É o segredo “mais sagrado e íntimo” de Gabriel García Márquez. Há oito anos que é considerado apenas um boato, mas a informação veio agora a público, confirmada pelo biógrafo de García Márquez, Dasso Saldívar, que viu a fotografia “comovente” da menina sentada no colo do “pai doce”, avança o jornal El Universal. “Eu nunca vou esquecer o sorriso de felicidade de Gabo, com a sua pequena filha nas pernas”, contou o biógrafo.

Logo após a morte de García Márquez, Dasso Saldívar ligou ao jornalista Gustavo Tatis Guerra — jornalista que escreve a peça sobre o segredo — admitindo sentir receio pela forma como ele seria contado por alguns jornalistas: não queria que se tornasse um escândalo.

O nome de Indira esteve connosco todos estes anos, como o segredo mais sagrado e íntimo de García Márquez. E esperávamos que os anos amadurecessem as palavras para contá-lo”, lê-se na peça.

Chama-se Indira, provavelmente devido à admiração do escritor pela política indiana com o mesmo nome – a primeira-ministra Indira Gandhi, que foi assassinada em 1984. García Márquez nunca esqueceu que tinha uma filha e ter-lhe-à oferecido uma casa numa área agradável e um carro. “No México sabem que ela é filha de Gabo, mas todos respeitam a sua vida privada”, sublinha o amigo de longa data Guillermo Angulo, ao mesmo jornal.

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Já o apelido é Cato, da parte da mãe. A mãe é a jornalista e escritora Susana Cato, que escreveu com García Márquez, entre outros, o roteiro do filme “Con el amor no se juega’” (1991) e, em 1996, entrevistou-o para a revista Cambio, tendo intitulado a reportagem como: “Na Colômbia, o escritor não tem escolha a não ser mudar de profissão”.

Indira Cato, tal como o pai, veio ao mundo para contar histórias: é produtora cinematográfica e, em 2020, ganhou mais de quinze prémios com o seu primeiro documentário “Llévate mis amores”, de 2014. Atualmente, está a realizar o documentário “Las hijas del maiz”, e é sobre um grupo de parteiras de Chiapas.

Na foto revelada pelo jornal vê-se uma jovem de sorriso rasgado e cabelo escuro. “Indira herdou do pai as sobrancelhas negras e o olhar profundo de quem atravessa as coisas só com o olhar”, descreve a peça. A idade deve rondar os 30 ou 32 anos, acrescenta Guillermo.

O escritor de “Cem anos de solidão” foi casado com Mercedes Barcha durante mais de 60 anos, e tiveram dois filhos, Gonzalo e Rodrigo. Segundo Tatis Guerra, Barcha terá desconfiado que algo aconteceu entre Susana e o marido, mas a mulher optou sempre pela discrição e pelo silêncio. No entanto, a revelação da existência de Indira abalou (inevitavelmente) a família, que manterá contacto com ela apenas para os procedimentos jurídicos necessários.

Em tom de presságio, são relembrados dois episódios com o prémio Nobel da Literatura. No ano de 1985, a jornalista María Elvira Samper, da revista Semana, perguntou a García Márquez se ele tivesse uma segunda oportunidade na vida se voltaria a ser o García Márquez, à qual respondeu: “Voltaria a fazer tudo exatamente igual, menos duas coisas: nunca sairia da Colômbia e teria uma filha”. Numa outra conversa, o jornalista que revelou o segredo conta que num almoço perguntou ao escritor que nome daria ele à filha. “Virginia”, referiu, em homenagem à”Virginia Woolf”.