Dois anos e meio depois de ter eleito, pela primeira vez, um deputado para a Assembleia da República, o Livre volta a ter a possibilidade de ir a eleições para recuperar o lugar no Parlamento, após a polémica com Joacine Katar Moreira, que deixou o partido sem representação. Rui Tavares, fundador do partido, é vereador em Lisboa e o escolhido para cabeça de lista a Lisboa.

“Não [estou a trair os eleitores], estou a fazer o trabalho de vereador em Lisboa sem pelouro, não merece vencimento, não é desempenhado a tempo inteiro. E isso permite fazer boas sinergias entre a política local e nacional”, justificou o fundador do Livre, argumentando que tendo sido eleito vereador em Lisboa não o impede de se candidatar ao Parlamento.

Rui Tavares disse ainda que desempenhou sempre “os mandatos até ao fim”, prometendo que, “com exclusão de situações imponderáveis”, cumprirá os mandatos que vencer, mas não afastou totalmente uma candidatura às eleições europeias. E garantiu que se for eleito deputado vai cumprir “mandato em exclusividade”.

Rui Tavares, depois da polémica de Joacine Katar Moreira, desvaloriza, dizendo que “os partidos têm problemas” e que “os conflitos existem e continuarão a existir”, dando até o exemplo de outros partidos: “No Livre não correu bem uma vez, no PAN não correu mal duas vezes.”

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O fundador do partido realçou que isso “não apaga que das outras vezes correu bem”. “Não podemos mudar a natureza humana, mas introduzimos uma nova atitude na política [de diálogo], sem exclusão de coisas que possam correr mal”, disse.

Ao lembrar o início dos problemas no Parlamento com Joacine, Rui Tavares apontou ao facto de o próprio partido não saber o sentido de voto no Orçamento do Estado.

“Nunca exigimos mandato de volta e mandato é exercido de forma individual”, assegurou.

Ainda sobre o Bloco de Esquerda e comparando, Tavares assumiu que “de facto há um conflito com Francisco Louçã e outro com Joacine Katar Moreira”. “Não queiram fazer de mim um caso especial, a prática da minha vida tem sido o diálogo e compromisso, mas no caso do BE houve um ataque à minha dignidade”. O fundador do Livre recordou que “fez um pedido de desculpas” e que esse nunca chegou.

O fundador do Livre destacou que, a nível local, o partido já apoiou candidatos do Bloco de Esquerda a até que “na AR houve reuniões enquanto isso foi possível e enquanto havia representação”.

“Quando um partido de extrema-direita atacou a sede do Livre, das primeiras pessoas a aparecer foram do BE, não esquecemos a solidariedade”, fez questão de referir. E foi perentório: “O que aproxima BE e Livre e outros partidos da esquerda é mais do que nos separa.”

“O Livre não é de uma esquerda autoritária, é de uma esquerda libertária”, assegurou o fundador do partido, destacando a ecologia e os direitos humanos, que, sem referir, mostrou haver um distanciamento maior do PCP do que do Bloco de Esquerda.

Num olhar para a Europa, e questionado sobre uma coligação com os liberais como acontece na Alemanha, Rui Tavares começou por dizer que “os liberais alemães são diferentes dos liberais da Iniciativa Liberal”.  O fundador disse que, “infelizmente”, a IL nos Açores “deixou passar” coligação com a extrema-direita e colocou as culpas de uma não conversação entre Livre e IL nas mãos dos liberais, dizendo que estes não aceitariam negociar com socialistas.

“Nós consideraríamos essa possibilidade”, frisou Rui Tavares, dando o exemplo de liberais em vários governos na Europa. Já sobre o PSD, não respondeu, mas enalteceu que “se houver uma maioria à esquerda o Livre estará nela; se a direita ganhar, o Livre será oposição”. “O Livre contribuirá com cada deputado para uma maioria à esquerda”, assegurou.

“O Livre considera que o bloco central é mau para o país. Seja PS e PSD juntos no Governo, seja um Governo apoiado por estes dois países”, afirmou, reiterando: “PS e PSD juntos, com as suas redes de interesse, é indesejável para o país.”

Sobre o programa eleitoral, o partido fundado por Rui Tavares tem como proposta tornar o “comboio competitivo” e, para isso, “investir na ferrovia e subsidiar de forma a que viagens sejam mais baratas do que as de avião”.

“O Livre acredita numa economia mista, com um setor privado dinâmico e apoiar o setor cooperativo e os trabalhadores independentes”, explicou, dando o exemplo da TAP e esclarecendo que “não há preconceitos em relação a nacionalizações”.

Já sobre o horário de trabalho e rendimento básico incondicional, Rui Tavares pretende que haja debate e programas pilotos antes de se avançar.

Questionado sobre se um grande banqueiro pode ter despesas pagas pelo Estado, Rui Tavares assumiu: “Mínimo, a partir daí paga.” “Não acho normal que uma pessoa passe pelo estigma que lhe seja cortado a água ou o gás”, frisou, justificando que “existe em outros países”. “Toda a gente teria um mínimo.”

No questionário das legislativas, Rui Tavares, questionado sobre quem foi o melhor primeiro-ministro, disse que “Maria de Lurdes Pintassilgo foi muito importante” e que “António Guterres foi um excelente primeiro-ministro”, admitindo até que votou nele. “O pior: Santana Lopes é bastante evidente, mas estaríamos a fazer injustiça a Pedro Passos Coelho se não o considerássemos o pior”, frisou.

Rui Tavares não disse em quem votaria caso não houvesse o Livre, mas deixou claro que não votaria em branco. Quanto a pessoas de outro partido que tinham lugar no partido que fundou, Rui Tavares enumera vários: Pedro Bacelar Vasconcelos, Beatriz Gomes Dias ou Ana Gomes.

Rui Tavares frisou ainda que Mariana Vieira da Silva foi a melhor ministra do Governo de António Costa, sendo “alguém que se tem revelado clara” na comunicação. Fracasso político? “Fracasso seria desistir de dar um contributo ao país”, afirmou.