeito, reconheceu.
“O Conselho do BCE considera que os progressos na recuperação económica e no caminho no sentido de cumprir o objetivo de inflação a médio-prazo cria condições para uma redução passo-a-passo das compras de ativos nos próximos trimestres”, afirmou o BCE em comunicado, esta quinta-feira. A taxa de inflação, que o BCE idealiza em 2% no médio prazo, disparou para 4,9% nos últimos meses mas, ao contrário de outros bancos centrais, o BCE continua a defender que esta subida da inflação se deve apenas a fatores “transitórios” que irão normalizar-se por si mesmos, sem necessidade de serem combatidos com um eventual aperto da política monetária.
Numa fase em que vários países europeus estão novamente a avançar com medidas restritivas, de combate à pandemia, o BCE diz que “à luz da atual incerteza, o Conselho do BCE necessita de manter flexibilidade e opcionalidade na condução da política monetária”.
Questionada sobre o contraste com as medidas que estão a ser tomadas nos EUA e no Reino Unido, Christine Lagarde recusou que se possa fazer comparações porque esses dois países chegaram à crise (pandémica) em situações muito diferentes e, uma vez confrontadas com a Covid-19, tiveram graus diferentes de “estímulo do lado orçamental”. Daí que, embora a presidente do BCE reconheça que aquilo que acontece nos EUA e noutros blocos pode ter impacto para a economia europeia, não faz sentido comparar as medidas tomadas pelos respetivos bancos centrais.
Sobre as taxas de juro, como se esperava, o BCE não fez qualquer alteração – e a própria Christine Lagarde já disse publicamente, em Lisboa, que “dificilmente” se irão criar condições para uma subida dos juros ao longo de todo o ano de 2022. No que diz respeito à intervenção do BCE nos mercados de dívida, ajudando a comprimir as taxas de juro de estados e empresas, o BCE já tinha um programa em curso – o Asset Purchase Programme (APP), ou Programa de Compras de Ativos – quando a pandemia começou.
Aí, decidiu-se lançar um segundo programa de emergência – o Pandemic Emergency Purchase Programme (PEPP), Programa de Compras de Emergência Pandémica. Esse programa também intervém nos mercados da mesma forma, com a compra de títulos de dívida pública e outros ativos, e foi anunciado com um “poder de fogo” de 1,85 mil milhões de euros.
É esse programa que, como já se tinha indicado, irá terminar em março (embora se mantenha em cima da mesa a possibilidade de ser reativado se houver “choques negativos” na situação sanitária). Porém, em simultâneo, vai ser duplicado o ritmo das compras ao abrigo do primeiro programa, o APP, de 20 mil milhões para 40 mil milhões. Esse será o ritmo das compras no segundo trimestre, baixando depois para 30 mil milhões no terceiro trimestre e 20 mil milhões a partir do início do quarto trimestre.
“A partir de outubro de 2022, o Conselho do BCE irá manter as compras líquidas de ativos a um ritmo mensal de 20 mil milhões por quanto tempo for necessário, para reforçar o impacto acomodatício dos seus níveis de taxas de juro”, diz o BCE. O economista Frederik Ducrozet ilustra, de forma gráfica, a evolução dos montantes adquiridos pelo BCE ao abrigo dos dois programas.
???????? Updated ECB QE projections, assuming the APP continues into 2023 at a €20bn pace. pic.twitter.com/RMOvJ0UAvZ
— Frederik Ducrozet (@fwred) December 16, 2021