O presidente da Associação Mutualista Montepio Geral, Virgílio Lima, disse na terça-feira, na tomada de posse dos novos órgãos associativos, que quer reforçar a relação com as autoridades de supervisão e a tutela.
Esta tarde tomaram posse os novos órgãos estatutários da mutualista Montepio, depois das eleições realizadas em dezembro, que elegeram Virgílio Lima como presidente até 2025.
Virgílio Lima já é presidente da mutualista desde 2019, quando era administrador e sucedeu a Tomás Correia, que saiu envolto em polémica face a investigações a atos de gestão seus pelos supervisores. Contudo, esta foi a primeira vez que se apresentou aos associados como candidato a presidente.
Na tomada de posse, Virgílio Lima disse que nos próximos quatro anos, a mutualista “deve aprofundar e desenvolver o relacionamento com todas as autoridades de tutela e supervisão”, considerando que é necessário fazer ajustes na legislação para que esta se adapte ao que é uma associação mutualista, “no plano da solvência, no plano fiscal e no plano normativo em geral”.
O objetivo, explicou, é garantir a “não desmutualização e a afirmação do mutualismo”.
Em causa deverão estar alterações ao plano de convergência da mutualista para que fique sob a supervisão da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), nomeadamente quanto à sua duração já que a mutualista deverá precisar de mais tempo (do que os 10 anos restantes) para cumprir os objetivos definidos nesse plano. A mutualista deverá ainda vir a sugerir alterações pontuais ao código mutualista.
Atualmente, a tutela da mutualista Montepio pertence ao Governo, ao Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.
Virgílio Lima falou ainda da baixa participação nestas eleições (participaram apenas 24 mil associados de cerca de 500 mil eleitores), considerando que também são objetivos do seu mandato “uma forte dinamização associativa” e “renovação natural dos associados”.
Segundo o gestor, as saídas de associados que se têm registado resultam, “por um lado, da menor partilha dos valores associativos e, por outro, dos efeitos na confiança provocados por notícias pouco rigorosas e alarmistas”.
Para isso, disse, é preciso “mais formação e informação aos associados”, o reforço das modalidades associativas e também “uma alteração no paradigma de relacionamento com a comunicação social, para que o Grupo Montepio passe a ser notícia por boas razões, de forma pró-ativa e não reativa”.
Além disso, afirmou, é preciso que mais associados se tornem clientes (das modalidades e dos serviços e produtos do grupo) e que mais clientes do grupo se tornem associados, devendo ser passada a mensagem de que o grupo é distinto pela sua natureza mutualista e que também as soluções mutualistas são distintas de outras que há no mercado.
Este é o caminho crítico para um crescimento sustentável, com muito menores custos, em benefício de todos, e que significará uma forte reafirmação dos nossos valores e princípios fundamentais”, disse.
O novo Conselho de Administração, que na terça-feira tomou posse, é constituído por Virgílio Lima, como presidente, tendo como vogais executivos Idália Serrão, João Carvalho das Neves, Rui Heitor e Fernando Amaro. Os administradores não executivos são Alípio Dias e Luís Patrão. A presidente da mesa da assembleia-geral é Maria de Belém Roseira (ex-ministra do PS), enquanto o Conselho Fiscal é presidido por Victor Franco.
Todos estes membros foram eleitos pela lista A, liderada por Virgílio Lima, que nas eleições de dezembro teve 11.557 dos 24.085 votos expressos (47,98%) para a Mesa da Assembleia-geral, Conselho de Administração e Conselho Fiscal para o mandato 2022-2025
Quanto às outras listas que concorreram ao ato eleitoral de dezembro, a lista D, que tinha como candidato a presidente Pedro Alves (atual presidente executivo do Montepio Crédito e administrador não executivo do Banco Montepio), obteve 24,33% dos votos, a lista C, liderada por Eugénio Rosa (economista), teve 15,47%, e a lista B, liderada por Pedro Corte Real (professor do departamento de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa), obteve 10,11% dos votos.
Estas eleições tiveram ainda a novidade de daí sair a constituição do novo órgão associativo, a Assembleia de Representantes, com 30 membros eleitos pelo método de Hondt, pelo que todas as listas têm representantes eleitos. É aqui que serão debatidos e votados documentos fundamentais da vida da mutualista Montepio, como orçamento e plano de atividades, pelo que poderá ter de haver entendimentos entre membros de diferentes listas.
Já para a Assembleia de Representantes, a lista A obteve 47,31% dos votos (11.362 dos 24.016 votos expressos), a lista D 24,23% , a lista C 16,23% e a lista B 10,06% dos votos.
Assim, a lista A elegeu 15 membros para a Assembleia de Representantes (o primeiro eleito foi Vítor Melícias, padre), a lista D sete representantes (o primeiro eleito foi Conceição Zagalo, gestora), a lista C cinco representantes (o primeiro eleito foi Ana Drago, socióloga e ex-deputada pelo BE) e a lista B três representantes (o primeiro eleito foi João Costa Pinto, foi vice-governador do Banco de Portugal e presidente da Caixa de Crédito Agrícola).
Contudo, na terça-feira, João Costa Pinto (lista B) não tomou posse nem tomará, uma vez que há a incompatibilidade de ser presidente do banco da Fundação Oriente (Banco Português de Gestão), disse fonte oficial da mutualista à Lusa.
Da lista D não tomou na terça-feira posse Eduardo Teixeira (deputado do PSD) devido a eventuais incompatibilidades que estão a ser analisadas, segundo explicou Maria de Belém na cerimónia. Fonte oficial da mutualista não indicou os motivos da incompatibilidade por o processo estar em análise, mas segundo informações obtidas pela Lusa em causa está o facto de ser trabalhador de outro banco ainda que com funções suspensas.
Houve ainda três eleitos da Assembleia de Representantes que não tomaram posse por estarem em isolamento por Covid-19.
A mutualista Montepio tem 600 mil associados e é o topo do grupo Montepio, sendo a sua principal empresa o Banco Montepio. Nestas eleições puderam votar cerca de 500 mil associados.
Contudo, estas foram das eleições menos participadas dos últimos anos, mesmo com a novidade do voto eletrónico.
Nas eleições de 2015 votaram 52,5 mil associados, nas eleições de 2018 votaram 42,5 mil e já nas eleições do mês passado votaram pouco mais de 24 mil associados.