O ano não começou da melhor forma para o Sporting de Rúben Amorim, que fora derrotado no campo do Santa Clara por 3-2, no primeiro jogo da I Liga em 2022, perdendo não o comboio do título, mas, para já, apenas a carruagem da liderança, onde ficou sozinho o FC Porto. Na tarde deste domingo, em Vizela, o Sporting queria colocar a pressão no dragão, fugir do Benfica (que empatou em casa com o Moreirense) e, segundo o seu treinador, estar melhor no que é, afinal, o mais importante: marcar mais em menos chances, sofrer menos nas oportunidades adversárias.

Mas Rúben Amorim, na antevisão do encontro, explicou isto melhor do que ninguém, nomeadamente o que queria do seu conjunto e esperava dos 90′ em Vizela, no começou da segunda volta da I Liga: “O Vizela está melhor, está mais habituado ao momento, não é a estreia na I liga, fizeram bons jogos, cresceram com o tempo, e o Sporting também cresceu, jogamos de forma diferente em certos aspetos”. Acrescentou o treinador leonino que era importante “jogar melhor, aproveitar melhor as oportunidades, não deixar tanto os adversários chegarem” à área do Sporting e também “relembrar” que a equipa sofreu “tantos golos em duas jornadas do que no resto das outras jornadas”. “Isso são sinais para os quais temos que olhar”, disse ainda.

“Todos os jogos são perigosos. Os nossos rivais estão fortes, perdem poucos pontos e nós também, temos de jogar melhor. Ter mais agressividade do que aquela que tivemos com o Santa Clara. Qualquer derrota pode fazer abanar os sportinguistas”, acrescentou.

Relativamente à perda da liderança partilhada, Amorim referiu ser “desconfortável” não estar no primeiro lugar da I Liga, estando ainda mais insatisfeito pelo que a equipa podia ter dado (o que, afinal, todos sentem), do que pelo resultado na derrota nos Açores, contra o Santa Clara. “É desconfortável [não liderar]. Não pelo último resultado para o campeonato, porque isso pode acontecer, nós não controlamos o resultado, mas toda a gente acabou o jogo e sentiu que poderíamos ter dado mais. É uma situação nova, de há muito tempo, o ano passado desde a sexta jornada que estivemos em primeiro, mas temos de pensar jogo a jogo, muito ainda vai acontecer neste campeonato. É manter o pensamento jogo a jogo, se o ano passado com 10 pontos não estávamos tranquilos, com três pontos de avanço do primeiro e quatro do terceiro, temos é de pensar em vencer o Vizela”, reforçou sobre a atual classificação do campeonato e o papel dos leões no desenrolar do mesmo, que pode resultar num bicampeonato.

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Outro tema que tem vindo a ser apanágio das conferências de imprensa de Rúben Amorim é Pedro Gonçalves e o jejum de golos do avançado do Sporting, que não marcava há 9 jogos, contando todas as provas. Segundo o seu treinador, o jogador português fez com que as “pessoas se habituassem a que marcasse um, dois golos por jogo”. “Tem de continuar a trabalhar que os golos vão aparecer. O que eu quero é que, como o resto da equipa, ele aumente a agressividade na pressão, porque os golos vão aparecer”, garantiu. E tinha razão…

Já o treinador do Vizela, Álvaro Pacheco destacou que acredita num “crescimento” da equipa para “outro patamar”, um de “regularidade pontual”, após 16 pontos conquistados na primeira volta, o que significa o 12.º lugar da I Liga. “Acredito que vamos fazer uma segunda volta melhor do que a primeira, face ao que a equipa tem demonstrado. A minha equipa não é a mesma de quando começámos o campeonato. A responsabilidade de passar para outro patamar dá-me a convicção de que faremos mais do que 16 pontos”, frisou.

Para tal acontecer e talvez pontuar frente à equipa de Alvalade, Álvaro Pacheco pedia aos seus atletas para serem “muito compactos, inteligentes e focados”. Isto para não permitirem que o Sporting aproveitasse “os espaços que gosta” na largura e na profundidade. Ainda com problemas devido à Covid-19, a equipa do Vizela queria ir ao jogo com tudo.

E acontece que foi.

Dizer que os primeiros 20 minutos foram do Vizela não é falar em massacre ou algo que se pareça, mas num controlo que se pautava sobretudo pelo controlo defensivo. Em 4x3x3, os três avançados do Vizela tentavam impedir os três centrais do Sporting de jogar e, sobretudo, a surpresa Daniel Bragança, que não conseguia pegar no jogo. Com uma linha de três médios, muitas vezes em linha, o Vizela fazia com que os leões não conseguissem jogar pelos médios e tivessem de recorrer à largura, algo que começou a melhorar com o decorrer dos minutos. Principalmente por uma esquerda mais esticada e uma direita em que Sarabia conseguia desviar o lateral para dentro e dar muito espaço a Esgaio.

Mas a primeira situação de golo, contudo, é do Vizela, que durante os primeiros 20′, no seu tal melhor momento, tentava muitas vezes esgueirar-se através de Francis Cann pelas costas da defesa do Sporting. Da única vez que funcionou em pleno, o avançado vizelense, em diagonal da direita para o meio, rematou de pé esquerdo para uma excelente defesa de Adán. Já é um hábito também, o guarda-redes espanhol segurar a equipa nos momentos mais difíceis. Desta vez foi a mão direita, que concretizou e explicou o porquê de chegar esta tarde aos 50 jogos pelos leões.

A partir desses tais 20 minutos e quando Pote se conseguiu aproximar mais de Bragança (o melhor em campo) e Paulinho se tornou mais mexido (Sarabia não estava mal no jogo), as coisas complicaram-se para o Vizela a nível tático. Daí foi um pulo até ao golo, ainda antes da meia hora de jogo. Paulinho, encostado à linha lateral direita, recupera um mau alivio de Ofori, coloca em Pote, Pote dá curto para Sarabia já dentro da área, Sabia devolve curtinho para Pedro Gonçalves e com a sua classe habitual o internacional português matou a fome e fez o primeiro golo do encontro. Acabar com uma seca de golos é sempre bom, mas se pudermos acrescentar um bocadinho de classe, ainda melhor. Foi isso que Pedro Gonçalves fez.

Já em cima do intervalo, o esforçado Vizela, tal como já tinha sido na Taça de Portugal frente ao FC Porto (1-3), surgiu o segundo golo do Sporting. Um passe impressionante de Sarabia desmarcou Esgaio nas costas da defesa da equipa da casa, o lateral coloca de novo no espanhol, que mete na área, Nuno Santos amortece e Daniel Bragança remata em jeito, a bola ainda desvia em Zag e só parou no interior da baliza de Pedro Silva (42′).

Ao intervalo, apesar de uma boa entrada vizelense, a vantagem do campeão nacional era justa.

Quando as equipas voltaram do descanso protagonizaram cerca de dez minutos de loucura. Primeiro, num duelo entre Pedros, o Silva defendeu um remate perigosíssimo de Gonçalves (50′). Depois, o Vizela respondeu com uma grande jogada pela esquerda, mas Mendéz disparou por cima, o mesmo que fez depois Esgaio em posição de golo (52′) e Pote pela direita (56′). Chegados a hora de jogo, o jogo acalmou no sentido em que se foram as oportunidades de golo, mas ficou o controlo leonino. E foi acalmando cada vez mais. E mesmo que a pressão do Sporting não fosse a mesma coisa, a linha defensiva do Vizela continuava a ter de resolver vários problemas. Quer na largura, quer na profundidade.

A intensidade era menor, mas a qualidade dos intervenientes era a mesma, quer com bola, quer sem bola, principalmente do lado dos rapazes de Amorim, que controlavam perfeitamente o jogo. E controlaram até final, vencendo assim para o campeonato pela primeira vez em 2022, deixando o Benfica a seis pontos e colocando toda a pressão do lado do FC Porto. E para a justiça ficar totalmente atribuída, referir que sim. Se o Vizela se demonstrar mais vezes assim, vai fazer mais pontos, apesar de hoje ter caído muitas posições devido aos resultados dos adversários mais diretos. Mas é assim a luta pela descida, com complicações.

Para o Sporting é assim a luta pelo título, com qualidade.