“Recebi com enorme satisfação a nomeação mas este é um desporto coletivo, a cereja no topo do bolo é sempre quando ganhamos como equipa. Se me destaquei foi porque fomos campeões do mundo de seleções e campeão europeu pelo Sporting. Se não tivesse tanta qualidade e competência à minha volta nada disto acontecia. Senti-me feliz, orgulhoso. Se também me punha no top 3? Se calhar sim, se calhar não… Pelo correto não colocaria, olhando para o que foi a época sim, não seria de todo errado…”

[Ouça aqui a entrevista de Pany Varela ao “Nem tudo o que vai à rede é bola” da Rádio Observador]

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Em entrevista ao “Nem tudo o que vai à rede é bola” da Rádio Observador, Pany Varela, ala de Portugal e do Sporting, falava com um misto de orgulho e modéstia da nomeação para o prémio de Melhor Jogador do Ano da Futsal Planet, as distinções mais reconhecidas da modalidade. No final, o internacional acabou por ficar na segunda posição atrás do brasileiro Ferrão, no Barcelona, mas nem por isso deixa de ser uma das principais figuras do Campeonato da Europa que arranca esta quarta-feira nos Países Baixos, com Portugal a defrontar a Sérvia no primeiro encontro (16h30) naquele que será também o primeiro encontro de uma grande competição sem Ricardinho, seis vezes melhor do mundo e um dos melhores de sempre.

“Não é estranho, a vida segue… Sabemos da importância que o Ricardo teve aqui e se fosse por vontade nossa e pelo nosso egoísmo ia estar aqui mas foi uma decisão que aceitamos e respeitamos. O grupo está unido, quem cá está vai fazer certamente o melhor que sabe e consegue. Não pensamos nas ausências mas sim no trabalho que os que estão terão de fazer”, referiu. “O reset já foi feito a partir do primeiro dia em que chegámos porque se continuarmos a pensar na festa do Mundial e do Europeu teremos dissabores. Temos de começar de novo a montanha cá de baixo, a olhar para cima, a saber onde queremos chegar e o que precisamos fazer. Devemos aproveitar muito do trabalho que já foi feito mas temos de fazer mais e melhor porque se fizermos o mesmo não será suficiente”, destacou o ala de 32 anos.

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“Há muito tempo que as equipas olham de maneira diferente para Portugal. Ano após ano temos feito boas competições, o mesmo nos clubes portugueses na Liga dos Campeões, e os adversários olham de forma diferente. É motivo de satisfação mas dá mais responsabilidade, é sinal de que fazemos as coisas bem”, salientou, antes de falar também das ambições para a prova e da estreia com a Sérvia. “A grande expetativa é sempre o treino seguinte, o que temos para fazer antes do jogo. Temos de pensar dia a dia, jogo a jogo, corrigir, melhorar e andar para a frente. Para a grande maioria iria ser um jogo fácil no Mundial com eles mas sabíamos que ia ser muito disputado. Este jogo terá uma história diferente, vai ser muito competitivo mas sendo Portugal temos de estar preparados e que no final sejamos nós a sorrir. Queremos ganhar jogo a jogo e competir ao máximo”, referiu, recordando o prolongamento nos oitavos do Mundial.

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“Esta geração vem apoiada das outras que vieram antes. Não foi só esta geração que conseguiu, vamos aproveitando as sementes que os outros que cá passam deixam. O trabalho já tem vindo a ser feito há muitos anos. Líder da equipa? Temos o Matos como capitão, sou suspeito para dizer mas sei que é um capitão exemplar e incrível, mas somos todos um pouco líderes. Sabemos a responsabilidade que temos e sobretudo qual é a tarefa de cada um aqui dentro. Temos estado bem nas competições porque não há ninguém a tentar fazer o papel do outro, cada um faz o seu e é juntando todas essas peças que os resultados aparecem”, frisou, sem esquecer as ausências forçadas que Portugal sofreu.

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“Quem cá fica vamos fazer de tudo para que no final eles possam sentir também alegria porque continuam a fazer parte do grupo. O trabalho continua tudo igual, o Cardinal dava-nos soluções que mais ninguém aqui consegue pelas características que tem mas não podemos ficar a lamentar-nos, cada um pode dar algo à equipa”, sublinhou, ainda antes de Edu voltar a testar positivo à Covid-19 e ficar de fora.

A nível mais pessoal, e apesar de começar a ter mais luzes sobre o futuro, Pany Varela quer sobretudo pensar que ainda tem muito para dar ao futsal. “Sonhava em ser jogador da bola, estaria a mentir se dissesse que sonhava ganhar. Queria ser jogador da bola e viver do meu sonho e estou a conseguir cumprir e penso que estou só a meio do caminho. Inicialmente era o futebol mas quando chego a Portugal e começo a jogar futsal em Vialonga por influência de um primo não quis mais nada. Tive mais oportunidades de futebol mas nunca mais. Futuro? Já tenho melhor essa noção do que quero. Gostava de ficar a fazer algo ligado a crianças, tanto que eu e o André Nabais temos uma escolinha de futsal. Mas não chega. Tenho o 12.º concluído, quero fazer um curso mas ainda tenho alguns anos de futsal pela frente”, contou.

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“Gosto de olhar e pensar sempre que quero ganhar e fazer o caminho por mim, sem comparar com ninguém. Estou feliz no Sporting, concentrado na Seleção, depois logo se vê. O que tenho ainda para fazer? Tudo, tudo… Todos os anos volto ao início da montanha, só assim se consegue manter o nível. Sempre que começo uma competição é como se nunca tivesse conquistado”, concluiu Pany Varela.