Os presidentes de grandes companhias aéreas americanas de passageiros e carga alertam para o risco de uma “crise catastrófica” na aviação que pode rebentar nas próximas 36 horas em resultado do arranque do novo serviço de 5G nos Estados Unidos.
As transportadoras avisam que a prestação deste serviço numa nova banda de frequência que deverá arrancar esta quarta-feira pode obrigar a deixar em terra um número muito significativo de aviões de grande dimensão (wide bodies) devido a eventuais interferências com os instrumentos mais sensíveis destas aeronaves como altímetros, que servem para medir a distância em relação ao nível do mar, e prejudicar de forma grave as operações feitas com baixa visibilidade.
Os presidentes executivos da American Airlines, Delta, United Airlines e Southwest, entre outros gestores do setor, escreveram uma carta, divulgada pela agência Reuters, na qual sublinham os riscos e as consequências.
“A não ser que os nossos maiores hubs tenham luz verde para operar, a maioria das viagens e transportes de cargas podem ficar no chão. (…) Isto significa que num dia como o de ontem mais de 1.100 voos e 100 mil passageiros podem ficar sujeitos a cancelamentos, desvios ou atrasos”, refere a carta citada pela Reuters.
Também o regulador da aviação, a Federal Aviation Admistration (FAA) avisou para potenciais interferências que podem afetar instrumentos essenciais para a navegação aérea. As companhias aéreas ainda estarão a ponderar se vão começar a cancelar alguns voos internacionais que estão programados para chegar aos Estados Unidos esta quarta-feira.
“Com as restrições propostas em aeroportos selecionados, a indústria da aviação está a preparar-se para alguma disrupção nos serviços. Mas estamos otimistas quanto aos resultados do trabalho que está a ser feito com as empresas e o Governo para finalizar soluções que mitiguem de forma segura o maior número de impactos possíveis”, referiu o fabricante americano Boeing esta segunda-feira.
Mas na carta enviada ao diretor do conselho económico da Casa Branca, ao secretário dos Transportes e aos reguladores da aviação e das telecomunicações, as companhias aéreas pedem uma ação urgente. “Para sermos frontais, o comércio americano vai paralisar de forma abrupta”, alerta a missiva que também é subscrita por companhias de transporte de mercadorias como a USP Airlines ou a FedEx Express.
Em causa está um leilão de frequências realizado no ano passado no valor de 80 mil milhões de dólares (70 mil milhões de euros) e que atribuiu o espectro denominado como C-Band. As operadoras que ganharam, a At&T e a Verizon, concordaram em proporcionar uma almofada de proteção em redor de 50 aeroportos de modo a reduzir os riscos de interferências. Também adiaram o desenvolvimento do serviço durante duas semanas até esta quarta-feira.
As operadoras têm argumentado que estas bandas foram usadas com sucesso em mais de 40 países sem interferências na atividade aeronáutica. No entanto, as companhias americanas insistem nas preocupações. Esta segunda-feira, a United Airlines comunicou que este problema poderia afetar 15 mil voos e mais de um milhão de passageiros, acrescentando que enfrenta restrições significativas nos modelos 787, 777 e 737, bem como em aeronaves usados em voos regionais em cidades como Houston, Newark, Los Angeles, São Francisco e Chicago.